O Medalhão, de Gordon Chan

The Medallion , Hong Kong/EUA, 2003

 

Esta incursão bem sucedida de Jackie Chan em terreno americano tem gerado severas complicações para o grande ator, que além de ter uma formula imposta a si, tem tido de trabalhar com pouco espaço criativo. No entanto era de se esperar que O Medalhão talvez fosse um respiro dentro da formula, afinal trata-se de uma co-produção Hong Kong/EUA, onde assim como dois anos atrás ocorreu em Espião por Acidente o filme era produzido com dinheiro americano com garantia de distribuição, mas todo feito em HK. É preciso fazer essa aproximação com a produção para que se possa ver como nem tudo é o que parece – ao contrário do que ocorrera na outra ocasião, se foi dado um roteiro que viria a ser retrabalhado inutilmente (quatro nomes assinam um roteiro que realmente parece ter sido escrito em algumas vagas horas), e um conceito bastante canhestro de unir as acrobacias de Chan com efeitos em CGI, o que acaba tirando boa parte da magia dos movimentos do ator e seus adversários em cena.

Chan tem dois parceiros, um é o atrapalhado Lee Evans (certamente marcado pela maioria pelo papel em Quem Vai Ficar com Mary? ) e a outra a sexy Claire Forlani – e é assim, partindo destes adjetivos que o filme se constrói nas relações. No meio disso, Julian Sands é um cara malvado que quer seqüestrar um menino que é o guardião de um medalhão com poderes sobrenaturais, Chan é um policial que torna-se seu protetor. Busca a ajuda de Evans e Forlani na Inglaterra, até a hora em que vira o superhomem quando o menino lhe passa os poderes do medalhão. O filme caminha razoavelmente bem até ali, o diretor Gordon Chan tem talento para filmar ação, consegue tirar bom proveito até mesmo das cenas mais óbvias, fazendo algumas seqüências muito boas no meio. Ele já havia trabalhado com Chan em Thunderbolt – Ação Sobre Rodas , de 1995, filme que na época fora o mais caro produzido em Hong Kong, e que teve diversos problemas de produção, terminando com três diretores; uma das cenas em particular, que é chave para o filme lembra um bocado uma cena de Thunderbolt , onde a casa de Chan é literalmente erguida e jogada no mar.

O senso de humor de Lee Evans difere muito de Chan, sendo bem mais calcado em tiques particulares e menos naturais, mas funcionais a sua maneira – combina-los não foi uma tarefa fácil, e na maioria das vezes deixando o filme com aspecto um tanto mal elaborado, tendo aí então o personagem de Forlani como ponto mais complicado, mal construído e mal utilizado (inclusive no aspecto malicioso). Quando Chan se torna super herói e vai batalhar com o também poderoso Julian Sands, não a esforço de decupagem que Gordon Chan faça que salve o filme, perdendo boa parte de sua graça (já limitada), numa batalha final sem sal (o que também ocorre pelo vilão ser um personagem de pouca personalidade e interesse).

Restam ainda assim belos momentos como a perseguição na rua no meio do filme, com Chan subindo grades com extrema agilidade em uma seqüência muito bem imaginada, ou a hilária cena onde Chan dança ao som dos Beatles, fazendo com que por mais persistentes que sejam os erros das produções ocidentais com Chan (ressalva aí para os dois Bater ou Correr ), com Jackie em cena existirá sempre a possibilidade de que se retire belos momentos. E também torcer para que o nome de Gordon Chan não se queime pelo mau resultado (tanto financeiro quanto de critica) de O Medalhão , afinal retirar o que ele ainda consegue do material que lhe foi dado já é uma boa amostra de que é capaz de render bem mais.

Guilherme Martins