TRÊS RESUMOS PARA 'O CAPITÃO DO GANCAÇO'
projeto não-realizado

.1.

O Capitão do Cangaço (sinopse)

título definitivo: "Reinado Sangrento"

Raso da Catarina ao meio-dia – calor insuportável provocado pelo incêndio criminoso de uma casa. Inicialmente os facínoras cercam a casa e disparam contra o proprietário. Impõem o terror num lugar remoto onde a Lei jamais alcança seu braço forte. Atrás dos cangaceiros vem a volante numa marcha nada fácil. Horas depois estão cansados, famintos e sedentos, disputando entre si as últimas gotas d’água de um cantilo que passa de mão em mão. Dois ou três integrantes passam a protestar e a discutir. Intervém o chefe do bando, Capitão Edevino Ferreira da Silva. A ensimesmada esfinge parece um duende das estradas. Através de um emissário – cangaceiro disfarçado de cego – tenta extorquir os comerciantes de um lugarejo que pretende ocupar na madrugada seguinte. E O CONSEGUEM. Ocupam a vila e libertam um preso que não quer sair da prisão.

O destacamento está preparado para recebê-los a bala. Tentam e conseguem atacar de surpresa o lugarejo. Atacam de surpresa depois de chegar sorrateiramente, na melhor tradição do cangaço – antes da hora combinada.

Fazem as melhores estrepolias no povoado, onde são recebidos pelo padre em casa paroquial, onde está escondido o cangaceiro Elétrico, compadre do Capitão do Cangaço.

Também ele era seco como um graveto e não conhecia o repouso. O comandante sente que o grupo escapa-lhe completamente por ter armado um truque que despistava-os entre nuvens de poeira, assaltando e devastando o que encontrasse pela frente. "O poder do cangaço se mede pelo poder de devastação", dizia o Capitão, que não só matava como torturava.

No povoado acorre o destacamento, somente horas após a ocupação, submissa a um anti-herói de mil tropelias.

ELÉTRICO vai ao encontro de sua mulher ATIVIDADE que o aguarda.

Evidentemente, pretendiam fazer ainda muita coisa naquele mesmo dia. A força volante disfarçava-se em trajes de cangaceiros com chapéus e enfeites para confundir os homens da Lei com os bandoleiros. Era o uniforme de luta nas caatingas. Grotescas ironias que se sucedem em alguns dias na vida de um bando de maltrapilhos bandoleiros que roubam cavalos e afundam na vastidão da caatinga e desaparecem do mapa.

Antes disso, porém, divertem-se com o produto do roubo. Orgasmo ruidoso pelos chapadões que parecem ruínas pré-históricas de eras imemoriais – serpenteando a caatinga, homens que mais parecem serpentes são afinal dizimados pela investida vitoriosa das forças da Lei que lhes vêm no encalço.

ELÉTRICO está perto dali e ouve os tiros.

Invade a casa do coitado sobre quem vinha recaindo a suspeita.

Tenta fazer justiça com as próprias mãos mas atividade pede clemência.
Fim



.2.

O Capitão do Cangaço

Resumo do argumento de Rogério Sganzerla

Poeira – a princípio só poeira – uma nuvem de pó: cobre tudo. o vento assovia e redemoinhos de pó se levantam da terra calcinada, cheia de pequenas pedras, em chicoteios furiosos no tabuleiro e chapadões ao fundo, onde se divisa uma cruz rústica e cavaleiros atravessando a caatinga. O Capitão do Cangaço era seco como um graveto e não conhecia o repouso e o sono!

Em primeiro plano, resquícios pré-históricos de uma cidade petrificada, tão tosca quanto os personagens – cangaceiros encarnando a luta do homem contra o destino – que atuam como ninguém neste produto acabado do laboratório cultural sertanejo...

No tempo em que o sertão era sertão, quadro arqueológico da sociedade brasileira, dominado pela esfinge lendária de um Deus cego do Sertão – o capitão de um grupo de cabras cangaceiros quase sem armas, esfaimado e rasgados pela vegetação agreste, sem comer desde o dia anterior...

Perseguidos por um destacamento policial que segue seu rastro, palmilhando os poucos rastos de penosa marcha de vaivém e caminha na trilha dos perseguidos com passos vigiados, mais parecem duendes das estradas impossíveis, assombrações míticas da catinga, onde os fenômenos naturais se transformam em lendas, atravessando gerações inteiras e desvendam uma face armada de nossa história recente.

Tomando conhecimento da direção em que se acham os cangaceiros, o destacamento policial palmilha seus rastros à procura de possível "coito" (esconderijo) e tenta sitiá-los nas imediações para fazer penetrações de surpresa sobre o apertado cerco. Recorrem a todos os esforços imagináveis naquela marcha macabra que não anda fácil para ambas as partes, perseguidos e perseguidores, pois viajam noite e dia sem parar, tendo se acabado as poucas provisões que traziam consigo... A fome é negra e o pau comia de todos os lados, tendo de agir com a maior cautela para tirar o melhor partido possível. Nesta luta sem quartel as peças chaves são os rastejadores (segmento ininteligível) sob o sol escaldante.

– Vamos parar pro descanso!

Antes de preparar alguma tropelia e aterrorizar a população amedrontada dentro do próximo povoado, o capitão se define como um ser de contrastes, diapasão extremado e do tipo oito ou oitenta...

É uma figura ímpar na história universal do banditismo e não há quem ofereça contraste à maior vírgula de nossa história.

– SÓ ERA BOM QUANDO QUERIA SER BOM...

QUANDO QUERIA SER RUIM NINGUÉM COMETIA MAIS MALVADEZA DO QUE SUA FIGURA TENEBROSA... E FAZIA AS COISAS DE SOPETÃO SEM SE IMPORTAR COM AS CONSEQÜÊNCIAS... NESSAS HORAS ELE ERA UM RAIO DE PERIGOSO.

SE TEM QUE MATAR MATE LOGO... PARA MIM TANTO FAZ UM COMO MIL... É A MESMA COISA

VAMOS ABRIR NO OCO DO MUNDO PARA MORRER OU MATAR!


.3.

O Capitão do Cangaço
(Voodoo Chile)

Argumento de Rogério Sganzerla

Apresentação: caatinga imensa e seca no alto-sertão.

No tempo em que o sertão era sertão, quadro arqueológico da sociedade brasileira (a princípio, só poeira, uma cruz e quatro cavaleiros).

Uma nuvem de poeira cobre tudo, próximo a uma cidade petrificada indicada pela pedreira encimada por um rústico cruzeiro – tão tosco quanto os personagens que atuam nesse produto acabado do laboratório cultural sertanejo.

A esfinge lendária de um Deus vesgo do sertão retira o chapéu de cangaceiro, persigna-se e atira uma pedra na estrada. Suas mãos compridas, parecendo garras, protegem o olho direito onde repousa um óculos de aro de ouro e lentes coloridas que rebrilham junto às mãos cheias de anéis de jóias falsas e verdadeiras. Seu tórax está guarnecido pelas mal-providas cartucheiras e sob a calça de brim e o paletó de riscado claro se divisam as medalhas, santinhos de padre Cícero, além de um punhal e duas pistolas "Parabellum", além de um velho fuzil fabricado no início do século, e que suas mãos ágeis não abandonam – a não ser para ajoelhar-se e orar pelas almas em pleno meio-dia, sob o sol escaldante da catinga...

Inimigos do progresso, perseguidos pela justiça, isolados por estradas impossíveis e sujeitos a periódicas secas, os cangaceiros encarnam como ninguém a luta do homem contra o destino. O vento assovia e os redemoinhos de pó se levantam da terra calcinada em chicoteios furiosos nos tabuleiros chapadões e terrenos duros cobertos de pedras.

Não se trata somente de quatro cavaleiros atravessando o alto-sertão mas o próprio Capitão do Cangaço com 17 "cabras’ preparando alguma tropelia dentro do próximo povoado.

Rogério Sganzerla