Editorial





O antigo Cinema Rio Branco. A fotografia é capa de um livro também "pensado junto" entre Adhemar Gonzaga e Paulo Emílio Salles Gomes, "70 Anos de Cinema Brasileiro", de 1966.
   
 
 
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fotos da edição: Fernando Duarte

Pensar juntos / Contracampo 5 anos. Em setembro de 1998, entrava em funcionamento uma revista de cinema. O funcionamento era precário, tão precário que a própria palavra funcionamento parece muito pouco apta para designar o estado de confusão, insegurança e pouca coesão que pairava entre os colaboradores iniciais. Entre as vontades muito diferentes – por ora contrastantes – dos três editores-fundadores (Bernardo Oliveira, Rafael Viegas, Ruy Gardnier) e daqueles que vieram em seguida (Eduardo Valente em especial) ao criar uma revista de cinema, um sentimento parecia ser o mais partilhado: o de que pensar juntos é muito mais estimulante, interessante e enriquecedor do que pensar cada um em seu canto, separado. Hoje, instituída de forma muito mais sólida – as diversas seções, equipe de redação – e tentacular – cineclubes, cursos, realização de filmes, sempre acreditando que a ação crítica não se faz só em forma de textos, mas em diversos outros aspectos –, a aposta e o sentimento se mantêm cinco anos depois: pensar juntos, pensar como revista faz um diferencial existencial (no convívio) e teórico (na construção conjunta das idéias) forte.

É com esta aposta em mente que decidimos comemorar pessoalmente nosso quinto aniversário. Comemorar com algumas das pessoas que foram fundamentais para esses cinco anos, tanto em sua relação com a revista (Carlão Reichenbach e Inácio Araújo foram os primeiros apoiadores "oficiais" da revista, quase divulgadores) quanto na formação e na convivência crítica (Hernani Heffner, João Luiz Vieira, Ismail Xavier, Jean-Claude Bernardet), passando, é claro, pela admiração cinematográfica (Tata Amaral, Laís Bodansky, Godard, Oliveira). Tomando como ponto de partida a idéia de "pensar junto", decidimos realizar encontros em que esses companheiros de percurso, dois a dois, discutem, divertem-se, teorizam e comentam suas carreiras. Em resumo, levam à frente a discussão. Juntos.

Cinco anos é muito pouco e muito tempo. Observado daqui, de setembro de 2003, não parece tanto assim. Diante da data, diversos já nos responderam, assustados: "Já?" Insidiosos, fomos aos poucos tomando a forma e o espaço que queríamos; anjos tortos, nascemos para desafinar o coro dos contentes (evoé Torquato Neto) de um jornalismo cultural e de um "estado geral" do cinema brasileiro que não era o nosso; amorosos, existimos para cantar loas para os filmes que nos fazem brilhar os olhos.

Complementando esta edição comemorativa, um conjunto de textos de nossos redatores se deparando com um filme ou com filmes que, sentados na cadeira e bestificados com a genialidade daquilo que estão vendo, sentem junto com a admiração uma estranha e deliciosa raiva, seguida do comentário que morre ainda na garganta, antes de chegar na boca: "Queria ter feito isso". Contato com os filmes decisivos na formação do olho e do amor ao cinema, mais uma chance para celebrar em chave afetiva um aniversário. Finalizando, um abraço forte a todos os colaboradores que já contribuíram com textos para a revista desde seu nascimento (são tantos que rememorar fatalmente faria esquecer algum nome) e, acima de tudo, aos freqüentadores usuais dessa página, nossos leitores, a quem naturalmente é destinada esta edição. Boa leitura.

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Setembro, início dos trabalhos nos festivais. No dia 25 de setembro, véspera do Festival do Rio, entra nossa cobertura habitual, com dossiês retrospectivos, críticas dos filmes do festival, artigos de conjunto e nossas apostas para uma boa triagem (pessoal, não resta dúvida) entre o necessário e o dispensável. Até lá!

Ruy Gardnier