Pensar
juntos / Contracampo 5 anos. Em setembro de 1998, entrava
em funcionamento uma revista de cinema. O funcionamento era
precário, tão precário que a própria
palavra funcionamento parece muito pouco apta para designar
o estado de confusão, insegurança e pouca coesão
que pairava entre os colaboradores iniciais. Entre as vontades
muito diferentes por ora contrastantes dos três
editores-fundadores (Bernardo Oliveira, Rafael Viegas, Ruy
Gardnier) e daqueles que vieram em seguida (Eduardo Valente
em especial) ao criar uma revista de cinema, um sentimento
parecia ser o mais partilhado: o de que pensar juntos é
muito mais estimulante, interessante e enriquecedor do que
pensar cada um em seu canto, separado. Hoje, instituída
de forma muito mais sólida as diversas seções,
equipe de redação e tentacular
cineclubes, cursos, realização de filmes, sempre
acreditando que a ação crítica não
se faz só em forma de textos, mas em diversos outros
aspectos , a aposta e o sentimento se mantêm cinco
anos depois: pensar juntos, pensar como revista faz um diferencial
existencial (no convívio) e teórico (na construção
conjunta das idéias) forte.
É
com esta aposta em mente que decidimos comemorar pessoalmente
nosso quinto aniversário. Comemorar com algumas das
pessoas que foram fundamentais para esses cinco anos, tanto
em sua relação com a revista (Carlão
Reichenbach e Inácio Araújo foram os primeiros
apoiadores "oficiais" da revista, quase divulgadores)
quanto na formação e na convivência crítica
(Hernani Heffner, João Luiz Vieira, Ismail Xavier,
Jean-Claude Bernardet), passando, é claro, pela admiração
cinematográfica (Tata Amaral, Laís Bodansky,
Godard, Oliveira). Tomando como ponto de partida a idéia
de "pensar junto", decidimos realizar encontros
em que esses companheiros de percurso, dois a dois, discutem,
divertem-se, teorizam e comentam suas carreiras. Em resumo,
levam à frente a discussão. Juntos.
Cinco
anos é muito pouco e muito tempo. Observado daqui,
de setembro de 2003, não parece tanto assim. Diante
da data, diversos já nos responderam, assustados: "Já?"
Insidiosos, fomos aos poucos tomando a forma e o espaço
que queríamos; anjos tortos, nascemos para desafinar
o coro dos contentes (evoé Torquato Neto) de um jornalismo
cultural e de um "estado geral" do cinema brasileiro
que não era o nosso; amorosos, existimos para cantar
loas para os filmes que nos fazem brilhar os olhos.
Complementando
esta edição comemorativa, um conjunto de textos
de nossos redatores se deparando com um filme ou com filmes
que, sentados na cadeira e bestificados com a genialidade
daquilo que estão vendo, sentem junto com a admiração
uma estranha e deliciosa raiva, seguida do comentário
que morre ainda na garganta, antes de chegar na boca: "Queria
ter feito isso". Contato com os filmes decisivos na formação
do olho e do amor ao cinema, mais uma chance para celebrar
em chave afetiva um aniversário. Finalizando,
um abraço forte a todos os colaboradores que já
contribuíram com textos para a revista desde seu nascimento
(são tantos que rememorar fatalmente faria esquecer
algum nome) e, acima de tudo, aos freqüentadores usuais
dessa página, nossos leitores, a quem naturalmente
é destinada esta edição. Boa leitura.
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* *
Setembro,
início dos trabalhos nos festivais. No dia 25 de setembro,
véspera do Festival do Rio, entra nossa cobertura habitual,
com dossiês retrospectivos, críticas dos filmes
do festival, artigos de conjunto e nossas apostas para uma
boa triagem (pessoal, não resta dúvida) entre
o necessário e o dispensável. Até lá!
Ruy Gardnier
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