Dicionário estreantes G-M

GARDENBERG, Monique
GOMES, Rogério
GUIMARÃES, Cao (ver BAMBOZZI)
GUIMARÃES, Jorge Alfredo

HAMBURGER, Cao
HOLANDA, Lula Buarque de
JAGUARIBE, Izabel
JARDIM, João
LAMAR
CA, Tânia
LESSA, Bia
LIMA, Henrique de Freitas
LIMA, Mauro
LIPSZTEIN, Gustavo
LUNA, Marcelo
MACHADO, Sergio
MAGALHÃES, Ana Maria
MAGALHÃES, Beto (ver BAMBOZZI)
MAINARDI, Vinicius
MARTINELLI, Mirella (ver CARON)
MASAGÃO, Marcelo
MEIRELLES, Fernando
MENDES, David França
MICHILES, Aurélio
MOCARZEL, Evaldo
MO
URA, Marcos
MOURÃO, Mara
MUYLAERT, Anna

GARDENBERG, Monique
(1996 – Jenipapo, 2003 – Benjamin)
Antes de tudo, devemos muitos agradecimentos ao trabalho como produtora musical de Monique Gardenberg, que com o Free Jazz já nos trouxe desde Sonic Youth a Björk, desde Richard D. James a Goldie (além de, naturalmente, alguns monstros do jazz contemporâneo). Realizadora de Diário Noturno, curta-metragem correto sobre a alienação existencial de uma mulher dominada por seu cotidiano, passou ao longa-metragem com Jenipapo, em 1996. Na matéria sensível do filme, o lado "produtora" fala mais alto: misturando Henry Czerny no papel principal e Philip Glass na música (janela internacional) com tudo que é macumba para turista social brasileiro – um mundo político corrupto, as favelas, a possibilidade de insurreição do povo – , Jenipapo é um dos filmes mais sintomáticos da "retomada" no que diz respeito a grandes projetos frustrados. Também na pregnância da língua estrangeira: até o título do jornal é em inglês. Raro exemplar de "cinema de exportação" (pouco a ver nas intenções com a "poesia de exportação" de Oswald, contudo). Jenipapo como thriller político ou como expressão poética rende nada ou quase. Renomada diretora de videoclips ("Não Enche" e "Fora da Ordem", ambos de Caetano Veloso), espetáculos musicais e teatro (Os Sete Afluentes do Rio Ota), Monique Gardenberg ainda precisa dizer a que veio no cinema. Se o primeiro livro de Chico Buarque não ajudou a redefinir a carreira de um diretor veterano (Estorvo de Ruy Guerra), esperamos que o segundo consiga finalmente fazer surgir uma nova cineasta: recém-terminado, Benjamin ainda espera uma exibição pública no país depois de ter passado em Sundance. (R.G.)

GOMES, Rogério
(2001 – Xuxa e os Duendes, 2002 – Xuxa e os Duendes 2)
Vindo da linha de produção da Rede Globo (onde não se pode dizer que tenha tido qualquer marca especial ligada a seu nome, nada que faça pensar num "Núcleo Rogério Gomes"), passa para a linha de produção de Diller Trindade com a "marca Xuxa", co-dirigindo os filmes com Paulo Sérgio Almeida. Ambos são realizados em digital de alta resolução, chegando a serem exibidos neste formato em algumas salas especiais no país (talvez a única inovação que as produção de Diller trouxeram). Embora os filmes representem pelo menos a tentativa da fabulação de uma narrativa mais fantasiosa e efetivamente ficcional por parte da personagem Xuxa (uma vez que Xuxa Requebra e Xuxa Popstar eram programas de Tv mal disfarçados de filmes), não se pode chegar a elogiá-las, em parte pelo processo de produção absolutamente corrido (costumam ser filmados e lançados em 5 ou 6 meses), que sempre fica claro especialmente na falta de preocupação com a mise-en-scene e no roteiro mal-ajambrado, e em parte pela opção por uma filosofia educacional (em sendo filmes de "formação" para sua platéia infantil) de um tatibitate completo e simplista, que vê a criança como um ser quase incapaz, necessitando de lições de moral constantes para executar uma certa "lavagem cerebral". Lavagem cerebral esta que nunca fica completa sem uma enorme dose de merchandising (os filmes geralmente criticam o dinheiro como fim maior na vida, e ao mesmo tempo este é claramente o fim maior dos filmes) e com uma lógica absolutamente televisiva de exposição de personalidades "famosas e reconhecíveis" no lugar da criação de um universo ficcional realmente independente. Na década de 90, a relação com os jovens pela qual mais celebramos Gomes continua sendo o casamento com Deborah Secco quando esta tinha 18 anos. Como cineasta, pelo que se viu até agora, só se pode esperar mais do mesmo. (E.V.)

GUIMARÃES, Cao (ver BAMBOZZI)

GUIMARÃES, Jorge Alfredo
(2002 – Samba Riachão)
Antever as possibilidades futuras de Jorge Alfredo Guimarães, levando-se em conta seu único longa-metragem, o documentário Samba Riachão, seria um exercício vazio de futurologia. No entanto, mesmo restringindo-nos a esse trabalho, a expectativa é positiva, apesar de uma ou outra restrição. Jorge Alfredo defende a origem baiana do samba e faz a genealogia musical da Bahia, dos sambas ranchos às derivações pop contemporêneas, tanto por meio de depoimentos de músicos do Estado (Caetano, Dorival Cayammi, Tom Zé, Gilberto Gil) como de imagens de rituais populares. Compositor e ínterprete da linhagem de Assis Valente e Humberto Porto, Riachão era figura popular na época de ouro do rádio, mas foi jogado para escanteio com a popularização da TV, a partir dos anos 50. Sua imagem é o símbolo eleito para expressar a riqueza musical e o ostracismo abordados pelo filme. Ator em A Grande Feira, de Roberto Pires, e Os pastores da noite, do francês Marcel Camus, Riachão transforma cada entrada em uma cena monumental. Ás vezes, conduz o rumo. Em outras, o filme o conduz, induz suas reações espetaculares, explora seu exotismo, quase tratando-o como um bichinho. O propósito é claro: usar o malandro real do passado para compor a imagem mítica-folclórica do malandro cênico e usá-lo como ícone de uma vertente cultural esquecida ou diluída para se inserir nas manifestações industrializáveis. Jorge Alfredo tem experiência em música e cinema. Trabalha no levantamento genealógico do samba, do frevo e do baião. Como compositor, projetou-se com "Rasta Pé", em 1980, no Festival da Globo. Compôs ainda músicas para Caetano Veloso, Margareth Meneses, Ciclete com Banana. É responsável pela trilha sonora de vários filmes. Colaborou com Rogério Duarte na trilha de Idade da Terra, de Glauber Rocha. Também atuou como roteirista, músico, montador, fotógrafo ou diretor de produções. Seu próximo projeto, Párvulos, trata de adolescentes no sertão, de Canudos, que assaltam carro-pipa e armazém de grãos. (C.E.)

HAMBURGER, Cao
(2000 – Castelo Rá-Tim-Bum)
Dentre seus curta-metragens na década de 80, Frankenstein Punk se destaca pelo grande número de prêmios conquistados e pela precisão na realização. Cineasta sempre ligado a temáticas infanto-juvenis, foi um dos responsáveis pela criação da melhor série infantil da TV brasileira na década de 90: Castelo Rá-Tim-Bum. A temática mística, mesclada às questões do imaginário cotidiano do público infantil, conquistaram com habilidade o interesse de crianças e adultos, alcançando recordes de audiência para a TV Cultura. É nesse universo que Hamburger aposta em sua estréia em longas, fazendo de Castelo Rá-Tim-Bum – o filme uma avis rara no panorama do cinema infanto-juvenil brasileiro dos anos 90. Talvez não conseguindo repetir a magia que as condições e opções de cenografia e elenco conseguiram fundar na TV, o filme aposta no arrojo técnico, num elenco primoroso e num roteiro cheio de mensagens de tolerância às diferenças, para conquistar sua graça. A possibilidade de que um segundo filme fosse realizado, coisa que até hoje não aconteceu, mantém sobre Cao Hamburger o foco de interesse por uma cinematografia infanto-juvenil brasileira que possa obter beleza, e impacto de público, passando ao largo do famigerado e dominante efeito-Xuxa. (F.B.)

HOLANDA, Lula Buarque de
(2000 – Pierre "Fatumbi" Verger, em finalização – Casseta e Planeta Rumo ao Oscar)
Mais um dos sócios da Conspiração, talvez seja o mais difícil de se conseguir atingir numa análise. Realizador (como todos) de publicidades, clipes, especiais musicais, a carreira de Lula Buarque no cinema de longa é especialmente demovida de linhas reconhecíveis. Após estrear com Pierre "Fatumbi" Verger (cuja frágil dimensão puramente informativa dificilmente justifica o blow-up e lançamento comercial em cinema, sendo muito mais adequado ao jornalismo televisivo onde ficou, por exemplo, seu outro documentário, Filhos de Gandhy), que faz jus ao seu diploma de formado em Antropologia, envereda agora em área pouquíssimo afim, com o longa de estréia do pessoal do Casseta e Planeta, com roteiro original plenamente narrativo e passado na década de 70. Embora seu documentário não tenha no tema proposto a felicidade de proposta do longa (ou mesmo da série de TV) do colega conspirador Arthur Fontes, resta torcer que neste pulo temático (em si bastante louvável) ele revele mais da competência deste do que, simplesmente um certo automatismo desinteressado como puro "contratado". (E.V.)

JAGUARIBE, Izabel
(2003 – Paulinho da Viola-Meu Tempo é Hoje)
Conhecida pelos episódios dirigidos para a série de documentários 6 Histórias Brasileiras (do GNT), Izabel Jaguaribe conseguiu fazer em Passageiros e A Familia Braz o que pareciam ser dois promissores exercícios de documentação microscópica. Na escolha do tema e inteligência no formato de construção da encenação (o núcleo familiar em A Familia Braz e o ônibus em Passageiros), Izabel conseguiu se destacar entre os demais episódios da série ao tirar sua expressividade de objetos apequenados e espaços físicos banais. Em Paulinho da Viola – meu tempo é hoje, no entanto, a grandiosidade de seu personagem central e a riqueza de sua biografia parecem ter feito a diretora perder a mão no que havia de mais importante na figura de Paulinho: sua relação com o tempo e a cadência tranquila de sua vida e música. Afoita em retratar com amplitude a figura silenciosa do cantor, Izabel Jaguaribe dá mostras de que (no que condiz à arquitetura do tempo e da atmosfera da imagem) seu cinema ainda engatinha no terreno dos dados verbais e do acúmulo informativo (fala-se e mostra-se muito o tal "tempo de Paulinho" mas em nada esse tempo se inscreve na estrutura do filme, pelo contrário). Aparentemente sem rumo certo, faz uma espécie de reportagem-painel-musical (mais para os ouvidos do que para os olhos) sem grandes méritos senão o de dar alguns minutos de voz (mesmo que em ritmo acelerado e fotografia de boutique) a uma das figuras mais discretas e cativantes da música brasileira contemporânea. Numa visão geral, parece que, se não lhe falta inspiração para o cinema, falta-lhe, ainda, muito artesanato. (F.B.)

JARDIM, João
(2001 – Janela da Alma)
Tendo estudado cinema na NYU, Jardim começa como assistente de filmes como Faca de Dois Gumes, de Murillo Salles, e Dias Melhores Virão, de Cacá Diegues. Com a crise do início da década, Jardim se refugia principalmente da publicidade, e só estréia no cinema em longas com o documentário Janela da Alma, baseado em idéia que teve junto com o co-diretor e, colega míope, Walter Carvalho. O filme acabou sendo um dos grandes sucessos-surpresa dos últimos anos do cinema nacional, passando dos 100 mil espectadores, marca impressionante para um filme distribuído com pouquíssimas cópias por uma distribuidora pequena. Seu sucesso de boca-a-boca certamente tem tanto a ver com a sua vasta gama de entrevistados famosos quanto com sua capacidade de ser conceitual e leve ao mesmo tempo (embora, ao fim, não se tenha muita certeza qual conceito, principalmente, vimos). Janela da Alma parece, sob todos os aspectos, antes um pequeno "divertissement", um começo de algo, do que uma obra a partir da qual se possa analisar uma carreira. Por isso, temos que esperar o que virá a seguir de Jardim, sendo que as últimas notícias circuladas falavam de um projeto que lidava com o universo das cartomantes, tema também bastante vasto, mas que resta ver o que ele tentará extrair dele. (E.V.)

LAMARCA, Tânia
(1997 – Buena Sorte, 2000 – Tainá)
Ao estrear como diretora, Tânia Lamarca já possuía intensa experiência cinematográfica, tendo trabalhado como assistente de direção e diretora de produção com Arnaldo Jabor, Tizuka Yamazaki e Bruno Barreto. Sua estréia, Buena Sorte, é um filme curioso. Trabalha com a colonização cultural num nível de paródia e, ao mesmo tempo, tenta assumir uma postura comercial, buscando o filme de gênero (no caso, influenciado pelo faroeste). Além disso, o ambienta no mundo dos rodeios, o que é interessante, já que se trata de um universo muito pouco explorado pelo cinema brasileiro, apesar do forte apelo popular, principalmente no interior do país. Fazendo uso escancarado do merchandising como forma de viabilizar a produção, Buena Sorte não teve uma trajetória feliz no circuito comercial, o que indica as dificuldades enfrentadas pelos filmes que tentam, hoje, recuperar um tipo de comunicação popular nos moldes dos anos 70 e 80. Embora com um roteiro fraco e uma mise-en-scène às vezes desleixada, Buena Sorte acaba criando um clima de estranhamento que parte justamente da mistura de estilos. Com Tainá, que Tânia Lamarca co-dirige com Sérgio Bloch, os resultados foram infinitamente melhores. Tainá ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio BR 2000, teve uma bela carreira comercial e atesta o talento artesanal de Tânia Lamarca, já que ela assina a concepção final do filme (que tem, ainda, a produção do veterano Pedro Carlos Rovai). (LARM)

LESSA, Bia (com Dany ROLAND)
(1997 – Crede-Mi)
Diretora de teatro e cenógrafa, estréia no cinema com um filme-experimento que mescla a linguagem teatral com as possibilidades expressivas das imagens captadas em vídeo. Ao lado de Dany Roland, faz em Crede-mi uma singular pérola de experimentação mítica do interior cearense, costurando, sem pudores, o texto original de Thomas Mann às encenações e interpretações circenses dos moradores das pequenas cidades visitadas. No campo das imagens projetadas, dirigiu ainda uma curiosa peça-filme, Casa de Bonecas, espetáculo-dispositivo que expressava mais uma vez a inquietude cênica da autora. Migrando entre os mais diferentes espaços de encenação (teatro, cinema, desfiles de moda, cenografia de exposições) Bia Lessa aparece antes como artesã de atmosferas do que como cineasta, fazendo filmes/vídeos ainda de forma bissexta, ocupando um lugar discreto (porém ímpar em coragem, artigo raro) dentre a nova geração de realizadores brasileiros. Seu último filme, originalmente intitulado Brasil 1997, contaria a história de uma única personagem ficcional a partir das imagens de mulheres "reais" de todo o país (mas continua inacabado por falta de verbas para a finalização). (F.B.)

LIMA, Henrique de Freitas
(1997 – Lua de Outubro, 2003 – Concerto Campestre)
A julgar pelos seus dois primeiros filmes, o interesse principal de Freitas Lima neste seu início de carreira como realizador de longas passa, necessariamente, pela História do Rio Grande do Sul, tendo feito dois filmes de época passados neste espaço. De fato, pode-se dizer que a produção gaúcha recente (da qual Lua de Outubro representa, junto com Anahy de las Missiones, a verdadeira "retomada" local após dez anos sem realizar um longa) demonstra um interesse constante por esta sua própria História, dando uma sensação do orgulho local numa certa "especificidade" da sua História (em relação à história do país como um todo). Tanto que todos os filmes citados (e mais Netto Perde Sua Alma, e mesmo os filmes de fora do RS, mas passados lá, como O Quatrilho e Jacobina, realizam sempre um lançamento especial diferenciado na região, o qual é responsável por boa parte da bilheteria total do filme no Brasil). Afora este específico gaúcho, o cinema de Freitas Lima ainda não nos disse a todo a que veio, sofrendo o seu primeiro filme de um engessamento dramatúrgico que comprometia os bons valores de produção (o cineasta, aliás, trabalha com produção desde a década de 80) e impedia o filme de respirar e tornar esta História algo mais vivo. O segundo filme ainda não foi visto por nós, mas as leituras das coberturas (as que confiamos mais, é claro) dos festivais por onde passou indicam um caminho semelhante, sendo que há também em comum com o primeiro filme um interesse pela inserção de um componente um pouco fantástico nesta representação do passado (ainda não de todo inserido e funcional dentro dos filmes em si). Um último necessário destaque: Lua de Outubro foi a primeira co-produção efetiva do Mercosul, o que, independente de julgamentos artísticos, torna o filme de alguma importância histórica. (E.V.)

LIMA, Mauro
(1997 – Loura Incendiária, 2000 – Deus Jr., em filmagem – Tainá 2)
Mauro Lima era apenas uma incógnita quando seu primeiro filme, Loura Incendiária, foi exibido unicamente em horários especiais (22h) nos circuitos alternativos. Hoje, um longa depois e outro ainda em produção, não se pode acrescentar muita coisa além disso. O primeiro filme era um trabalho de amigos, um filme de baixíssimo orçamento produzido caseiramente, com interesses puramente sentimentais. Da história lembramos muito pouco a não ser o acavalamento de motivos e lugares-comuns do cinema, retrabalhados de forma trashy, às vezes com um pouco de graça, mas com um timing bastante desajeitado. Deus Jr, ainda invisível fora das sessões de festivais (a que, infelizmente, não pudemos assistir), aparentemente insiste na estética trash, desta vez para contar a história de um homem que circula tanto pelo meio empresarial quanto pelo universo das seitas religiosas pouco convencionais. Além da direção, Mauro Lima também assina a música de Duas Vezes Com Helena, de Mauro Farias. Sua próxima realização é a continuação de Tainá. Sabemos que o formato trash cabe muito pouco ao projeto. O que esperar de Mauro Lima: uma mudança de percurso ou apenas uma pausa para tomar ar? (R.G.)

LIPSZTEIN, Gustavo
(2001 – O Mar por Testemunha)
Formado em cinema pela NYU, seguido por cursos no American Film Institute, em Los Angeles, é desnecessário notar a filiação da formação de Lipsztein ao cinema americano. De fato, seu até agora único longa foi muito discutido em suas únicas exibições nacionais (Festival do Rio e Mostra de SP) a partir da pergunta sobre se seria um filme brasileiro de fato, por ser estrelado por atores americanos, e na maior parte falado em inglês. Bem, não só a produtora (Elisa Tolomelli) e o diretor são brasileiros, e o mecanismo de viabilização também (uma pouquíssimo usada opção da Lei do Audiovisual que permite captação via co-produção internacional), como o filme se passa todo no Brasil – portanto, sob qualquer critério racional, não ficam dúvidas. O que se alega muito é uma filiação à linguagem do cinema mais comercial tipicamente americano, mas cá entre nós, neste caso há filmes considerados "autenticamente nacionais" que precisariam ser discutidos muito antes deste aqui. Talvez o problema seja que Lipsztein faz um filme de gênero (onde o título deixa explícita sua maior referência – O Sol por Testemunha) bem-sucedido dramaturgicamente, coisa que a maioria dos cineastas 100% brasileiros têm encontrado dificuldades em realizar (em muito, exatamente, pelo pudor em fazer um filme de gênero). Só que o filme parece ter encontrado um problema justamente com a exibição no Brasil, não chega a ser visto como filme nacional e não encontrou espaço, e no exterior certamente acontece o contrário. O que é uma pena porque, se nem um pouco brilhante, Lipsztein faz um filme correto onde, acima de qualquer outro interesse, está justamente tematizada a relação do estrangeiro com o Brasil, inclusive com um final francamente favorável ao brasileiro. Esperamos que Lipsztein prefira, no futuro, ser um realizador do bom cinema de gêneros no Brasil do que apenas mais um nome na engrenagem da máquina hollywoodiana. (E.V.)

LUNA, Marcelo
(2000 – O Rap do Pequeno Príncipe...)
Jornalista, realizou diversos trabalhos de encomenda e institucionais em vídeo com Paulo Caldas, em Pernambuco, sendo que o de maior repercussão foi Ópera Cólera, realizado em 1992 e lançado durante a Eco 92. Juntamente com Fred Jordão, teve, em 1998, a idéia de realizar O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas a partir de uma entrevista do matador Helinho no Diário de Pernambuco. Mais ligado ao texto, Marcelo Luna dividiu a direção de "O Rap...", seu longa de estréia, lançado em 2000, com Paulo Caldas, que já havia realizado Baile Perfumado. Do ponto de vista estético, um dos principais aspectos a ser destacado em "O Rap..." é a sua total intervenção na realidade. O filme recusa claramente os postulados do cinema verdade, mesmo quando o objetivo de determinadas seqüências é justamente captar a espontaneidade das ações. O filme parte do contraponto entre duas realidades: a de Garnizé, 26 anos, baterista da banda de rap Faces do Subúrbio e a de Helinho, justiceiro condenado a 99 anos de prisão por mais de 60 homicídios, morto depois que o filme já havia sido lançado. Em O Rap, o documentário assume-se como manipulação, tradução de discursos, reflexão ideológica através da linguagem, registrando de forma viva uma parcela de nossa juventude, sempre excluída do cinema ou apropriada acriticamente pela mídia. (LARM)

MACHADO, Sergio
(episódio de 3 Histórias da Bahia, 2001 – Onde a Terra Acaba)
Descoberto por Walter Salles em Salvador, e trazido de lá para trabalhar na Videofilmes, foi assistente de direção do cineasta a partir de Central do Brasil, além de co-roteirista deste filme, Abril Despedaçado e Madame Satã (este, de Karim Ainouz). Como diretor, realizou os documentários Bagunçaço e Três Canções Indianas além do média metragem de ficção Troca de Cabeça. Dirigiu também o episódio Agora é Cinza, do longa 3 Histórias da Bahia. Mas é com um documentário sobre Mario Peixoto, o autor do lendário Limite, que assina seu primeiro longa. Onde a Terra Acaba (2001) é composto a partir de imagens de arquivo deixadas pelo próprio Peixoto (fotos de família, cenas dos filmes Limite e o inacabado Onde a Terra Acaba, e das filmagens), entrevistas com o diretor e com pessoas ligadas ao seu trabalho. Com tal riqueza de tema e de material, Machado realiza um filme inevitavelmente interessante. Ouvir Peixoto falar do próprio trabalho, conhecer os percalços do seu segundo e último projeto, ver imagens da filmagem, são em si suficientemente interessantes para que o filme se sustente e seja desde já um importante documento sobre a história do nosso cinema. Infelizmente, Machado não consegue acrescentar muito ao material que tem, demonstrando limitações óbvias ao desenvolver a tese da fascinação de Peixoto pelo tempo que passa. A construção do filme resulta um tanto rasa, com uma forte tendência a usar a imagem apenas como ilustração, chocando-se com as imagens profundas e poéticas do próprio Peixoto, num confronto claramente desigual. Sergio Machado está preparando seu primeiro longa de ficção, Noites de Temporal. (C.A.)

MAGALHÃES, Ana Maria
(1993 – Érotique (episódio Final Call), 2002 – Lara)
Veterana atriz do cinema novo (Quando o Carnaval Chegar de Cacá Diegues, Como Era Gostoso o Meu Francês de Nélson Pereira dos Santos, A Idade da Terra de Glauber Rocha) e do teatro de vanguarda (Quatro num Quarto de José Celso Martinez Correa), a carreira de Ana Maria Magalhães por trás das câmeras é quase tão longa. Seu primeiro curta-metragem, Mulheres de Cinema, data de 1978. Mas o tom já está dado: a preocupação com a posição feminina na sociedade e com a afirmação do poder da feminilidade, elementos que pautarão os dois longas que realizou na década de 90, Final Call (episódio do longa multi-nacional Érotique, sobre poder e sexualidade feminina) e Lara. Seguindo a estrutura convencional dos biopics, Lara é uma biografia romanceada e sem brilho da vida da atriz Odete Lara. Reconstituição caricata e de uma nostalgia asfixiante sobre a "grande época" do cinema autoral brasileiro (Bruce Gomlevsky como cineasta imaginando planos mirabolantes e gritando "genial, genial"), encenação e direção de atores abaixo da crítica (a cena inicial do desastre de carro) e acima de tudo um desgaste natural das repisadas problemáticas feministas fazem do primeiro longa-metragem de Ana Maria Magalhães um filme que não consegue restituir encanto e glamour à vida da grande atriz que foi Odete Lara (mesmo que Christine Fernandes se esmere no papel) e tampouco é bem sucedido em revelar algum traço particular pelo qual valha a pena dedicar mais atenção ao trabalho da realizadora. Se seu trabalho como diretora algum dia atingir a posteridade de seus filmes como atriz, será por causa dos filmes por vir, não dos que já existem. (RG)

MAGALHÃES, Beto (ver BAMBOZZI)

MAINARDI, Vinicius
(1995 – 16060, 2001 – Mater Dei)
O rancor e suas possibilidades expressivas: esse parece ser o terreno por onde patina o frágil cinema desse candidato a enfant terrible por encomenda. Irmão e parceiro do articulista Diogo Mainardi, Vinicius tenta transpor para as telas o tipo de discurso pop-niilista sobre o qual o irmão construiu sua carreira. Se 16060 aparecia como uma crônica urbana sobre o poder e a disputa de classes incapaz de ir muito além da destilação de veneno, Mater Dei combina penúria artística a pretensões alegóricas monumentais. Com uma obra que tenta se firmar não pelo que propõe, mas pelo que diz negar, Vinicius Mainardi parece prisioneiro de uma tentativa inócua de criar polêmica e provocação. O fracasso de Mater Dei em recriar no cinema o teor pop-revolt da escrita do brother Diogo (mesmo no meio cinematográfico, o filme foi mais alvo de risos do que de discussões) parece ter acabado com qualquer sonho pueril dos Mainardi brothers de se estabelecerem como os antagonistas maiores do imaginário nacional. Resta aos rapazes, por enquanto, a auto-flagelação. (F.B.)

MARTINELLI, Mirella (ver CARON, Eduardo)

MASAGÃO, Marcelo
(1997- Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos, 2001-Nem Gravata Nem Honra, em finalização – 1,99)
Entre os dois documentários de longa-metragem feitos por Masagão há uma diferença bastante clara. Por mais que Nem Gravata, Nem Honra conserve um pouco da hipertextualidade de Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos (quadro dentro de quadro acompanhado de frases passando em algum canto da tela é o exemplo mais comum desse recurso narrativo nos dois filmes), sua espinha dorsal consiste nos depoimentos colhidos numa pequena cidade, ou seja, em imagens registradas, nas quais a fala se cola ao corpo – o que se contrapõe radicalmente ao trabalho anterior, um filme montado com imagens de arquivo e no qual a banda sonora é toda preenchida por música. A diferença ainda vai além: Nós Que Aqui Estamos..., que ganhou prêmios no Recife, no Uruguai e do canal GNT, entre outros, debruça-se sobre o "breve século XX" por intermédio de Eric Hobsbawm (tendo Era dos Extremos como referência mor) e persegue a micro-história sem muito compromisso didático (a apresentação não-cronológica dos eventos é uma prova). Masagão utilizou o imenso arquivo deixado pelo "século das imagens" menos para contar sua história que para criar coreografias – sempre tendendo para o "querer emocionar" – embaladas pelas músicas de Win Mertens e André Abujamra. Já Nem Gravata, Nem Honra, filme extremamente barato e simples (câmera digital e formato caseiro, como que sintonizado ao tema), recorre à vida privada, prioritariamente em sua parcela afetiva, de uma cidade conservadora no interior de São Paulo. Mas não consegue vencer o obstáculo imposto pelo próprio tema (que a priori pode sugerir tanto um documentário brilhante quanto uma exposição enfadonha de dados pessoais), resultando quase vazio. Em comum, seja através de todo um século ou do cotidiano de uma cidade interiorana, a manutenção do interesse pelo pequeno gesto. Resta ver se seus próximos projetos trarão maior consistência, porquanto vontade de trabalhar e retrabalhar imagens não parece faltar a Marcelo Masagão, que já passou pelo rádio e pela TV independentes (Rádio Xilik e TV Cubo, no final dos anos 80) e é também o idealizador e coordenador do Festival do Minuto. (L.C.O.Jr.)

MEIRELLES, Fernando
(1998 – Menino Maluquinho 2 – A Aventura, 2001 – Domésticas – o Filme, 2002 – Cidade de Deus)
Nascido em 1955, Fernando Meirelles fundou a produtora Olhar Eletrônico e, em parceria com Marcelo Tas (ou seu alter-ego, o reporter Ernesto Varella), participou da realização de trabalhos de seminal importância na definição da linguagem do vídeo brasileiro na década de 80. Fez renome também como diretor de filmes publicitários, criando a 02 Filmes no início dos anos 90. Estréia em longa com Menino Maluquinho 2 – A Aventura, realizado com a co-diretora Fabrizia Pinto, filha de Ziraldo, criador do personagem título. Apesar da narrativa mais fragmentada, uma tentativa de aproximação com a linguagem dos cartuns e do roteiro concebido em família (por Fabrizia, seu pai e sua outra irmã, a também diretora Daniela Thomas), o filme não consegue repetir o agradável clima de recriação do universo infantil, responsável pelo êxito do primeiro filme do personagem, assinado por Helvécio Ratton e a inserção de elementos fantásticos e efeitos especiais mais elaborados parecem interferir em demasia com a simplicidade da personagem. Depois, em parceria (uma constante em sua carreira) com Nando Olival, lança Domésticas, o Filme. Baseado em um espetáculo teatral, a fita é idealizada como uma homenagem às empregadas, vistas como figuras quase silenciosas da vida cotidiana. Só que, ao invés de mostrar uma nova visão sobre seu universo, o filme demonstra um olhar preconceituoso sobre as personagens, que são caricatas, reforçando estereótipos da classe média através de um humor raso, com um clima de piada velha da qual se ri com um certo constrangimento. Sob efeito deste filme, a expectativa para sua adaptação do best seller de Paulo Lins, Cidade de Deus, não era nada positiva, ainda mais após vermos o curta Palace II, uma espécie de ensaio para CDD, e autêntica ficção abjeta sobre a favela. Mas, independente de suas qualidades (como um roteiro extremamente bem amarrado e personagens carismáticos), e possíveis fragilidades (como uma excessiva estetização da violência e principalmente a visão limitada da realidade social da favela), o filme foi não somente grande sucesso de público, mas alvo de discussão nos mais diversos níveis sócio-culturais, fazendo do cinema nacional, novamente, assunto essencial do dia a dia cultural. Tamanha foi a repercussão que, menos de dois meses após seu lançamento, a Rede Globo exibia a minissérie Cidade dos Homens, idealizada pela mesma equipe e realizada sob o mesmo processo do longa. Cidade de Deus demonstra que Meirelles parece estar, aos poucos, fazendo uso dos vícios e fragmentação da linguagem publicitária de forma mais racional e integrada à narrativa, caracterizando claramente um passo adiante em sua evolução como cineasta. Além disso, a boa receptividade do filme internacionalmente parece não ter deslumbrado Meirelles, que recusou propostas do cinema americano para se dedicar a um filme sobre a globalização a ser rodado em 2004, mesmo ano em que promete exibir pela TV uma versão em capítulos de Cidade de Deus, ampliada para três horas de duração. Novo sucesso? O tempo dirá, mas o fato é que hoje Meirelles é um dos nomes dos quais esperamos ansiosamente o próximo passo. (G.S./E.V.)

MENDES, David França
(2000 – 2000 Nordestes com Vicente AMORIM)
Um dos mais importantes críticos e animadores cinefílicos do Rio de Janeiro (Tabu, Jornal do Brasil) nos anos 80, David França Mendes preferiu investir sua escrita menos na análise fílmica do que na construção de roteiros, atividade que vem desenvolvendo na última década. Inicialmente contratado como roteirista de 2000 Nordestes, Mendes foi "elevado" à condição de co-diretor no meio do percurso. Primeiro acúmulo de funções numa série que fará dele um cineasta "de carreira" ou apenas intervenção pontual num projeto? Em todo caso, fica difícil saber quais são seus interesses particulares num filme-projeto de outra pessoa, realizado como espécie de primeiro passo documental para a realização de um longa-metragem ficcional. Sobre 2000 Nordestes, consultar o verbete de Vicente Amorim. (R.G.)

MICHILES, Aurélio
(1997 – O Cineasta da Selva)
Michiles aproxima-se do cinema ainda nos anos 70, quando passou a freqüentar cineclubes em Manaus e a realizar seus primeiros super-8. Em 1971, ingressou no Instituto de Artes e Arquitetura da Unb. O seu primeiro trabalho profissional se deu nos anos 80, com um projeto de documentário sobre o guaraná na Amazônia, filme que não chegou a ser concluído. Sua estréia no longa-metragem é o documentário O Cineasta da Selva, produzido pela Superfilmes. O filme aborda a trajetória do cineasta português Silvino Santos no Brasil, onde se fixou como documentarista, no Amazonas. Silvino Santos é um tipo de cineasta normalmente relegado a segundo plano nos estudos históricos: é o cavador, o realizador de "naturais" (documentários) que se propunha a fazer de tudo, cinejornal, publicidade, institucionais etc. Ele termina como "propriedade" de uma família da aristocracia amazonense, como uma espécie de cineasta particular. Isso atesta a pouquíssima independência do cinema brasileiro como indústria, confirmando, ainda, o fato de que a continuidade da produção de filmes no Brasil se deveu muitas vezes à atividade dos "cavadores". Michiles demonstra segurança e sensibilidade na construção narrativa, atingindo resultados satisfatórios e compatíveis na elaboração ficcional e documental. O filme recebeu diversos prêmios, entre eles o de Melhor Filme pela UNESCO e o de Melhor Filme de Diretor Estreante, no Festival de Brasília. Atualmente, Michiles desenvolve o projeto de documentário de longa-metragem intitulado Teatro Amazonas. (LARM)

MOCARZEL, Evaldo
(2002 – À Margem da Imagem)
Fluminense (de Niterói) radicado em São Paulo, Evaldo Mocarzel é um cineasta movido pelo olhar do jornalista que é. Repórter cultural durante anos e até pouco tempo atrás editor do Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo, seu contato com a arte tem sido movido para responder a perguntas que lhe surjam em apurações (mesmo que em apurações domésticas, como por exemplo uma pergunta da filha pequena sobre a morte que acabou gerando sua primeira peça de teatro, um texto infantil). Seu primeiro longa, À margem da imagem, nasceu do curta-metragem Pictures in the park, feito como trabalho final para o curso de cinema que fez em Nova York em 2001, e dialoga claramente com uma tradição de pesquisa social do documentário brasileiro. À Margem da Imagem, um retrato de moradores de rua concebido a partir das pesquisas da filósofa Maria Cecilia Loschiavo dos Santos, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, foi primeiro editado como um curta-metragem de quase 30 minutos e exibido em festivais. Depois, tornou-se um longa. Em ambos os casos, ele inteligentemente ultrapassa os limites do filme tradicional de personagens e de problemática social. Sua problemática (assim como era em Pictures in the park) é o uso da imagem do sofredor como moeda em uma economia do sofrimento. Ora, consciente de que está justamente usando essa imagem em seu filme, ele produz um exercício de denúncia de si mesmo, um inteligente giro metalingüístico sobre o próprio filme. À margem da imagem faz parte de uma tetralogia que ele pretende concluir nos próximos anos para discutir a marginalidade urbana em São Paulo e propor possibilidades de generalização para o Brasil urbano: À Margem do Concreto, sobre ocupações de prédios; À margem do lixo, sobre catadores de papel; e À margem do consumo, sobre uma favela. Um quinto filme ainda completa os planos de Mocarzel: Parteiras, filmado na Amazônia. Cabe esperar por esses outros trabalhos para entender mais profundamente o cineasta Evaldo Mocarzel. Dele, pode-se esperar, sobretudo, um pesquisador do social. Seu cinema é menos estetizante – embora a circularidade de À margem da imagem sugira um artista preocupado – e mais preocupado com a temática. No limite, parece que ele usa o cinema como meio mais do que como fim, o que nem por isso não faz dele menos cineasta. (A.W.)

MOURA, Marcos
(1998 – Iremos a Beirute)
Começou a trabalhar com cinema aos 18 anos, assim que entrou na Universidade Federal do Ceará. Nesse mesmo período (final dos anos 70) entrou para a Casa Amarela (divisão de cinema da Universidade Federal do Ceará) e em seguida ingressou como crítico cinematográfico no jornal Correio do Ceará. Em 1986, Moura entrou para a Escola Internacional de Cinema e TV San Antonio de Los Baños (Cuba), onde se especializou em direção. Dirigiu filmes em super-8 e os curtas metragens Ouso Insinuar (1987, 16mm), El Pudor (1990, 16mm, Cuba) e O Amor não Acaba às 15:30 (1995, 16mm). Seu longa de estréia, Iremos a Beirute (Ceará, 1998), que tem a fotografia assinada por Mário Carneiro, é um filme curioso: mescla climas aparentemente desconectados, e trabalha com uma história pouco usual no cinema brasileiro, que envolve futebol e incesto. Apesar desses fatores diferenciais, Iremos a Beirute não chega a ser uma estréia empolgante. O filme, irregular, é insuficiente para se estabelecer uma análise mais rigorosa acerca das reais possibilidades de Marcos Moura como diretor. (LARM)

MOURÃO, Mara
(1998 – Alô?!, 2002 – Avassaladoras)
Formada em cinema pela New York University, diretora de algumas grandes campanhas publicitárias, realizadora de um vídeo premiado, Mara Mourão estreou no longa-metragem com Alô?!, uma comédia sobre o escroque dentro de cada um de nós. Sem timing (e sem muita graça), o filme entrou e saiu de cartaz em pequeníssimo circuito, sem grandes espasmos de alegria e sem muitos defensores. Corte seco para Avassaladoras, filme lançado com 100 cópias pela Fox, dois atores globais muito em voga no momento (Giovanna Antonelli e Reynaldo Gianecchini). Curiosamente, o olhar atroz para com os personagens é atenuado, o ideal de vida torna-se ser trintão bem-sucedido e viver no glamour da Zona Sul carioca. O filme deixa claras todas as suas limitações temáticas – os personagens não são nada além de clichês – e estilíticas – o filme não é conduzido com nenhum brilho –, mas é impossível deixar de elogiar o valor de face do projeto. Num meio cinematográfico em que todo mundo quer ser artista e povoar seus filmes de verniz intelectual e idealismo mesmo que seja para vender a preço – estético e ideológico – de banana, Avassaladoras é o que é sem medo de sê-lo. Puro objeto de consumo, o filme conseguiu em alguma medida realizar seus objetivos. Não se pode dizer isso de muitos filmes recentes. (R.G.)

MUYLAERT, Anna
(2002 – Durval Discos)
Anna Muylaert conseguiu chamar bastante atenção com sua estréia em longa-metragem, Durval Discos , tendo inclusive ganho diversos prêmios no Festival de Gramado de 2002 (antes havia feito curtas irregulares como As Rosas não Calam e A Origem dos Bebês segundo Kiki Cavalcanti). Muito barulho por nada? Não exatamente, mas a estréia da diretora não deixa claro o que se esperar de seus próximos filmes. Isto porque se a diretora da primeira parte do filme demonstra-se uma boa observadora do cotidiano que trabalha muito bem o tempo de cada plano, a diretora da segunda metade parece mais interessada em apostar em um histerismo e num jogo psicológico óbvio e sem maior interesse. Pode-se dizer que na primeira metade do filme temos uma diretora com um olhar interessante para com o mundo, enquanto na segunda metade temos um filme de uma diretora mais interessada em mostrar orgulho da esperteza de seu roteiro. Fica a dúvida: Anna Muylaert seguirá o caminho da diretora do lado A ou do Lado B? Certamente um nos parece bem mais promissor do que o outro. (F.F.)

Verbetes redigidos por Alexandre Werneck, Carim Azeddine, Cléber Eduardo, Daniel Caetano, Eduardo Valente, Estevão Garcia, Felipe Bragança, Fernando Veríssimo, Filipe Furtado, Gilberto Silva Jr., João Mors Cabral, Luiz Alberto Rocha Melo, Luiz Carlos Oliveira Jr., Ruy Gardnier e Sérgio Alpendre.