Roger,
o conquistador, de Dylan Kidd

Roger
Dodger, EUA, 2002
Roger Swanson fala pelos cotovelos. Sua fama de sedutor é notória.
Sua tagerelice só não é maior que sua cara-de-pau.
Utilizando este personagem nada simpático, interpretado de forma
genial por Campbell Scott, Dylan Kidd realiza seu primeiro longa-metragem,
conseguindo algum destaque na pasmaceira que se encontra o panorama do
cinema indie norte-americano. O que numa primeira leitura pode
parecer um raso retrato da decadência do modelo “macho-pegador”,
termina, graças à irônica e desconcertante sequência
final, como uma curiosa análise da criação de um
ideário masculino.
Este ideário passa, sem dúvida, pela construção
de uma imagem e, para Roger, esta imagem parece valer mais que a realidade,
desde a infância, quando recebera a alcunha de Roger Dodger (a palavra
“safo” me parece a melhor tradução para o termo).
Só que, o que o filme faz, é sugerir até que ponto
tal imagem corresponderia à realidade, pois durante todo o tempo
de ação, vemos apenas Roger tomar uma infinita série
de “tocos”, além de demonstrar toda sua fragilidade
ao levar um fora da namorada-patrôa (Isabella Rossellini).
Ao ser procurado pelo sobrinho adolescente, que quer aprender com o tio
as artes da sedução, Roger lhe apresenta e impõe
os modelos de tática da infinita guerra travada na noite, cuja
única hipótese de vitória se resume em levar uma
mulher para a cama. E os diálogos sempre pertinentes escritos por
Kidd são também filmados de forma bastante eficaz e pessoal.
Primeiro quando os dois passeiam pelas ruas de Nova York, acompanhados
à distância pela câmera. Depois, quando os dois, em
um bar, após uma sucessão de falas que lembra uma versão
às avessas de Sex and the City, conseguem atrair à
sua mesa duas belas mulheres trintonas (Jennifer Beals e Elizabeth Berkley).
Numa longa seqüência, toda construída em close-ups
– assim como quase todo o filme –, Kidd demonstra seu talento
na sucessão de planos e cortes ágeis, amparado pelo trabalho
do fotógrafo Joaquin Baca-Asay, que consegue captar curiosas nuances
dos ambientes escuros e esfumaçados.
Claro que, mesmo com um saldo final positivo, nem tudo se resume em acertos.
Quando, após a saída de cena de Beals e Berkley, no momento
onde se sugere uma maior maturidade de Nick, apesar, ou talvez devido
a sua inocência e sinceridade, o filme trafega por um terreno de
redundância e algum moralismo. A sequência da festa simplesmente
repete coisas que anteriormente já haviam sido mostradas ou ditas
com relação a Roger ou Nick. Já a sequência
do bordel sugere um clima decadência ou mesmo humilhação
demasiado óbvio. Parecem servir, no máximo, como uma ponte
para a já decantada cena final, na qual, como poucas vezes tem
sido visto recentemente, Kidd consegue sintetizar de forma bastante coerente
todas as suas idéias com relação ao filme, distanciando-o
de algum esquematismo e, ao mesmo tempo, reforçando e pondo em
cheque as atitudes e pensamentos de sua dupla de protagonistas.
Gilberto Silva Jr.
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