Parte
8: Comentários curtos sobre outros filmes do ano

EV - Vamos passar para o próximo filme: Dois Perdidos Numa Noite
Suja.
GS - Aproveitando
que se falou em Plínio Marcos, quando falamos no Amarelo Manga,
e se tratando de uma adaptação dele, eu não vi no
Dois Perdidos o menor resquício do universo do Plínio
Marcos. Eu acho totalmente absurda a opção de levar a história
para Nova York, a própria história da personagem feminina...
DC - Eu não
acho não, eu acho natural como uma releitura pro Joffily fazer,
porque para ele soaria muito mais hipócrita querer fazer o Plínio
Marcos como ele mesmo tinha se pensado.
LCO - A questão,
me parece, é a gratuidade da deslocação. O que você
vê naquele espaço que ele elegeu para essa nova encenação
que adiciona algo?
DC - Eu acho muito
mais problemática a troca de sexo da personagem. A cidade eu acho
que funciona muito bem, inclusive na proposta de reler o Plínio
Marcos. Ele tirar do lugar original para levar para um outro em que seria
mais compreensível o mundo que ele quer construir no filme dele,
as figuras marginais, isso eu acho natural. Agora, trocar o cara pela
menina eu acho uma falha - ainda mais porque troca por uma menina para
ela ter que se passar por homem.
RG - Mas o filme ganha
em tensão sexual em momentos. Mas a chave do filme me parece não
ser comparar com o Plínio Marcos, e sim ver onde ele se distancia
do texto e o que ele tenta construir para além dele. E, se formos
jogar para esse lado, temos a carreira de rapper da menina, que é
o que o filme acaba tendo de pior dramatizado, de mais mal dirigido. Vemos
repetido o que acabamos de falar do Murillo Salles: parece um cineasta
filmando um universo com o qual não tem a menor intimidade, a menor
relação. E mesmo a Débora Falabella, que já
comprovou ser boa atriz, não ajuda no papel - não sei inclusive
se ela tinha o tipo físico para tal. A apresentação
na praça e a tentativa de trabalho no bar não funcionam
de forma nenhuma, não mostra o porquê de ser interessante.
LCO - As cenas de
estúdio me parecem frias também...
DC - Não sei,
eu concordo com o Ruy que a parte do rap é bem fraca, mas eu acho
que nas cenas entre os dois o filme funciona.
RG - E eu acho um
problema tentar entender estas adições - porque ela vai
tentar ser rapper? E me parece, de novo, um cineasta tentando criar uma
chave de ligação com a atualidade por um enorme clichê
de modernidade, que ele nem precisava, nem consegue dominar. É
uma tentativa de aprofundamento de personagem que, a meu ver, cai no vazio.
EV - E Durval Discos?
Eu gosto bastante da primeira metade, onde o filme tem uma energia verdadeira
com os personagens. Enquanto o Ary França e a Etty Fraser trabalham
no registro cômico, que eles dominam, o filme funciona. Agora, eu
acho um enorme equívoco de conceito querer se ligar a uma idéia
de um espaço geográfico-físico que seria decadente,
o da loja de LP, o bairro de Pinheiros, porque o filme justifica assim
o que acontece com os personagens, mas ele nunca inclui de fato aquele
entorno na narrativa. Isto está muito mais como conceito, aparece
no final com a casa demolida, mas nunca faz diferença para o filme.
Então, desconsiderando esta parte, eu gosto é do jogo dos
afetos, da relação mãe-filho, com a chegada da garotinha,
até o passeio de carroça por SP, que me parece adorável,
eu gosto daquilo tudo. No entanto, quando ele nega isso tudo para abraçar
aquela idéia que vem de fora do filme, de criar um segundo movimento,
um lado B, eu acho tudo errado.
RG - O filme é
engraçado, porque ele começa me vendendo um filme sobre
as relações familiares, que o Ary França é
um sujeito solitário que espera que aconteça alguma coisa
na vida dele, a Marisa Orth aparece com algum interesse que sua vida convirja
para aquela casa, a mãe tem suas peculiaridades. Aparece a Letícia
Sabatela, que também tem um monte de convergências possíveis
com o Ary França, e de repente, quando ela desaparece, vai junto
todo meu interesse pelo filme que eu estava assistindo. E aí ele
se torna mais desinteressante para mim a cada nova descoberta: que a mulher
é uma sequestradora, que tem uma menininha, depois um cavalo, uma
charrete, etc.
DC - Eu queria comentar
como eu acho que faz mal aos filmes levar fé nessas indicações
de oficinas de roteiro. Você pensar o filme na fase de roteiro é
algo absolutamente saudável, mas este método gera um engessamento.
Parece que o filme está de joelhos para o que está no papel.
LCO - Você consegue
ver os papéis do roteiro na tela.
RG - O filme perde
tom o tempo todo.
DC - É essa
coisa do roteiro genial. Não parece um roteiro de verdade, e sim
que tem um monte de amarras que não amarra nada. Mas em Sundance
parece que eles gostaram...
LCO - E tem uma coisa
de mise-en-scène que me incomoda muito, que é ver certos
planos-sequência no cinemascope, e isso não me passa nenhuma
idéia de ser uma opção conceituada de mise-en-scène.
Às vezes o filme parece perdido, um pouco.
DC - Tem um uso do
cinemascope que é feito pra passar na TV, onde os personagens não
se afastam para não saírem de quadro na tela pequena.
CE - Ao contrário
do Valente, para mim o filme não tinha que sair da casa, e sim
se trancar lá. Porque as duas questões que em agradam são
o dentro e o fora, onde tudo que venha de fora da casa vai acabar com
a ordem da casa - seja a empregada, seja a criança, seja o cavalo,
seja a Marisa Orth. Tudo que entra destrambelha aquela harmonia da relação
umbilical.
RG - Eu não
chamaria de harmonia.
CE - Uma harmonia
da convivência do cotidiano. Não há, pelo menos, nenhum
grande conflito ali. Há uma casa que parou no tempo, tanto o filho
como a mãe - as referências dele são todas dos anos
70. Essa tensão entre o dentro e o fora me agrada muito, e quando
ele enlouquece eu acho ele absolutamente coerente com a maneira pela qual
ele vinha se construindo até então. Aquela casa onde nada
acontece e ele deixa não acontecer, você leva um tempo para
entender do que trata o filme exatamente. Agora, eu gosto realmente é
da maneira como a câmera percorre aquela casa e me faz acreditar
que ela existe de fato. Todo o trabalho de descrição do
ambiente interno é muito bom, a cenografia (e eu geralmente me
aborreço com cenografia) está perfeita, a casa parecia pronta
para ser filmada. E gosto muito dos parênteses do filme, como a
música que ele coloca e dança com a menina, ela percorrendo
a casa com um triciclo. Eu gosto dos momentos em que o filme pára
e faz um momento de afeto com o personagem. Agora, assim como no filme
do Cláudio Assis, eu acho que esse filme também não
está fechado no que se propõe. Eu não entendo de
todo algumas coisas, principalmente se o que é o medo do fora e
do presente do Ary França, e qual a posição da Anna
Muylaert quanto a isso. Não vejo muito claro qual a posição
do filme sobre isso. Vejo os personagens e suas motivações,
mas não consigo ver a da diretora. Claro que há um comentário
de reprovação no final, com a destruição da
casa e a construção inicial de prédios no lugar.
RG - Não existe
uma consistência, ele se constrói de um ponto de vista cego.
CE - É aquela
mesma história: me parece que ela tinha mais coisas a dizer do
que o que foi colocado no filme.
DC - E Desmundo?
É outro roteiro aprovado em Sundance... que eu acho que resulta
engessado e sem muito ganho por isso.
CE - No Desmundo,
acho que a qualidade maior do filme é a de não fazer a coisa
caipira de mostrar "olha, fizemos uma reconstituição de
época!". Isso está naturalizado e o que interessa é
a relação entre os personagens. Agora, para mim funciona
plenamente, eu creio que estamos no início do Brasil. O que geralmente
é um problema no filme de época, onde a câmera vai
rodar o cenário para mostrar a pesquisa que fizeram sobre os objetos,
e as roupas.
RG - De fato, isso
eu acho bom no filme, mas só isso. A direção também
não é ostentatória, mas a intriga em que o filme
insiste em me fazer acreditar não acontece. Eu acho que as privações
da mulher são uma questão mal resolvida no filme.
DC - E a trama é
estruturada de forma truncada, parece automática.
EV - Este é
um problema do filme, mesmo que eu goste dele. Eu não li o livro,
mas tenho a impressão de que ele filmou um livro que é impossível
filmar no tempo de filme que ele queria fazer. E aí o filme tem
uma série de coisas que ele não quis abandonar, mas que
se ele queria filmar aquele livro neste tempo, era necessário que
abrisse mão de certas linhas narrativas, de certos momentos. Com
isso o filme começa a atropelar algumas coisas para chegar à
conclusão da história, e com isso perde bastante em força.
Por vezes acho que ele se alonga em coisas menos necessárias, em
outras corre demais.
LCO - Eu acho que
falta no filme tornar a narrativa envolvente de alguma forma. Ele cria
atmosfera, OK, se você quiser pode entrar no clima do filme, mas
tem uma coisa aí de historiografia contemporânea a partir
dos não-eventos, de uma História que se constrói
menos pelos grandes atos políticos e mais nos costumes, nos hábitos,
do modo de comer, as pessoas têm pêlos, dentes sujos, mas
isso por si só não cria um filme.
RG - Engraçado,
eu acho que explorar os gestos mínimos dá sim um filme.
Só que neste filme isso é apenas indicial, não vejo
interesse verdadeiro nisto. Desmundo não parece muito com
a produção cinematográfica brasileira, e sim com
um trabalho como A Viúva de Saint-Pierre, ou filmes da tradição
francesa de filmes de época, onde você não consegue
perceber no diretor o domínio sobre alguns assuntos até
importantes sobre os quais você tem algo a dizer, e tem-se um resultado
final onde fica mais a beleza de certos dispositivos do que uma força
real.
EV - Eu acho que o
problema é menos de ter o que dizer e mais de outra ordem. Eu fui
ver o filme pela segunda vez, depois de ter gostado pelos aspectos que
já mencionei, e aí uma coisa me incomodou: ele seria um
filme de "não-eventos", mas, se é este o caso, acontece
coisa demais nele. E, se fosse um filme onde acontece coisas demais, tem
tempo morto sobrando. Então, o filme encarna essa dualidade, e
isso cria um desconforto de ritmo mesmo no espectador, que pode não
conceituar exatamente que é daí que vem uma certa estranheza
desta ordem, mas é. Agora, eu acho que o Fresnot tem sim paixão
e interesse em dizer algo, e basicamente isso está no estupro e
no nascimento no final, que é a idéia de que o Brasil já
nasceu por conta de um ato de violência e opressão numa terra
de expatriados. Só que eu acho que a carreira do Fresnot não
indica que ele teria a índole ou a mão para construir esta
história na base dos não-eventos que ela pede - isso nunca
foi a "dele" nos filmes anteriores. Claro que ele podia até acertar,
mas eu acho que o filme é bastante truncado entre intenção
e resultado - e eu digo isso gostando dele.
DC - E o desenvolvimento
dos eventos me parece bastante grosseiro, como se no roteiro ele dissesse
"bom, aqui eu preciso de tal coisa acontecendo", e aí esta coisa
pula na tela.
LCO - Na verdade há
uma diferença entre narratividade mínima e minimalismo narrativo.
Você pega um filme de um Hou Hsiao-Hsien, se você quiser pode
pegar um filme como Adeus ao sul, e é difícil, porque
acontece coisa para cacete. Só que o filme trabalha isso de tal
forma minimalista que a narrativa evolui por sutilezas, criando a impressão
que você não está assistindo muita coisa. No Desmundo
esta sensação não é atingida nunca.
FB - E é aí
que ele se descola do livro. Eu li o livro, e você vê que
todo o trabalho de cenografia vem do livro, que é sim um catatau
bastante grosso. Só que o que em literatura está sempre
em construção pela descrição, etc, no filme
já surge como fato consumado.
DC - E o Casseta?
RG - Bom, ele tem
um personagem baseado em você...
DC - Ninguém
tem mais nada a dizer? Tem uma coisa que eu comentei numa nota no PG,
na época do lançamento, sobre a abertura do filme, em que
os símbolos da Lei do Audiovisual e da BR aparecem ao som da música
da Copa de 70, vocês lembram? "Noventa milhões em
ação/ Pra frente Brasil/ Salve a Seleção...".
Intencional ou não, essa piada é inacreditável, descobriram
o Hino da Lei do Audiovisual!
(pausa)
FB - A gente tem que
falar do Acquaria e dos outros filmes infantis.
CE - Acquaria
é o Mad Max de chupeta e mamadeira! (risos)
RG - E Maria?
CE - De Maria eu
guardo especialmente a hora em que o bispo entra na Igreja e vê
o Padre Marcelo contando a história para a menina. O padre vira
para ele e diz: "Agora eu vou contar a história de quando Jesus
expulsa os mercadores de dentro da Igreja", e o bispo diz "É
a minha sequência favorita". É muita metalinguagem, o
cara que é o grande responsável pelas "Organizações-Padre
Marcelo" dizer que seu momento favorito é a saída dos mercadores
de dentro da Igreja, num filme que ia entrar com duzentas cópias...
RG - Uma cena do Maria
que me chamou a atenção é a festa da transformação
de água em vinho, em que toca música de origem oriental,
o que me lembra sempre a dança do ventre e tem em cena a Giovana
Antonelli. Confesso que O Clone veio logo à memória...
(risos)
EV - Eu queria voltar
ao Acquaria e ao Casseta por causa de um fenômeno
que me parece interessante, e que acho que vale comentar, sobre o qual
eu não tenho muitas respostas, mas eu queria levantar esta bola
até para prestar atenção nela no futuro. Parte do
considerado e considerável fracasso dos dois filmes na bilheteria:
são os dois filmes que tentaram negar no cinema o que os artistas
envolvidos faziam na televisão. Eu acho isso importante de notar,
porque independente de considerarmos o Casseta mal feito, mal realizado,
sabemos que isso não explica fracasso de público - afinal
achamos o mesmo do Sexo, Amor e Traição e ele cumpriu
suas metas. Então, quando eu vi o Acquaria eu achei que
este tema dava pé, porque o fato é que é muito bizarro
que alguém tenha tido a idéia de fazer este filme, e muito
mais ainda da forma como ele está solucionado na tela. O conceito
todo é bizarro demais: vamos pegar Sandy e Junior e fazer o quê?
Ah, uma ficção científica apocalíptica. OK,
e sobre o quê será ela? Sobre a crise hídrica no planeta.
Aí, o filme começa - vejam bem um filme "infanto-juvenil",
mas com um público bastante "infanto" - com um longo discurso de
um cara, colocado sobre imagens da satélites e TV, onde ele discorre
sobre o problema dos "recursos hídricos". E eu pensei: "pobres
criancinhas, elas só querem ver a Sandy e o Junior!"... "Mamãe,
o que são recursos hídricos?"... Agora, tudo bem, isso eu
já sabia sobre o filme, embora me surpreenda o formato, por exemplo,
deste discurso logo no começo, que me parece de fato muleta de
última hora para aquilo que realmente me surpreendeu no filme:
não acontece absolutamente nada no filme inteiro! Não há
antagonista a ser enfrentado, não há trama - trata-se de
um filme de clima, de relação entre quatro personagens,
com a Sandy e o Junior num cenário pós-apocalíptico.
É de uma ousadia, de fato, que beira a insanidade. Só que
eu acho que não é uma ousadia pensada como tal, e sim não
conseguir ver o que se tinha em mãos. Agora, com isso tudo, o que
eu acho é que o fracasso destes filmes somado ao sucesso de um
Sexo, Amor e Traição, que não vem de um produto
originalmente televisivo mas é muito mais de TV do que qualquer
coisa, é muito maléfico a longo prazo, porque toda tentativa
levemente ousada com figuras como Sandy e Junior e Casseta e Planeta resultou
numa impressão de que o problema foi tentar se fazer algo que não
é o que eles fazem na TV - inclusive ignorando que o problema pode
não ser o impulso e sim a realização deste. "Vamos
apostar cada vez mais no certo". Porque mídia tinha...
DC - Parece que no
filme da Sandy teve menos. Houve alguma coisa na hora do lançamento,
a Globo concentrou a publicidade na Xuxa, e o filme foi menos "protegido",
por assim dizer.
FB - Só que
o filme não tem projeto - você pega a Sandy e Junior para
fazer um filme sem "Sandy e Junior"? Para quê?
EV - E eu nem acho
eles maus atores não - melhores do que muitos "profissionais do
riscado" por aí...
FB - Mas você
pega duas figuras que são protagonistas de um seriado infanto-juvenil
de TV, que aparecem em videoclipes cantando e voando em máquinas
voadoras (inclusive a Flávia Moraes dirigiu dois desses clipes
em que eles aparecem voando e parece ser um prólogo do filme) e
você vai criar uma dramaturgia que tenta esconder que aqueles dois
são Sandy e Junior - e ao mesmo tempo de vez em quando enxertar
um videoclipe ali no meio, como que para justificar a presença
deles dois ali? Este projeto, de fato, não existe, é meio
absurdo.
RG - Eu acho que isso
explica por que o filme não deu uma segunda, terceira semana boa
na bilheteria, mas não o porquê da primeira semana já
ter sido ruim.
LA - E esta explicação
que você deu me lembrou muito dos filmes dos Trapalhões...
EV - Pois é,
mas eram outros tempos mesmo. Você vê que hoje em dia o filme
do Didi, da Xuxa, este ano até mesmo o Ilha Rá-Tim-Bum
sofria disso - são cada vez mais rápidos e rasteiros na
realização e cada vez mais grudados na TV. Os filmes do
Didi de hoje nada têm a ver com os dos Trapalhões. E quando
o filme de Sandy e Junior, que segue por este lado, fracassa, você
tem que pensar que agora o negócio é seguir esta fórmula
da TV - você cria uma trama ficcional picareta para encaixar alguns
grupos cantando umas músicas, e gastando o mínimo possível
na realização.
FB - O problema é
quem trabalha no Brasil com gente de mídia, top do universo pop,
por assim dizer, parece trabalhar em duas chaves: uma que é a do
projeto picareta, feito estes citados; ou fingindo que não são
eles. Ninguém consegue chegar e dizer: "eu vou trabalhar com estas
figuras e fazer algo diferente". Como o Roberto Carlos nos filmes dele,
que trabalhavam a figura dele como Roberto Carlos mas não fazendo
um programa igual ao que tinha no ar, o Jovem Guarda.
LA - Mas talvez a
TV não mandasse tanto quanto manda hoje em dia, né...
FB - Eu acho possível
ainda você fazer algo que trabalhe sim a imagem e lembrança
das pessoas do que é "Sandy e Junior" e ainda assim fazer algo
diferente. Porque entre usar as figuras envergonhadamente para fazer um
filme fraco e a picaretagem completa, eu realmente não sei, vejo
tudo mais ou menos no mesmo saco.
EV - E precisamos
admitir que, dentro deste quadro, o Abracadabra pelo menos foge
do esquema "programa de auditório" de alguns dos filmes anteriores
da Xuxa - ele acredita em contar uma história. Agora, o que impressiona
(assim como no Ilha Rá-Tim-Bum) é a extrema falta
de talento ao articular esta narrativa, como as coisas simplesmente não
funcionam, como um plano parece não ligar com o outro, uma cena
com a outra, uma sensação meio de "vale tudo".
(pausa)
EV - Bom, encerremos
então dizendo que Aleijadinho e Vida e Obra de Ramiro
Miguez servem como sintoma de um outro problema, visto que quase ninguém
aqui viu, se é que viu. Eu e Ruy vimos o Aleijadinho há
dois anos em Recife. Mas são filmes que realmente passaram pelos
cinemas como se não houvessem feito isso. E lembrar que ano que
vem esperamos ter aqui para discutir desde Carlão, Sganzerla e
Sacramento à estréia do Jayme Monjardim, ao Cazuza,
além do BO do MinC, que me pareceu um concurso que deu chances
de chegar ao longa para algumas pessoas, eminentemente curtametragistas,
que precisavam filmar logo, além de tantos outros... Como o ano
diz, "Seja o que Deus Quiser"!...
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