Perdita Durango,
de Alex de La Iglesia
México/EUA/Espanha, 1997
O
Horror Subversivo de Alex de La Iglesia
Baseado
no romance 59 & raining. The History of Perdita Durango de Barry
Gifford, este é o terceiro longa metragem do diretor espanhol Alex de
La Iglesia, que já havia realizado anteriormente os cultuados Ação
Mutante (1992) e O Dia da Besta (1995). Ambos os filmes já
demonstravam o inusitado talento para o bizarro deste ex-cartunista e
editor de revistas em quadrinhos, formado em filosofia e fã incondicional
de histórias de horror e ficção.
Os que já estão habituados com o universo do escritor Barry Gifford, que
é também co-roteirista do filme, e com o cinema sem sutilezas do diretor
Alex de La Iglesia, sabem que enfrentarão duas horas de extrema violência
e muito humor negro. Barry Gifford é autor do surpreendente romance Coração
Selvagem, que teve o seu universo sombrio levado às telas pelo controverso
diretor David Lynch. Essa transposição rendeu a Palma de Ouro de melhor
filme no festival de Cannes em 1990.
A trama do filme gira em torno da personagem titulo Perdita Durango, interpretada
visceralmente pela atriz americana Rosie Peréz (a personagem Perdita já
havia feito uma rápida aparição em Coração Selvagem) e Romeu Dolorosa,
vivido pelo espanhol Javier Barden. Ela é uma andarilha violenta e impulsiva,
sujeita a todas as formas de perversão. Ele, um psicopata frio, porém
bem humorado, que se diverte roubando cadáveres para sangrentos rituais
de magia negra. Juntos eles formam um casal incomum, e muito perigoso!
Ao serem contratados pela máfia para escoltarem uma sinistra carga de
fetos humanos (para fins cosméticos) da fronteira mexicana até a cidade
de Las Vegas, eles deixam pelo caminho um rastro de sangue e violência,
que se agrava ainda mais quando ambos decidem por simples diversão seqüestrar
um casal de jovens americanos.
O filme mantém um ritmo alucinante, despejando sobre o espectador personagens
sombrios e situações inusitadas.
A câmera passeia por cidades e pradarias de um México pobre, supersticioso
e desolado e nos brinda com uma divertida visão dos E.U.A, retratando
uma América interiorana, brega e moralmente decadente! Perdita Durango
é uma obra incômoda, subversiva, em que personagens oscilam entre
o bem e o mal sem qualquer julgamento moral, apenas reagem com violência
e sarcasmo ao meio em que vivem!
A violência e o grotesco sempre foram elementos constantes na obra de
La Iglesia, sempre permeada de irreverência e anarquia, seja ao mostrar
a desastrada luta de um bando de guerrilheiros deformados contra a opressão
de uma sociedade perfeita, na ficção Ação Mutante, seja na nada
ortodoxa busca de um padre pelo anticristo, no alucinado O Dia da Besta!
O seu humor ácido, escatológico e repleto de violência, funciona como
um elemento estético fundamental para a sua obra. Por várias vezes o diretor
parece estar brincando com o espectador, assim como brinca com o destino
de seus personagens!
Em A Comunidade (2001), filme lançado recentemente em video no
Brasil, é visível uma grande evolução técnica que resultou em uma obra
de grande apuro visual, mas que não amenizou o banho de sangue e sarcasmo
que envolve uma agente imobiliária que se depara com uma fortuna em dinheiro.
O filme é uma macabra homenagem ao cinema de Alfred Hitchcock! Seu ultimo
trabalho, ainda inédito no país chama-se 800 Balas e tem como principal
referência o western spaghetti dos anos 60 e 70!
Cristian Verardi
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