Cinema
aberto para balanço. O mês seguinte à cobertura
do Festival do Rio e da Mostra de SP sempre representa um
desafio para a equipe da Contracampo: os dois meses anteriores
são gastos num esforço sem igual no resto do ano, tanto
em termos de produção de textos quanto em número de redatores
envolvidos. É complicado ainda termos alguma "força" sobrando
para nos dedicarmos a temas outros além dos surgidos
nos próprios festivais e em sua avalanche de filmes. Este
seria um motivo prático para dedicarmos esta edição a uma
avaliação do que restou ao fim destes dois meses daqueles
filmes que assistimos e ainda temos coisas a dizer.
Mas há
um outro motivo que parece talvez ainda mais importante: o
trabalho de cobertura, para ser funcional ao leitor, muitas
vezes se assemelha a uma maratona misturada com uma corrida
de distância curta. À produção contínua
e rápida de textos mas, nos policiamos para
isso, jamais apressada , deve seguir-se a análise
mais refletida e polifônica de tudo que se viu nesse
período em tendências, formas, temas e
questionamentos. Principalmente porque a visão de conjunto
dos filmes, ao final desses dois meses, vai recontextualizando-os,
criando novos significados e fazendo nascer uma visão
de conjuntura que não havia antes. Por isso, além da
praticidade, nos parece importantíssimo parar depois destes
meses e conseguir montar um raciocínio já mais distanciado
do que assistimos. Afinal, o que ficou daquilo tudo? Este
ano, como mostrarão os textos da edição, muita coisa.
Foram
exibidos inúmeros filmes importantíssimos no Rio e em São
Paulo (vários deles somente em um dos dois eventos), provando
mais uma vez que os boatos sobre a morte do cinema são muito
exagerados. Existe, sim, um certo cinema que nos parece morto,
e dele trataremos nestes textos a seguir. Morto, também, infelizmente,
está João Cesar Monteiro. Mas seu cinema vive mais do que
nunca, e a Mostra de São Paulo conseguiu a proeza de
nos dar um vislumbre mesmo que incompleto de
sua obra ainda no ano de seu falecimento. As retrospectivas
deste ano foram muito interessantes nos dois festivais, ainda
que em caminhos diferentes. Infelizmente, em meio à tentativa
de dar conta de tantas coisas, não conseguimos nos dedicar
a contento às mostras de Mauritz Stiller (SP) e Mario Monicelli
(RJ). Mas seguem na edição textos sobre Monteiro, Kiju Yoshida
e Orson Welles.
Esta edição
será completa ainda este mês, em dez dias, com uma seção de
DVD/VHS dedicada à obra de Joe Dante, que lança daqui a pouquinho
seu mais recente filme, Looney Tunes: De Volta à
Ação, no Brasil. Fora isso, a seção de TV
continua com suas atualizações semanais, o Contra-blog continua
à toda no PG, e, ainda em dezembro, continuaremos na programação
da Sessão Cineclube no Odeon (parceria com o Grupo Estação)
e organizaremos nossa primeira incursão paulistana no campo
de mostras, com a reedição da retrospectiva de Julio Bressane
(que acaba de vencer o Festival de Brasília com o belo Filme
de Amor), no CineSesc. A todos que sentiram falta de nova
edição no ar, agradecemos a ansiedade, e prometemos voltar
mais em breve com a edição 56. E esperamos que tenham curtido
a cobertura dos festivais como nós gostamos de fazê-la.
Eduardo
Valente e Ruy Gardnier
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