Editorial



JOÃO CÉSAR MONTEIRO, grande homenageado da 27ª Mostra de São Paulo, é redescoberto por Contracampo através de seu mais recente e genial Vai e Vem e de seus filmes dos anos 80 (foto: Monteiro como João de Deus em Recordações da Casa Amarela)
   

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fotos da edição: Fernando Duarte

Cinema aberto para balanço. O mês seguinte à cobertura do Festival do Rio e da Mostra de SP sempre representa um desafio para a equipe da Contracampo: os dois meses anteriores são gastos num esforço sem igual no resto do ano, tanto em termos de produção de textos quanto em número de redatores envolvidos. É complicado ainda termos alguma "força" sobrando para nos dedicarmos a temas outros além dos surgidos nos próprios festivais e em sua avalanche de filmes. Este seria um motivo prático para dedicarmos esta edição a uma avaliação do que restou ao fim destes dois meses daqueles filmes que assistimos e ainda temos coisas a dizer.

Mas há um outro motivo que parece talvez ainda mais importante: o trabalho de cobertura, para ser funcional ao leitor, muitas vezes se assemelha a uma maratona misturada com uma corrida de distância curta. À produção contínua e rápida de textos – mas, nos policiamos para isso, jamais apressada –, deve seguir-se a análise mais refletida e polifônica de tudo que se viu nesse período – em tendências, formas, temas e questionamentos. Principalmente porque a visão de conjunto dos filmes, ao final desses dois meses, vai recontextualizando-os, criando novos significados e fazendo nascer uma visão de conjuntura que não havia antes. Por isso, além da praticidade, nos parece importantíssimo parar depois destes meses e conseguir montar um raciocínio já mais distanciado do que assistimos. Afinal, o que ficou daquilo tudo? Este ano, como mostrarão os textos da edição, muita coisa.

Foram exibidos inúmeros filmes importantíssimos no Rio e em São Paulo (vários deles somente em um dos dois eventos), provando mais uma vez que os boatos sobre a morte do cinema são muito exagerados. Existe, sim, um certo cinema que nos parece morto, e dele trataremos nestes textos a seguir. Morto, também, infelizmente, está João Cesar Monteiro. Mas seu cinema vive mais do que nunca, e a Mostra de São Paulo conseguiu a proeza de nos dar um vislumbre – mesmo que incompleto – de sua obra ainda no ano de seu falecimento. As retrospectivas deste ano foram muito interessantes nos dois festivais, ainda que em caminhos diferentes. Infelizmente, em meio à tentativa de dar conta de tantas coisas, não conseguimos nos dedicar a contento às mostras de Mauritz Stiller (SP) e Mario Monicelli (RJ). Mas seguem na edição textos sobre Monteiro, Kiju Yoshida e Orson Welles.

Esta edição será completa ainda este mês, em dez dias, com uma seção de DVD/VHS dedicada à obra de Joe Dante, que lança daqui a pouquinho seu mais recente filme, Looney Tunes: De Volta à Ação, no Brasil. Fora isso, a seção de TV continua com suas atualizações semanais, o Contra-blog continua à toda no PG, e, ainda em dezembro, continuaremos na programação da Sessão Cineclube no Odeon (parceria com o Grupo Estação) e organizaremos nossa primeira incursão paulistana no campo de mostras, com a reedição da retrospectiva de Julio Bressane (que acaba de vencer o Festival de Brasília com o belo Filme de Amor), no CineSesc. A todos que sentiram falta de nova edição no ar, agradecemos a ansiedade, e prometemos voltar mais em breve com a edição 56. E esperamos que tenham curtido a cobertura dos festivais como nós gostamos de fazê-la.

Eduardo Valente e Ruy Gardnier