Ligeiramente Grávida,
de Joe Dante

Runaway Daughters, EUA, 1995


Quem acompanha a obra de Joe Dante sabe da importância que as referências culturais da década de 50 têm dentro do seu cinema. Pois bem, Ligeiramente Grávida chegou a Dante como uma encomenda para refilmar um filme do catálogo da American International Pictures (a produtora #1 de filmes B entre o final da década de 50 e a de 60). O filme, visto dessa forma, é bastante similar ao recente Looney Tunes: De Volta a Ação: ele coloca em primeiro plano muito daquilo que em outros de seus filmes serve de subtexto.

No caso de Ligeiramente Grávida, estamos num filme de época, o que permite a Dante brincar com vários elementos ligados ao período (como a paranóia do “perigo vermelho”). Ao mesmo tempo, o filme busca uma reconstituição afetuosa do momento, tentando dar destaque para tudo aquilo que lhe interessa nesta época. O mesmo vale para o material (jovem pensa que ficou grávida, namorado foge, ela e duas amigas saem em viagem atrás dele), que Dante retrabalha com grande prazer.

O filme é construído num tom relaxado, como se tratasse quase de uma brincadeira entre amigos. Todos os pais são interpretados por atores do elenco de apoio regular de Dante, e isto ajuda bastante no esforço do diretor em manter um clima carinhoso nas cenas entre eles; cenas estas que, na mão de outros diretores, tinham tudo para desandar no clichê puro de “pais que não entendem os filhos”. Melhor ainda são as seqüências envolvendo Dick Miller como um detetive que procura as garotas, tratadas como puro pastiche (com direito a trilha sonora de “mistério” digna de seriado de TV).

Ligeiramente Grávida é, sem sombra de dúvida, um trabalho menor, mas serve como bom exemplo da posição insider/outsider de Dante. Exemplo bem típico da sua filmografia, assumindo abertamente sua posição de brincadeira, mas ao mesmo tempo explicitando todos os seus mecanismos, e mergulhando com prazer neles.

Filipe Furtado