Apresentação
Monte Hellman. O nome não deve dizer muita coisa à maioria dos leitores.
Entre os grandes cineastas americanos, com a possível exceção de Edgar
G. Ulmer, nenhum tem carreira tão subterrânea quanto Hellman. Só dez filmes
em mais de quarenta anos, quase todos arrancados do quase nada e vistos
por quase ninguém.
Assistir aos filmes de Hellman
é testemunhar sempre uma entrega e uma paixão pelo cinema (como Welles,
ele veio do teatro, chegando inclusive a dirigir a primeira montagem de
Esperando Godot em Los Angeles, mas sempre bateu na tecla de que depois
que trabalhou com cinema nunca quis voltar ao palco). O gosto pelos enigmas
indecifráveis, pelo deslocamento dos corpos no campo, pelas vastas paisagens
do seu país (Hellman é um cineasta histórico como poucos), pela distenção
temporal, enfim, um prazer enorme de fazer cinema.
Discutir Hellman não pode deixar
de passar por ter em conta que trata-se de uma carreira abreviada por
uma série de frustrações. Diversos projetos não-realizados, filmes abandonados
pelos distribuidores à própria sorte (O Tiro Certo, por exemplo,
foi vendido direto para TV nos EUA, mesmo tendo causado forte impressão
em festivais europeus), indiferença da critica americana (que encarava
os filmes como produções baratas sem grande interesse) e do público (que
os descartava como herméticos).
A carreira de Hellman como um
todo foi marcada por este tipo de azar que acabou garantindo a obscuridade
de toda a sua obra. Isto até alguns anos atrás, quando os lançamentos
de suas obras em DVD garantiram a redescoberta destes filmes para todo
um grupo de cinéfilos. O que, infelizmente, ainda não resultou em novas
oportunidades de trabalho para o cineasta que segue ativo e cheio de projetos,
apesar de não filmar desde 89. Nesta pauta tentamos jogar uma luz sobre
os filmes do diretor a partir dos dois faroestes que lhe projetaram em
meados dos anos 60. Boa leitura.
Filipe Furtado
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