Dicionário estreantes: A-B

ABRANCHES, Aluisio
AINOUZ, Karim
ALBUQUERQUE, Isa
ALMEIDA, Amylton de
AMARAL, Tata
AMBERG, Lucas
AMORIM, Vi
cente
ARAGÃO, Paulo
ARAÚJO, Joel Zito
ARAÚJO, José
ARRAES, Guel
ASSIS, Cláudio
ATTALA, Jorge Wolney
BAMBOZZI, Lucas
BARBIERI, Renato
BHOURY, Alexandre
BIAL, Pedro
BLOCH, Sérgio
BODANSKY, Lais
BOLKAN, Florinda
BRANT, Beto
BRAVO, Ricardo
BRAZZA, Afonso

ABRANCHES, Aluisio
(1999 – Um Copo de Cólera, 2002 – As Três Marias)
A experiência de Aluísio Abranches em cinema remonta à década de 80, quando trabalhou como diretor de segunda unidade no obscuro filme americano Where the River Runs Black (1986) e dirigiu o curta-metragem A Porta Aberta (1989). Sua estréia em longa-metragem se deu com a adaptação do romance Um Copo de Cólera, de Raduan Nassar, por ele dirigida e roteirizada. A história do casal que tem uma admirável parceria na cama, mas pouco se entende fora dela, impressiona pela força da encenação das cenas de sexo e pela atuação do casal de protagonistas, Julia Lemmertz e Alexandre Borges, caindo, entretanto, num excesso de verborragia na segunda metade da projeção, possível fruto de excesso de reverência a sua fonte literária. Eram grandes as expectativas quanto a seu segundo longa, As Três Marias, no qual Abranches abandona a função de roteirista (deixada a cargo de Heitor Dalia e Wilson Freire), mas assina a produção e a montagem. Lançado em 2002, As Três Marias, uma história de vingança centrada em quatro mulheres e ambientada em um sertão nordestino estilizadíssimo, revelou-se uma total frustração, um filme onde absolutamente nada parece dar certo. Imerso no mais completo artificialismo, partindo de um roteiro frouxo e incoerente e uma direção com um exagerado tom operístico, realçados por atuações quase caricatas (salva-se, novamente, Julia Lemmertz) e direção de arte e fotografia carregadas de incômoda grandiloquência. Caso sua carreira prossiga pela trilha aberta por As Três Marias, previsões quanto ao futuro de Aluisio Abranches como realizador não nos deixam muito curiosos. (G.S.)

AINOUZ, Karim
(2002 – Madame Satã)
O primeiro grande filme político brasileiro deste novo século é, sem dúvida, obra desse cearense que desembarcou no Rio (após alguns anos vivendo nos EUA) com um projeto de filme acerca de uma das figuras mais controvertidas do imaginário carioca. Corpo político reinventado, o Madame Satã de Ainouz é a imagem do inconformismo, do impacto vital de um homem que ultrapassa os limites do embate social para alcançar um lugar a um só pé mítico e imanente de afirmação da vida. Tendo dirigido dois curtas metragens documentais de temáticas autobiográficas (Seams e Paixão Nacional, o primeiro, uma pérola), iniciou sua carreira entre os movimentos de afirmação gay novaiorquinos, embora deixe claro que nunca tenha procurado fazer o que se poderia chamar de um cinema gay. Para muito além disso, Karim Ainouz aparece, hoje, como a promessa de uns dos mais interessantes cinemas a lançar olhar sobre as políticas cotidianas da normatização da vida e das necessidades urgentes de se cultivar a resistência (tema crucial para o pensamento contemporâneo). (F.B.)

ALBUQUERQUE, Isa
(2002 – Histórias do Olhar)
Ainda não exibido comercialmente, o filme de Isa Albuquerque passou ano passado em alguns festivais nacionais e internacionais. Estréia dela na ficção em longas, marca sua passagem que vem de uma carreira de realizações em documentário desde 1987. Infelizmente, na sua junção de quatro histórias nomeadas independentemente por sentimentos (Inveja, Rancor, Medo e Amor) sobra pretensão (como os nomes dos episódios indicam) e falta desde um tom que una os trabalhos (embora seja proposital o registro diferente em cada um, é preciso alguma conexão menos arbitrária do que os encontrões entre os personagens) até mesmo um trabalho consistente na direção de atores e mise-en-scene. Como primeiro trabalho em ficção, a diretora deve ser parabenizada pela raça em financiar e estar prestes a lançar um longa por suas próprias forças. Mas, artisticamente, espera-se que seu próximo filme nos apresente mais (ou talvez até menos, visto que um de seus problemas talvez seja a velha "síndrome do primeiro longa", onde se deseja falar de tudo ao mesmo tempo). (E.V.)

ALMEIDA, Amylton de
(1997 – O Amor Está No Ar)
Em "A Múltipla Presença", livro editado por Deny Gomes sobre sua obra literária, dramatúrgica e cinematográfica, percebemos a fascinação de Amylton de Almeida sobre Douglas Sirk. Artista e crítico, Almeida passou pelo teatro, pela literatura, pela televisão e pelo cinema, tanto realizando quanto criticando. Trabalhou para a Rede Globo dirigindo especiais ("Os Pomeranos"), realizou documentários independentes (Lugar de Toda Pobreza), mas só realizou um longa-metragem para o cinema, O Amor Está no Ar, estrelado por Eliane Giardini e Marcos Palmeira. Faleceu em 1995, pouco após de terminar as filmagens, ainda sem ver a montagem final de seu filme. De O Amor Está no Ar, filme com uma passagem fugaz pelo circuito exibidor, lembramos acima de tudo de um melodrama sirkiano encenado em tom de novela, sem o barroquismo dramático do diretor-matriz mas híbrido o suficiente para criar interesse. O enredo versava sobre uma mulher em seus 40 anos, bem postada socialmente porém com vida emocional frágil. Apresentando um programa de rádio que une casais, ela se apaixona por um jovem semi-analfabeto recém-chegado de Minas Gerais. Mesmo irregular, o filme de Amylton de Almeida consegue extrair alguns momentos fortes de amor louco e desespero, como na música "Por Amor", de Roberto Carlos, convocada e executada no filme para dar a dimensão dos personagens. (R.G.)

AMARAL, Tata
(1996 – Um Céu de Estrelas, 2000 – Através da Janela)
Realizadora de alguns dos mais notáveis curtas-metragens do início da década (Poema-Cidade, sobre o poeta concreto, músico e tradutor Augusto de Campos, e Viver a Vida, sobre o cotidiano frenético e malandro de um office-boy que precisa driblar com humor arte as mazelas de sua condição), Tata Amaral causou um pequeno furacão quando lançou seu primeiro longa, Um Céu de Estrelas. Nem tanto pela violência e pelo extremismo dos personagens, e mais pela aparição no cenário daquele momento de um filme com intenso desejo de ficcionalizar sobre o micro para atingir o macro, confiando em princípios formais fortes (no caso, a câmera na mão, sempre próxima demais dos personagens, tentando quase lhes roubar uma verdade que eles tentam não revelar). O desespero e a fugacidade de Um Céu de Estrelas dão lugar ao ritmo do cotidiano de uma dona de casa aposentada em Através da Janela, filme recebido com muito mais frieza quando da época de seu lançamento. Injustamente, vale dizer. Mesmo que o filme tenha alguns problemas sérios (o ator principal, a música mais dramática do que a imagem, a cenografia exagerada de algumas locações), Tata Amaral evolui com esmero e talento seu universo de personagens solitários que desejam loucamente encontrar num outro (a namorada, o filho) um objeto para seu excesso de amor. Outra de suas obsessões, a vida dos jovens das classes baixas, volta em Vinte-Dez, média-metragem em digital realizado com Francisco Cesar Filho, último trabalho de Tata até a presente data. A atenção aos pequenos aspectos do cotidiano (poucas cenas no cinema brasileiro terão sido mais carregadas de beleza do que Laura Cardoso segurando a camisa do filho em Através da Janela) e aos distúrbios emocionais dele decorrentes colocam Tata Amaral num patamar diferenciado entre os estreantes dos anos 90. É uma verdadeira cineasta, e não apenas uma realizadora de filmes. (R.G.)

AMBERG, Lucas
(1998 – O Caminho dos Sonhos)
Exibido pela primeira vez em Gramado com o desastrado título de Um Sonho no Caroço do Abacate (depois piedosamente mudado para o genérico acima, com o qual foi arremessado no cinema), o filme talvez inaugure uma categoria, a do longa-porfolio (citando o chamado curta-portfolio, que ajudaria o cineasta a fazer um longa depois), possivelmente visando uma carreira internacional para o cineasta. Realizado com esmero técnico e nenhum coração visível na tela (como os já mencionados curtas), o filme ainda caiu no mau gosto de colocar atores americanos como Elliott Gould e Talia Shire em cena, dublados para o português (havia uma versão em inglês sendo filmada simultaneamente), tentando conseguir espaço no tal mercado internacional, o que somente engessava ainda mais a já precária mise-en-scene. Do catarinense Lucas Amberg, cineasta que nunca negou a influência do cinema americano na sua formação (University of Southern Califórnia), se sabe pouco desde então (as últimas notícias o colocam dando cursos de cinema, à frente da Fundação de Cinema do Paraná, participando de júris e reuniões de entidades classistas do cinema nacional), apenas ocasionais tentativas para a realização de um longa histórico (em Joinville). (E.V.)

AMORIM, Vicente
(2000 – 2000 Nordestes com David França MENDES, em finalização – O Caminho das Nuvens)
A estréia em longa-metragem de Vicente Amorim, 2000 Nordestes, co-dirigido por David França Mendes, foi fruto da pesquisa para O Caminho das Nuvens, ainda inédito no circuito comercial. A dupla registrou em câmera digital uma viagem de carro, por três semanas e quatro mil quilômetros, os cenários de quatro Estados do Nordeste e depoimentos de nordestinos. Completaram esse painel da "nordestinidade" com migrantes em São Paulo e no Rio, mais trechos de Deus e o Diabo Na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, as obras-primas dos cineastas, a quem dedicam o trabalho. O filme busca fazer um levantamento do imaginário nordestino contemporâneo, com sua religiosidade, seus sofrimentos, seus sonhos e os arranhões na esperança. O resultado é um mosaico de vozes e imagens que, por tentar retratar o universo geográfico e cultural captado pela câmera como um objeto único, fecha portas para a construção de identidades individuais. Os entrevistados não são mostrados como seres singulares, mas como parte de uma massa nordestina. Não falam sobre suas vidas, mas sobre a condição de nordestino. Surge das imagens e fragmentos de falas um povo alienado e impotente, que sobrevive à penúria com um sorriso no rosto e sem nenhuma indignação. É possível detectar na escolha e no encadeamento dos depoimentos uma postura de superioridade em relação aos entrevistados: ora adotam a compaixão, ora exploram o exotismo. Pelo que se viu até agora de O Caminho das Nuvens, sobre a viagem de bicicleta de uma família de retirantes até o Rio, Amorim afunila o enfoque, mas reafirma a visão, popularizada desde Euclides da Cunha, segundo a qual o sertanejo é a reserva ética do Brasil. Amorim foi assistente de vários filmes e também dirigiu comerciais e clipes. Já havia co-dirigido com França Mendes os curtas Vaidade (1990) e Lona (1991). Também fez em parceria, com João Amorim e Carlos Duba, a animação Não Fique Pilhado (2000). (C.E.)

ARAGÃO, Paulo
(1998 – Simão, O Fantasma Trapalhão, 1999 – O Trapalhão e a Luz Azul, 2003 – Didi, o Cupido Trapalhão)
Filho do comediante Renato Aragão, Paulo (ao lado de Alexandre Bhoury) assume a direção da maioria dos filmes estrelados por Didi Mocó após a dita retomada. Bebendo do que de pior havia sido feito com a grife Os Trapalhões no final da década de 80, Paulo tem demonstrado ser dono de uma mão pesada demais para o tom fabular/ingênuo cultivado ao longo dos mais de 40 anos de carreira do pai. Se em Simão, o fantasma trapalhão (1998) e O Trapalhão e a Luz Azul (1999), o cinema de Paulo Aragão já parecia transparecer um certo desinteresse (seja estético, seja temático) por aquilo que representava na tela (deixando-se levar por fórmulas narrativas débeis), em Didi – o Cupido Trapalhão, esse sintoma se acentua na forma submissa com que o filme apela quase que apenas a truques primários de marketing (rostos e corpos famosos) para se sustentar. O pouco cuidado com a produção e a encenação sem vigor artesanal (que só fazem desfavorecer o humor circense e os "chistes" de Didi Mocó) tem revelado em Paulo Aragão um mero executor de filmes ruins, muito aquém das possibilidades da grife que "herdou". (F.B.)

ARAÚJO, Joel Zito
(2001 – A Negação do Brasil)
Desde 1984 ligado a realizações documentais e institucionais, Joel Zito Araújo estréia em longas com um documentário que é também a extensão audiovisual de uma pesquisa acadêmica que deu origem ao livro com o mesmo nome do filme. Um grande levantamento da presença do negro na dramaturgia televisiva nacional, o filme tem o mérito maior de uma intensa pesquisa de imagens de arquivo da muito pouco pensada memória da TV nacional. Só pela exibição e destaque dado a esta fonte como importantíssima forma de compreender o imaginário nacional, o filme já seria documento importante. Sua estrutura narrativa, baseada em parte num depoimento em primeira pessoa do cineasta, como negro cujo imaginário foi formado por este material que ele analisa, tem boas idéias, mas acaba escorregando um pouco no excesso repetitivo dos mesmos argumentos que acabam pouco aprofundados e, principalmente, pouco contextualizados no que escape simplesmente à produção audiovisual televisiva, que acaba parecendo um pouco um mundo em si mesmo. Se fica o extraordinário trabalho de pesquisa, a argumentação em si enriquece pouco (e nisso os depoimentos colhidos pouco ajudam, aliás) e não torna o filme mais impactante como poderia ser. Araújo ganhou o segundo edital do MinC de filmes de baixo orçamento, e prepara atualmente As Filhas do Vento, projeto sobre o qual não temos maiores informações. (E.V.)

ARAÚJO, José
(1997 – O Sertão das Memórias, em finalização – As Tentações do Irmão Sebastião)
Ex-seminarista do interior do Ceará, José Araújo percebeu cedo que não tinha vocação para seguir carreira religiosa. Foi estudar cinema nos Estados Unidos, onde começou a trabalhar como técnico de som. Tendo trabalhado com diretores como Percy Adlon e Gregory Nava, especializou-se na edição sonora. Realizou inúmeros trabalhos na área, no Brasil e fora, até que em 1996 estreou no longa-metragem com O Sertão das Memórias, um dos mais impressionantes primeiros filmes da geração pós-95 e uma das obras mais vigorosas do cinema brasileiro no que diz respeito à cinematografia do sertão. No filme, a política importa – o vocabulário e a simbologia glauberiana de O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro são apropriados, com resultados desiguais – , mas é a vivência do sertanejo, irredutível aos dados antropológicos, sociais ou políticos, que importa aqui. Todo um mundo de sons: o forró dá lugar à incessante ladainha das rezadeiras, que faz coro com a força dos sons da natureza, que por sua vez são apropriados e sintonizados com a trilha de Naná Vasconcelos. Mas O Sertão das Memórias é mais do que um exercício em edição de som: trata-se de um filme absolutamente pessoal – não à toa, a cidade do filme é Miraíma, terra natal de Araújo, e os protagonistas são seus pais – que convoca vigorosamente o cinema para criar um amálgama de lembranças pessoais, observação dos costumes, mitologias políticas e desejos de mudança. Poucas cenas terão ficado mais na memória do que o pai de Araújo despejando os grãos, seus alimentos, na mirrada mesa da sala familiar. As Tentações do Irmão Sebastião, próximo filme do diretor, deve estrear em breve. O filme se passa num futuro próximo – cerca de 2030 – numa grande cidade do Brasil, num mundo destruído pelo apocalipse. O protagonista é um noviço com dúvidas religiosas. Coincidência? (R.G.)

ARRAES, Guel
(2000 – O Auto da Compadecida, 2001- Caramuru, em lançamento – Lisbela e o Prisioneiro)
Avaliar o trabalho de Guel Arraes procurando separar o realizador e produtor televisivo do cineasta é uma proposição estéril. Afinal, muito da experiência adquirida durante os anos 70 na França (em que acumulou participação no Comitê do Filme Etnográfico de Jean Rouch, um breve trabalho como assistente de Godard, e a realização de curtas documentais em super-8) costuma ser levado em conta quando se coloca em questão a reforma que ele promoveu com grande sucesso na televisão brasileira (principalmente no que diz respeito à dinâmica de trabalho implantada no núcleo dramatúrgico que leva seu nome na Rede Globo). Armação Ilimitada e TV Pirata são séries que revolucionaram o humor televisivo na década de 80 promovendo uma saudável mistura de linguagens e uso extensivo de "truques" de cinema; nos anos 90, as Comédias da Vida Privada e o projeto de adaptações de clássicos da literatura brasileira trouxeram para a TV mais um sopro de renovação, abrindo as portas para cineastas, diretores de teatro e dramaturgos. Mesmo os dois longa-metragens de Arraes lançados até a presente data, para além de constituirem meras "versões para cinema" de mini-séries, são experiências pioneiras que procuram apostar num formato híbrido desde a concepção: O Auto da Compadecida refletiu os altos índices do ibope nas bilheterias, enquanto Caramuru – A Invenção do Brasil, obra muito mais feliz e bem acabada, obteve sucesso relativo. A estréia de Lisbela e o Prisioneiro deve colocar em questão novamente, e desta vez com razão, um problema fundamental: se o cineasta Guel Arraes é afinal capaz de imprimir um verdadeiro estilo à tela grande ou se prevalece o que, até agora, parecem ser resquícios da linguagem televisiva – e que, no cinema, ganham aparência de estética víciada. O caso de Caramuru – A Invenção do Brasil é sintomático: nele, a subtração dos "documentários" realizados pelo parceiro Jorge Furtado – de longe, o que havia de mais inventivo e engraçado na série, e que permitia à parte ficcional breves e necessários respiros – denuncia um erro estratégico, a aposta numa narrativa ligeira e fragmentada em zilhões de cortes rápidos que terminam depondo contra a encenação (como no Auto) e causando a impressão (falsa, esperamos) que o estilo de Arraes termina não funcionando tão bem no cinema. (FV)

ASSIS, Cláudio
(2002 – Amarelo Manga)
A década de 90 viu Pernambuco aparecer no cenário cultural brasileiro não mais como um estado rico em expressões folclóricas apenas. A produção artística que alcançou o sul do país se impôs por ser diversa, de alta qualidade e universalmente válida, apesar de manter um sotaque característico. Foi uma conjunção de fatores que nos deu Chico Science e Mundo Livre SA, bem como Baile Perfumado e Cláudio Assis. Amarelo Manga, seu primeiro longa, vem depois de muito tempo e trabalho empregados no cinema pernambucano. O nome de Assis aparece ligado ao próprio Baile Perfumado, como gerente de produção, e a uma lista de curtas onde atua como produtor e ator. O caminho até Amarelo Manga conta ainda com a direção de curtas como Soneto do Desmantelo Blue e Texas Hotel. Dono de idéias absolutamente particulares, defensor feroz de um cinema de autor e independente, condizente com a situação econômica e cultural nacional, Cláudio Assis faz com que sua obra reflita as condições nas quais é criada. Amarelo Manga é fruto de sua preocupação de provar que o cinema, mesmo sendo regional, não pode ficar preso a temáticas populares. Assis fez o longa com muito pouco dinheiro, adequando a produção à penúria financeira sem comprometer o resultado estético que muitas vezes pode até incomodar, mas sem nunca de se fazer notar. Amarelo Manga tem defeitos de primeiro filme e pode parecer um pouco gratuito no tratamento do seus polêmicos personagens, mas não deve ser atacado por isso. Antes de tudo é um filme que se diferencia da média da produção nacional, mostrando um caminho viável para o baixo orçamento. A raiva que contém é um reflexo das idéias que Cláudio Assis tão corajosamente defende, à sua maneira, em nome do cinema em que acredita. (JMC)

ATTALA, Jorge Wolney
(2001 – A Vida em Cana)
Poucos sabiam da existência do cineasta Jorge Wolney Attala antes do documentário A Vida em Cana. Nascido em São Paulo, formou-se em economia na Universidade do Texas, com Pós Graduação na Business School Lausanne. Também estudou na New York Film Academy. Na sua estréia em longa-metragem, premiada em vários festivais mundo afora por critérios tão nebulosos quanto os de qualquer festival, faz militância política de classe. Filho de um líder do setor usineiro nos anos 70, Attala rodou durante os sete meses da colheita de cana no interior paulista. Seu filme defende a permanência da atividade dos bóias-frias para erguer sua bandeira contra uma lei que proíbe no futuro o trabalho manual nos canaviais, não medindo esforços para soar convincente. A semi-escravidão do sub-proletariado é tratada como se fosse quase a vida no paraíso. Embora seja verdade que poucos diretores foram tão honestos na transparência de suas propostas durante os últimos anos, poucos também tiveram proposta política e estética tão vexatória. Não sabemos se é o caso de torcer para um progresso do diretor ou de desejar antes um radical transformação do cidadão, abrindo seus olhos para um universo que, de tão próximo a ele, só é visto a léguas de distância. Resta ver, também, que outros temas atarem seu olhar. (C.E.)

BAMBOZZI, Lucas – com Beto MAGALHÃES, Cao GUIMARÃES
(2000-O Fim do Sem Fim)
Realizam juntos este documentário sobre as profissões em vias de extinção devido à uma modernidade cada vez mais atenta ao lucro e a praticidade, mostrando uma visão antropofágica da cultura nacional. Filmado em diversas regiões do país, o que vemos na tela é a imagem do brasileiro como um ser, acima de tudo, inventivo, teimoso e visionário. Mescla diferentes formatos e texturas (16mm, super 8 e digital), o que obtém resultados fotográficos interessantes, mas também proporciona no espectador desconforto em alguns momentos, ocasionado pelas abruptas mudanças no tratamento dado à imagem. Esse desconforto pode ser positivo na medida em que nos fornece um estranhamento acionador de um pensamento reflexivo sobre a forma, que está atrás dela mesma e de um discurso, mas, quando excessivo, perde o tom.
Beto Magalhães é bacharel em economia e levava em sua bagagem a produção e direção de vídeos institucionais para empresas. Cao Guimarães, graduado em filosofia e possuidor do titulo de "Master of Arts in Photography", tinha feito trabalhos em critica de arte, literatura e fotografia. Lucas Bambozzi, um dos poucos realizadores em atividade que não cultuam um fetiche exclusivo e fiel à pelicula e notadamente, ao formato 35mm, realizou diversos documentários e videoclips em DV, além de curta-metragens, cd-roms, instalações e obras interativas. Talvez seja por ter essa ânsia de investigar experiências em outros meios e não eleger um determinado suporte como veiculo único de sua expressão que Arthur Omar (no material que acabou não sendo aproveitado na edição final de O fim do sem fim, mas que foi exibido no CCBB-RJ) afirmou ver em Lucas um possível discipulo e, conseqüentemente, seguidor de um perfil de realizador pouco cultivado e pouco incentivado por aqui. (E.G.)

BARBIERI, Renato
(2001 – Malagrida, em finalização – As Vidas de Maria)
Egresso do grupo que, nos anos 80, por meio da  produtora Olhar Eletrônico, renovou a telereportagem, Renato Barbieri, nos últimos 20 anos, tem se dedicado ao documentário. Formado em psicologia e semiótica, busca temas pouco óbvios, mal tratados ou ignorados pelas câmeras, e lhes dá tratamento singular, em flerte com a videoarte. Nos trabalhos mais recentes, Atlântico Negro: Na Rota dos Orixás e Malagrida, busca evidências da religiosidade brasileira, as quais usa para compor uma mitologia. Ainda na Olhar Eletrônico, fez duas reportagens, Vira Volta (1983) e Vira Lixo (1983), sobre a natureza e a reciclagem de embalagens. O trabalho mais importante dessa fase foi Do Outro Lado da Sua Casa (1985), em parceria com Marcelo Machado e Paulo Morelli, que vai ao universo dos trabalhadores de rua, não para se confirmar uma imagem já estabelecida a partir do olhar dos diretores para os personagens, mas para dar a eles a possibilidade de elaborar suas visões, ou seja, um discurso dos entrevistados sobre o mundo. Barbieri já havia trabalhado com Machado em Marly Normal, rara experiência na ficção sobre a automatização de uma operária. Também ridicularizou os pronunciamentos presidenciais na televisão em Expiação (1989) e enfocou a atividade pesqueira no litoral baiano em Rudimentos (1993). No média metragem Na Rota dos Orixás, faz a ponte entre Brasil e África, por meio de etnografia mística e do oceano Atlântico. Malagrida, no contexto geral de seus documentários e reportagens, é um retrocesso. Para narrar a vida do jesuíta itaniano, radicado no século XVIII no Brasil e perseguido pelo Marquês de Pombal em Portugal, afunda-se no didatismo escolar e catequético, empregando metáforas primárias, caindo no maniqueísmo histórico e adotando um olhar mitificador, de modo a transformar o cinebiografado em lenda popular-religiosa. Sua busca pelo objeto sagrado atola-se na vulgaridade cinematográfica. Parece institucional feito nos moldes exigidos pelo patrão. Finaliza atualmente sua estréia no longa de ficção, com um projeto vencedor de um dos prêmios de Baixo Orçamento do Governo passado. Espera-se que tenha mais do seu trabalho anterior do que deste primeiro filme em longa-metragem. (C.E.)

BHOURY, Alexandre
(1999 – O Trapalhão e a Luz Azul, 2000 – Um Anjo Trapalhão, 2003 – Didi, o Cupido Trapalhão)
Com três filmes estrelados por Renato Aragão na filmografia, Alexandre Bhoury parece muito pouco capaz de revitalizar o vigor cômico que marcaram os grandes filmes da carreira do comediante. Em verdade, se levarmos em conta os três títulos com seu nome nos créditos (O Trapalhão e a Luz Azul, Um anjo trapalhão e Didi – o Cupido Trapalhão) parece que sua filmografia (que nunca chegou a despertar muito interesse) segue uma vertiginosa e triste ladeira abaixo. Assim como seu parceiro (Paulo Aragão) falta a Bhoury o apuro artesanal e a habilidade com o tempo-cômico indispensáveis para a construção do picadeiro onde Renato Aragão pudesse desfilar seu talento. A despeito de seus sucessos de público (amuletados na figura carismática de Didi), Alexandre Bhoury vem praticando um cinema sempre à toque de caixa e desanimado, mecanizado demais para que o humor de Renato Aragão consiga transparecer de forma consistente. (F.B.)

BIAL, Pedro
(1999 – Outras Estórias)
Bial apareceu na cena cultural no início da década de 80, como integrante do grupo de poesia Os Camaleões. Firmou carreira como jornalista televisivo, ficando célebre como correspondente internacional da Rede Globo, cobrindo uma série de eventos históricos como a queda do muro de Berlim e o fim do regime comunista na Rússia. Retorna ao Brasil em meados da década de 90, assumindo o posto de apresentador do programa dominical Fantástico. Sua única experiência como cineasta, até o momento, foi o longa-metragem Outras Estórias, que adapta ao cinema o universo dos contos de Guimarães Rosa. Com uma recepção dividida entre detratores (que acusam uma demasiada reverência à prosa do escritor e um excesso de formalismo), e defensores (realçando que o filme consegue penetrar de forma quase poética neste mundo de Rosa), Outras Estórias permanece até o momento mais como uma aventura diletante de Bial, que não apresentou desde então um novo projeto cinematográfico, mas permanece desfrutando seu status de celebridade pop, ao qual foi alçado após apresentar o Big Brother Brasil. (G.S.)

BLOCH, Sérgio
(2000 – Tainá)
Enquanto Olho da Rua não consegue sair do suporte digital para a película, Tainá continua sendo o único longa-metragem de Sérgio Bloch, realizado em co-direção com Tânia Lamarca. Como Lamarca assina a "concepção final" do filme, torna-se difícil especular sobre algum interesse propriamente estético do diretor pelo filme. Como contratado de um projeto com forte apelo de público (assinado Pedro Carlos Rovái), vê-se no filme menos um trabalho de coração & tripas do que uma excelente oportunidade para adquirir know-how, praticar o ofício de cineasta e pagar as contas de casa – o que, convém dizer, são oportunidades bem raras no país. Sérgio Bloch fez um trabalho digno na ficção (supõe-se que foi contratado para dirigir as crianças), mas seu terreno é mesmo o documentário. Realizou seu primeiro documentário em 1986 e, depois, dirigiu e produziu diversos documentários para ONGS, além de institucionais. Em 1994 reside na França e realiza naquele país Quem É Você?, um filme sobre multiculturalismo, que recebeu o apoio do Departamento Cultural da Unesco em Paris. Realizador do premiado média-metragem Burro sem Rabo, sobre a população que vive de catar bugigangas na rua para revender, persegue o tema da desassistência e da rua com seu novo filme. Uma sensibilidade particular do cineasta com seus entrevistados cria uma cumplicidade forte e poética que a película registra e transmite a nós, que apreciamos. Esperemos Olho da Rua para ter a confirmação definitiva. (LARM/R.G.)

BODANSKY, Lais
(2000 – Bicho de Sete Cabeças)
Formada em cinema pela FAAP, e filha do diretor e fotógrafo Jorge Bodanzky, realizou os seus primeiros trabalhos em vídeo. Desliga Esse Troço! ganhou um prêmio oferecido pelo programa Cinemania da extinta TV Manchete e Bia Bai ganhou o Festival do Minuto em 1993. Em parceria com o marido Luiz Bolognesi desenvolveu o projeto Cine Mambembe. O casal botou o pé na estrada e durante 8 meses percorreram cerca de 15000 quilômetros levando o cinema brasileiro para os brasileiros que não tem acesso a ele. Os filmes mostrados eram todos curta-metragens incluindo Cartão Vermelho, da própria Laís, e Pedro e o Senhor, de Bolognesi. Do registro da experiência nasceu o média Cine Mambembe, o Cinema Descobre o Brasil. A promessa de uma promissora realizadora sugerida nesse trabalho só foi confirmada com a estréia de Bicho de Sete Cabeças. Apresentando um filme com os recursos expressivos (montagem, fotografia, trilha sonora) executados harmonicamente ao tema e à estrutura dramática Laís demonstrou ser capaz de realizar um cinema jovem inclinado a atrair o público e comunicar-se com ele. Esperamos que o futuro somente desenvolva estas qualidades, importantíssimas no cinema brasileiro de hoje. (E.G.)

BOLKAN, Florinda
(2000 – Eu Não Conhecia Tururu)
Desnecessário discorrer o currículo da cearense Florinda Bulcão como atriz na Europa, a partir de 1968 e até este ano mesmo. Tendo realizado dezenas de filmes (inclusive Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, e filmado com, por exemplo, De Sica), a então chamada Florinda Bolkan é bem conhecida. Após voltar ao Brasil, no fim dos anos 90, faz um papel em Bela Donna e filma este Eu Não Conhecia Tururu, e é difícil dizer por qual dos dois será menos lembrada. Tururu não só é bastante equivocado como construção dramática, como também serve de sintoma da viciada distribuição de filmes nacionais em parte da década, tendo ficado quase dois anos nas prateleiras após estrear em Gramado, e ao ser lançado fez menos de 1000 espectadores pagantes no país, em 2002. Ficção de forte cunho autobiográfico (no qual ela também faz uma mulher que volta à suas origens cearenses após temporada na Europa), o filme não chega a ser especialmente ruim, mas como seus resultados de bilheteria indicam, simplesmente não encontrava apelo com qualquer gênero do público de cinema de hoje. Não se sabe se Bolkan planeja dar continuidade a esta carreira, ou se Tururu era um filho único, mas no que depender deste, será como atriz (e mulher belíssima) que mais se lembrará dela. (E.V.)

BRANT, Beto
(1997 – Matadores, 1998 – Ação entre Amigos, 2001 – O Invasor)
Apesar de gostar de Tarantino, Brant rechaça a comparação com seus filmes. Suas referências não estão primordialmente no cinema que já trabalhou os gêneros ligados à violência (ainda que existam), mas sim na literatura de Rubem Fonseca – influência clara nos escritos do roteirista de Brant, Marçal Aquino – e numa clivagem histórico-geográfica que privilegia assuntos bem próprios da realidade brasileira (o escoamento de carros roubados pela fronteira Brasil-Paraguai em Os Matadores, o acerto de contas com a ditadura militar em Ação Entre Amigos, a urgência do aqui-e-agora na corrompida metrópole paulistana de O Invasor). Graduado em cinema pela FAAP em 1987, Brant primeiramente realiza videoclipes e três curtas-metragens (Aurora, de 1987, Dov’è Meneghetti?, de 1989, e , de 1993, este último premiado no Festival de Havana). Ação Entre Amigos é feito logo em seguida a Os Matadores, em 1998, e reforça algumas opções narrativas (desvendamento gradual da trama através de flash-backs) e de mise-en-scène (ora perfeitamente aprazível de se ver, ora travada por um certo academicismo). Mas é com O Invasor que Brant e Aquino encontram uma forma de expressão realmente vigorosa e original, além dos melhores diálogos e do conteúdo mais protéico desde que teve início essa parceria. Explorando uma textura áspera (fotografia contrastada, uso de película 16 mm) e as potencialidades – permitidas pela habilidade de Toca Seabra (diretor de fotografia e operador) – da câmera na mão, Brant consegue dar a O Invasor a forma acabada de que os dois filmes anteriores parcialmente careciam, assim como o despojamento e a liberdade aos atores fundamental para o seu sucesso. As interpretações representam um dos pontos altos do filme, com o já óbvio destaque para a estréia cinematográfica de Paulo Miklos, que Brant conhece desde os tempos em que dirigiu clipes dos Titãs. O Invasor é daqueles filmes onde o processo de filmagem é tão criador quanto qualquer frase do roteiro ou qualquer anotação da decupagem. Um grande filme que fala mais da sociedade brasileira de hoje do que os seus próprios autores poderiam presumir de início – e que confirma Beto Brant como um dos principais nomes da retomada. (L.C.O.Jr.)

BRAVO, Ricardo
(1999 – Oriundi)
Cineasta que estudou nos EUA nos 80, e fez carreira com curtas-metragens como Cheque-Mate (96). Acabou por estrear em longa-metragem com Oriundi, um filme com suas ambições de tratar do Brasil mesmo que a partir de alguns pressupostos um tanto esquisitos, onde primeiro se reconhece um modelo como falido e depois termina por ver nele a saída. Se há ambições em Oriundi, é difícil contornar a forma como o diretor em sua estréia se filia, desde os primeiros planos, a um academicismo de encenação e uma dramaturgia televisiva. Sustentando-se à base de surrados jogos de roteiros (característica que trouxe de seus curtas) e na atuação de Anthony Quinn, a estréia de Bravo parece indicá-lo como mais um diretor sem o gosto pelo risco que lhe permita alçar vôos maiores no futuro. (F.F.)

BRAZZA, Afonso
(2001 – Tortura Selvagem – A Grade)
Endeusado por guetos trash como o cineasta verdadeiramente independente, Afonso Brazza merece um papel e um reconhecimento maiores do que tem hoje, semanas depois de seu falecimento. Fenômeno cult em Brasília, logo levado ao show de horrores do programa de Jô Soares e elevado imediatamente à condição de herói naïf, Brazza foi no entanto muito mais simples e menos espalhafatoso do que seus admiradores. Apaixonado pelo universo de cinema e tendo trabalhado na Boca do Lixo na época da efervescência, Brazza mudou-se para Brasília e fez seus filmes como pôde. Geralmente em vídeo, rodou seis filmes de 1982 a 1997. Erros de continuidade, desrespeito ao eixo de 180º que faz com que não consigamos posicionar mentalmente onde se encontra cada personagem, erros de lógica, narrativa inexistente, tudo isso faz os amantes do trash urrar com filmes que podem se chamar Inferno no Gama, Matador de Escravos, Gringo Não Perdoa, Mata, ou seu longa em película, Tortura Selvagem – A Grade, filmado, entre outros, com os músicos do grupo Os Raimundos. Os filmes de Brazza permitem, no entanto, uma apreciação mais fina: o desrespeito (ou o desconhecimento, por mais que ele insistisse que errava de propósito) sistemático das convenções fílmicas por vezes nos deixa diante de hieróglifos ou inscrições rupestres bastante estimulantes. O ato de filmar vale mais do que o filme que se produz, mas ainda assim é possível encontrar vislumbres de beleza em alguns planos e cortes. Fuga Sem Destino, já terminado, espera e merece uma exibição em sua homenagem. (R.G.)


Verbetes redigidos por Alexandre Werneck, Carim Azeddine, Cléber Eduardo, Daniel Caetano, Eduardo Valente, Estevão Garcia, Felipe Bragança, Fernando Veríssimo, Filipe Furtado, Gilberto Silva Jr., João Mors Cabral, Luiz Alberto Rocha Melo, Luiz Carlos Oliveira Jr., Ruy Gardnier e Sérgio Alpendre.