Dicionário
estreantes: A-B

ABRANCHES,
Aluisio
AINOUZ, Karim
ALBUQUERQUE, Isa
ALMEIDA, Amylton de
AMARAL, Tata
AMBERG, Lucas
AMORIM, Vicente
ARAGÃO, Paulo
ARAÚJO, Joel
Zito
ARAÚJO,
José
ARRAES, Guel
ASSIS, Cláudio
ATTALA, Jorge Wolney
BAMBOZZI, Lucas
BARBIERI, Renato
BHOURY, Alexandre
BIAL, Pedro
BLOCH, Sérgio
BODANSKY, Lais
BOLKAN, Florinda
BRANT, Beto
BRAVO, Ricardo
BRAZZA, Afonso
ABRANCHES,
Aluisio
(1999 Um Copo
de Cólera, 2002 As Três Marias)
A experiência de Aluísio
Abranches em cinema remonta à década de 80, quando trabalhou
como diretor de segunda unidade no obscuro filme americano Where the
River Runs Black (1986) e dirigiu o curta-metragem A Porta Aberta
(1989). Sua estréia em longa-metragem se deu com a adaptação
do romance Um Copo de Cólera, de Raduan Nassar, por ele
dirigida e roteirizada. A história do casal que tem uma admirável
parceria na cama, mas pouco se entende fora dela, impressiona pela força
da encenação das cenas de sexo e pela atuação
do casal de protagonistas, Julia Lemmertz e Alexandre Borges, caindo,
entretanto, num excesso de verborragia na segunda metade da projeção,
possível fruto de excesso de reverência a sua fonte literária.
Eram grandes as expectativas quanto a seu segundo longa, As Três
Marias, no qual Abranches abandona a função de roteirista
(deixada a cargo de Heitor Dalia e Wilson Freire), mas assina a produção
e a montagem. Lançado em 2002, As Três Marias, uma
história de vingança centrada em quatro mulheres e ambientada
em um sertão nordestino estilizadíssimo, revelou-se uma
total frustração, um filme onde absolutamente nada parece
dar certo. Imerso no mais completo artificialismo, partindo de um roteiro
frouxo e incoerente e uma direção com um exagerado tom operístico,
realçados por atuações quase caricatas (salva-se,
novamente, Julia Lemmertz) e direção de arte e fotografia
carregadas de incômoda grandiloquência. Caso sua carreira
prossiga pela trilha aberta por As Três Marias, previsões
quanto ao futuro de Aluisio Abranches como realizador não nos deixam
muito curiosos. (G.S.)
AINOUZ,
Karim
(2002 Madame Satã)
O primeiro grande filme
político brasileiro deste novo século é, sem dúvida,
obra desse cearense que desembarcou no Rio (após alguns anos vivendo
nos EUA) com um projeto de filme acerca de uma das figuras mais controvertidas
do imaginário carioca. Corpo político reinventado, o Madame
Satã de Ainouz é a imagem do inconformismo, do impacto
vital de um homem que ultrapassa os limites do embate social para alcançar
um lugar a um só pé mítico e imanente de afirmação
da vida. Tendo dirigido dois curtas metragens documentais de temáticas
autobiográficas (Seams e Paixão Nacional,
o primeiro, uma pérola), iniciou sua carreira entre os movimentos
de afirmação gay novaiorquinos, embora deixe claro que nunca
tenha procurado fazer o que se poderia chamar de um cinema gay.
Para muito além disso, Karim Ainouz aparece, hoje, como a promessa
de uns dos mais interessantes cinemas a lançar olhar sobre as políticas
cotidianas da normatização da vida e das necessidades urgentes
de se cultivar a resistência (tema crucial para o pensamento contemporâneo).
(F.B.)
ALBUQUERQUE,
Isa
(2002 – Histórias do Olhar)
Ainda não exibido comercialmente, o filme de Isa Albuquerque passou
ano passado em alguns festivais nacionais e internacionais. Estréia
dela na ficção em longas, marca sua passagem que vem de
uma carreira de realizações em documentário desde
1987. Infelizmente, na sua junção de quatro histórias
nomeadas independentemente por sentimentos (Inveja, Rancor, Medo e Amor)
sobra pretensão (como os nomes dos episódios indicam) e
falta desde um tom que una os trabalhos (embora seja proposital o registro
diferente em cada um, é preciso alguma conexão menos arbitrária
do que os encontrões entre os personagens) até mesmo um
trabalho consistente na direção de atores e mise-en-scene.
Como primeiro trabalho em ficção, a diretora deve ser parabenizada
pela raça em financiar e estar prestes a lançar um longa
por suas próprias forças. Mas, artisticamente, espera-se
que seu próximo filme nos apresente mais (ou talvez até
menos, visto que um de seus problemas talvez seja a velha "síndrome
do primeiro longa", onde se deseja falar de tudo ao mesmo tempo).
(E.V.)
ALMEIDA,
Amylton de
(1997 O Amor
Está No Ar)
Em "A Múltipla Presença",
livro editado por Deny Gomes sobre sua obra literária, dramatúrgica
e cinematográfica, percebemos a fascinação de Amylton
de Almeida sobre Douglas Sirk. Artista e crítico, Almeida passou
pelo teatro, pela literatura, pela televisão e pelo cinema, tanto
realizando quanto criticando. Trabalhou para a Rede Globo dirigindo especiais
("Os Pomeranos"), realizou documentários independentes (Lugar
de Toda Pobreza), mas só realizou um longa-metragem para o
cinema, O Amor Está no Ar, estrelado por Eliane Giardini
e Marcos Palmeira. Faleceu em 1995, pouco após de terminar as filmagens,
ainda sem ver a montagem final de seu filme. De O Amor Está
no Ar, filme com uma passagem fugaz pelo circuito exibidor, lembramos
acima de tudo de um melodrama sirkiano encenado em tom de novela, sem
o barroquismo dramático do diretor-matriz mas híbrido o
suficiente para criar interesse. O enredo versava sobre uma mulher em
seus 40 anos, bem postada socialmente porém com vida emocional
frágil. Apresentando um programa de rádio que une casais,
ela se apaixona por um jovem semi-analfabeto recém-chegado de Minas
Gerais. Mesmo irregular, o filme de Amylton de Almeida consegue extrair
alguns momentos fortes de amor louco e desespero, como na música
"Por Amor", de Roberto Carlos, convocada e executada no filme para dar
a dimensão dos personagens. (R.G.)
AMARAL,
Tata
(1996 Um Céu
de Estrelas, 2000 Através da Janela)
Realizadora de alguns dos
mais notáveis curtas-metragens do início da década
(Poema-Cidade, sobre o poeta concreto, músico e tradutor
Augusto de Campos, e Viver a Vida, sobre o cotidiano frenético
e malandro de um office-boy que precisa driblar com humor arte as mazelas
de sua condição), Tata Amaral causou um pequeno furacão
quando lançou seu primeiro longa, Um Céu de Estrelas.
Nem tanto pela violência e pelo extremismo dos personagens, e mais
pela aparição no cenário daquele momento de um filme
com intenso desejo de ficcionalizar sobre o micro para atingir o macro,
confiando em princípios formais fortes (no caso, a câmera
na mão, sempre próxima demais dos personagens, tentando
quase lhes roubar uma verdade que eles tentam não revelar). O desespero
e a fugacidade de Um Céu de Estrelas dão lugar ao
ritmo do cotidiano de uma dona de casa aposentada em Através
da Janela, filme recebido com muito mais frieza quando da época
de seu lançamento. Injustamente, vale dizer. Mesmo que o filme
tenha alguns problemas sérios (o ator principal, a música
mais dramática do que a imagem, a cenografia exagerada de algumas
locações), Tata Amaral evolui com esmero e talento seu universo
de personagens solitários que desejam loucamente encontrar num
outro (a namorada, o filho) um objeto para seu excesso de amor. Outra
de suas obsessões, a vida dos jovens das classes baixas, volta
em Vinte-Dez, média-metragem em digital realizado com Francisco
Cesar Filho, último trabalho de Tata até a presente data.
A atenção aos pequenos aspectos do cotidiano (poucas cenas
no cinema brasileiro terão sido mais carregadas de beleza do que
Laura Cardoso segurando a camisa do filho em Através da Janela)
e aos distúrbios emocionais dele decorrentes colocam Tata Amaral
num patamar diferenciado entre os estreantes dos anos 90. É uma
verdadeira cineasta, e não apenas uma realizadora de filmes. (R.G.)
AMBERG,
Lucas
(1998 – O Caminho dos Sonhos)
Exibido pela primeira vez em Gramado com o desastrado título de
Um Sonho no Caroço do Abacate (depois piedosamente mudado
para o genérico acima, com o qual foi arremessado no cinema), o
filme talvez inaugure uma categoria, a do longa-porfolio (citando o chamado
curta-portfolio, que ajudaria o cineasta a fazer um longa depois), possivelmente
visando uma carreira internacional para o cineasta. Realizado com esmero
técnico e nenhum coração visível na tela (como
os já mencionados curtas), o filme ainda caiu no mau gosto de colocar
atores americanos como Elliott Gould e Talia Shire em cena, dublados para
o português (havia uma versão em inglês sendo filmada
simultaneamente), tentando conseguir espaço no tal mercado internacional,
o que somente engessava ainda mais a já precária mise-en-scene.
Do catarinense Lucas Amberg, cineasta que nunca negou a influência
do cinema americano na sua formação (University of Southern
Califórnia), se sabe pouco desde então (as últimas
notícias o colocam dando cursos de cinema, à frente da Fundação
de Cinema do Paraná, participando de júris e reuniões
de entidades classistas do cinema nacional), apenas ocasionais tentativas
para a realização de um longa histórico (em Joinville).
(E.V.)
AMORIM,
Vicente
(2000 2000
Nordestes com David França MENDES, em finalização
O Caminho das Nuvens)
A estréia em longa-metragem
de Vicente Amorim, 2000 Nordestes, co-dirigido por David França
Mendes, foi fruto da pesquisa para O Caminho das Nuvens, ainda
inédito no circuito comercial. A dupla registrou em câmera
digital uma viagem de carro, por três semanas e quatro mil quilômetros,
os cenários de quatro Estados do Nordeste e depoimentos de nordestinos.
Completaram esse painel da "nordestinidade" com migrantes em
São Paulo e no Rio, mais trechos de Deus e o Diabo Na Terra
do Sol, de Glauber Rocha, e Vidas Secas, de Nelson Pereira
dos Santos, as obras-primas dos cineastas, a quem dedicam o trabalho.
O filme busca fazer um levantamento do imaginário nordestino contemporâneo,
com sua religiosidade, seus sofrimentos, seus sonhos e os arranhões
na esperança. O resultado é um mosaico de vozes e imagens
que, por tentar retratar o universo geográfico e cultural captado
pela câmera como um objeto único, fecha portas para a construção
de identidades individuais. Os entrevistados não são mostrados
como seres singulares, mas como parte de uma massa nordestina. Não
falam sobre suas vidas, mas sobre a condição de nordestino.
Surge das imagens e fragmentos de falas um povo alienado e impotente,
que sobrevive à penúria com um sorriso no rosto e sem nenhuma
indignação. É possível detectar na escolha
e no encadeamento dos depoimentos uma postura de superioridade em relação
aos entrevistados: ora adotam a compaixão, ora exploram o exotismo.
Pelo que se viu até agora de O Caminho das Nuvens, sobre
a viagem de bicicleta de uma família de retirantes até o
Rio, Amorim afunila o enfoque, mas reafirma a visão, popularizada
desde Euclides da Cunha, segundo a qual o sertanejo é a reserva
ética do Brasil. Amorim foi assistente de vários filmes
e também dirigiu comerciais e clipes. Já havia co-dirigido
com França Mendes os curtas Vaidade (1990) e Lona
(1991). Também fez em parceria, com João Amorim e Carlos
Duba, a animação Não Fique Pilhado (2000).
(C.E.)
ARAGÃO,
Paulo
(1998 Simão,
O Fantasma Trapalhão, 1999 O Trapalhão e a
Luz Azul, 2003 Didi, o Cupido Trapalhão)
Filho do comediante Renato
Aragão, Paulo (ao lado de Alexandre Bhoury) assume a direção
da maioria dos filmes estrelados por Didi Mocó após a dita
retomada. Bebendo do que de pior havia sido feito com a grife Os Trapalhões
no final da década de 80, Paulo tem demonstrado ser dono de uma
mão pesada demais para o tom fabular/ingênuo cultivado ao
longo dos mais de 40 anos de carreira do pai. Se em Simão, o
fantasma trapalhão (1998) e O Trapalhão e a Luz Azul
(1999), o cinema de Paulo Aragão já parecia transparecer
um certo desinteresse (seja estético, seja temático) por
aquilo que representava na tela (deixando-se levar por fórmulas
narrativas débeis), em Didi – o Cupido Trapalhão,
esse sintoma se acentua na forma submissa com que o filme apela quase
que apenas a truques primários de marketing (rostos e corpos famosos)
para se sustentar. O pouco cuidado com a produção e a encenação
sem vigor artesanal (que só fazem desfavorecer o humor circense
e os "chistes" de Didi Mocó) tem revelado em Paulo Aragão
um mero executor de filmes ruins, muito aquém das possibilidades
da grife que "herdou". (F.B.)
ARAÚJO,
Joel Zito
(2001 A Negação do Brasil)
Desde 1984 ligado a realizações documentais e institucionais,
Joel Zito Araújo estréia em longas com um documentário
que é também a extensão audiovisual de uma pesquisa
acadêmica que deu origem ao livro com o mesmo nome do filme. Um
grande levantamento da presença do negro na dramaturgia televisiva
nacional, o filme tem o mérito maior de uma intensa pesquisa de
imagens de arquivo da muito pouco pensada memória da TV nacional.
Só pela exibição e destaque dado a esta fonte como
importantíssima forma de compreender o imaginário nacional,
o filme já seria documento importante. Sua estrutura narrativa,
baseada em parte num depoimento em primeira pessoa do cineasta, como negro
cujo imaginário foi formado por este material que ele analisa,
tem boas idéias, mas acaba escorregando um pouco no excesso repetitivo
dos mesmos argumentos que acabam pouco aprofundados e, principalmente,
pouco contextualizados no que escape simplesmente à produção
audiovisual televisiva, que acaba parecendo um pouco um mundo em si mesmo.
Se fica o extraordinário trabalho de pesquisa, a argumentação
em si enriquece pouco (e nisso os depoimentos colhidos pouco ajudam, aliás)
e não torna o filme mais impactante como poderia ser. Araújo
ganhou o segundo edital do MinC de filmes de baixo orçamento, e
prepara atualmente As Filhas do Vento, projeto sobre o qual não
temos maiores informações. (E.V.)
ARAÚJO,
José
(1997 O Sertão
das Memórias, em finalização As Tentações
do Irmão Sebastião)
Ex-seminarista do interior
do Ceará, José Araújo percebeu cedo que não
tinha vocação para seguir carreira religiosa. Foi estudar
cinema nos Estados Unidos, onde começou a trabalhar como técnico
de som. Tendo trabalhado com diretores como Percy Adlon e Gregory Nava,
especializou-se na edição sonora. Realizou inúmeros
trabalhos na área, no Brasil e fora, até que em 1996 estreou
no longa-metragem com O Sertão das Memórias, um dos
mais impressionantes primeiros filmes da geração pós-95
e uma das obras mais vigorosas do cinema brasileiro no que diz respeito
à cinematografia do sertão. No filme, a política
importa o vocabulário e a simbologia glauberiana de O
Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro são apropriados,
com resultados desiguais , mas é a vivência do sertanejo,
irredutível aos dados antropológicos, sociais ou políticos,
que importa aqui. Todo um mundo de sons: o forró dá lugar
à incessante ladainha das rezadeiras, que faz coro com a força
dos sons da natureza, que por sua vez são apropriados e sintonizados
com a trilha de Naná Vasconcelos. Mas O Sertão das Memórias
é mais do que um exercício em edição de
som: trata-se de um filme absolutamente pessoal não à
toa, a cidade do filme é Miraíma, terra natal de Araújo,
e os protagonistas são seus pais que convoca vigorosamente
o cinema para criar um amálgama de lembranças pessoais,
observação dos costumes, mitologias políticas e desejos
de mudança. Poucas cenas terão ficado mais na memória
do que o pai de Araújo despejando os grãos, seus alimentos,
na mirrada mesa da sala familiar. As Tentações do Irmão
Sebastião, próximo filme do diretor, deve estrear em
breve. O filme se passa num futuro próximo cerca de 2030
numa grande cidade do Brasil, num mundo destruído pelo apocalipse.
O protagonista é um noviço com dúvidas religiosas.
Coincidência? (R.G.)
ARRAES,
Guel
(2000 O Auto
da Compadecida, 2001- Caramuru, em lançamento
Lisbela e o Prisioneiro)
Avaliar o trabalho de Guel
Arraes procurando separar o realizador e produtor televisivo do cineasta
é uma proposição estéril. Afinal, muito da
experiência adquirida durante os anos 70 na França (em que
acumulou participação no Comitê do Filme Etnográfico
de Jean Rouch, um breve trabalho como assistente de Godard, e a realização
de curtas documentais em super-8) costuma ser levado em conta quando se
coloca em questão a reforma que ele promoveu com grande sucesso
na televisão brasileira (principalmente no que diz respeito à
dinâmica de trabalho implantada no núcleo dramatúrgico
que leva seu nome na Rede Globo). Armação Ilimitada
e TV Pirata são séries que revolucionaram o humor
televisivo na década de 80 promovendo uma saudável mistura
de linguagens e uso extensivo de "truques" de cinema; nos anos 90, as
Comédias da Vida Privada e o projeto de adaptações
de clássicos da literatura brasileira trouxeram para a TV mais
um sopro de renovação, abrindo as portas para cineastas,
diretores de teatro e dramaturgos. Mesmo os dois longa-metragens de Arraes
lançados até a presente data, para além de constituirem
meras "versões para cinema" de mini-séries, são experiências
pioneiras que procuram apostar num formato híbrido desde a concepção:
O Auto da Compadecida refletiu os altos índices do ibope
nas bilheterias, enquanto Caramuru – A Invenção do Brasil,
obra muito mais feliz e bem acabada, obteve sucesso relativo. A estréia
de Lisbela e o Prisioneiro deve colocar em questão novamente,
e desta vez com razão, um problema fundamental: se o cineasta Guel
Arraes é afinal capaz de imprimir um verdadeiro estilo à
tela grande ou se prevalece o que, até agora, parecem ser resquícios
da linguagem televisiva – e que, no cinema, ganham aparência de
estética víciada. O caso de Caramuru – A Invenção
do Brasil é sintomático: nele, a subtração
dos "documentários" realizados pelo parceiro Jorge Furtado – de
longe, o que havia de mais inventivo e engraçado na série,
e que permitia à parte ficcional breves e necessários respiros
– denuncia um erro estratégico, a aposta numa narrativa ligeira
e fragmentada em zilhões de cortes rápidos que terminam
depondo contra a encenação (como no Auto) e causando
a impressão (falsa, esperamos) que o estilo de Arraes termina não
funcionando tão bem no cinema. (FV)
ASSIS,
Cláudio
(2002 Amarelo
Manga)
A década de 90 viu
Pernambuco aparecer no cenário cultural brasileiro não mais
como um estado rico em expressões folclóricas apenas. A
produção artística que alcançou o sul do país
se impôs por ser diversa, de alta qualidade e universalmente válida,
apesar de manter um sotaque característico. Foi uma conjunção
de fatores que nos deu Chico Science e Mundo Livre SA, bem como Baile
Perfumado e Cláudio Assis. Amarelo Manga, seu primeiro
longa, vem depois de muito tempo e trabalho empregados no cinema pernambucano.
O nome de Assis aparece ligado ao próprio Baile Perfumado,
como gerente de produção, e a uma lista de curtas onde atua
como produtor e ator. O caminho até Amarelo Manga conta
ainda com a direção de curtas como Soneto do Desmantelo
Blue e Texas Hotel. Dono de idéias absolutamente particulares,
defensor feroz de um cinema de autor e independente, condizente com a
situação econômica e cultural nacional, Cláudio
Assis faz com que sua obra reflita as condições nas quais
é criada. Amarelo Manga é fruto de sua preocupação
de provar que o cinema, mesmo sendo regional, não pode ficar preso
a temáticas populares. Assis fez o longa com muito pouco dinheiro,
adequando a produção à penúria financeira
sem comprometer o resultado estético que muitas vezes pode até
incomodar, mas sem nunca de se fazer notar. Amarelo Manga tem defeitos
de primeiro filme e pode parecer um pouco gratuito no tratamento do seus
polêmicos personagens, mas não deve ser atacado por isso.
Antes de tudo é um filme que se diferencia da média da produção
nacional, mostrando um caminho viável para o baixo orçamento.
A raiva que contém é um reflexo das idéias que Cláudio
Assis tão corajosamente defende, à sua maneira, em nome
do cinema em que acredita. (JMC)
ATTALA,
Jorge Wolney
(2001 A Vida
em Cana)
Poucos sabiam da existência
do cineasta Jorge Wolney Attala antes do documentário A Vida
em Cana. Nascido em São Paulo, formou-se em economia na Universidade
do Texas, com Pós Graduação na Business School Lausanne.
Também estudou na New York Film Academy. Na sua estréia
em longa-metragem, premiada em vários festivais mundo afora por
critérios tão nebulosos quanto os de qualquer festival,
faz militância política de classe. Filho de um líder
do setor usineiro nos anos 70, Attala rodou durante os sete meses da colheita
de cana no interior paulista. Seu filme defende a permanência da
atividade dos bóias-frias para erguer sua bandeira contra uma lei
que proíbe no futuro o trabalho manual nos canaviais, não
medindo esforços para soar convincente. A semi-escravidão
do sub-proletariado é tratada como se fosse quase a vida no paraíso.
Embora seja verdade que poucos diretores foram tão honestos na
transparência de suas propostas durante os últimos anos,
poucos também tiveram proposta política e estética
tão vexatória. Não sabemos se é o caso de
torcer para um progresso do diretor ou de desejar antes um radical transformação
do cidadão, abrindo seus olhos para um universo que, de tão
próximo a ele, só é visto a léguas de distância.
Resta ver, também, que outros temas atarem seu olhar. (C.E.)
BAMBOZZI,
Lucas com Beto MAGALHÃES, Cao GUIMARÃES
(2000-O Fim do Sem
Fim)
Realizam juntos este documentário
sobre as profissões em vias de extinção devido à
uma modernidade cada vez mais atenta ao lucro e a praticidade, mostrando
uma visão antropofágica da cultura nacional. Filmado em
diversas regiões do país, o que vemos na tela é a
imagem do brasileiro como um ser, acima de tudo, inventivo, teimoso e
visionário. Mescla diferentes formatos e texturas (16mm, super
8 e digital), o que obtém resultados fotográficos interessantes,
mas também proporciona no espectador desconforto em alguns momentos,
ocasionado pelas abruptas mudanças no tratamento dado à
imagem. Esse desconforto pode ser positivo na medida em que nos fornece
um estranhamento acionador de um pensamento reflexivo sobre a forma, que
está atrás dela mesma e de um discurso, mas, quando excessivo,
perde o tom.
Beto Magalhães é
bacharel em economia e levava em sua bagagem a produção
e direção de vídeos institucionais para empresas.
Cao Guimarães, graduado em filosofia e possuidor do titulo de "Master
of Arts in Photography", tinha feito trabalhos em critica de arte, literatura
e fotografia. Lucas Bambozzi, um dos poucos realizadores em atividade
que não cultuam um fetiche exclusivo e fiel à pelicula
e notadamente, ao formato 35mm, realizou diversos documentários
e videoclips em DV, além de curta-metragens, cd-roms, instalações
e obras interativas. Talvez seja por ter essa ânsia de investigar
experiências em outros meios e não eleger um determinado
suporte como veiculo único de sua expressão que Arthur Omar
(no material que acabou não sendo aproveitado na edição
final de O fim do sem fim, mas que foi exibido no CCBB-RJ) afirmou
ver em Lucas um possível discipulo e, conseqüentemente,
seguidor de um perfil de realizador pouco cultivado e pouco incentivado
por aqui. (E.G.)
BARBIERI,
Renato
(2001 Malagrida,
em finalização As Vidas de Maria)
Egresso do grupo que, nos
anos 80, por meio da produtora Olhar Eletrônico, renovou a
telereportagem, Renato Barbieri, nos últimos 20 anos, tem se dedicado
ao documentário. Formado em psicologia e semiótica, busca
temas pouco óbvios, mal tratados ou ignorados pelas câmeras,
e lhes dá tratamento singular, em flerte com a videoarte. Nos trabalhos
mais recentes, Atlântico Negro: Na Rota dos Orixás
e Malagrida, busca evidências da religiosidade brasileira,
as quais usa para compor uma mitologia. Ainda na Olhar Eletrônico,
fez duas reportagens, Vira Volta (1983) e Vira Lixo (1983),
sobre a natureza e a reciclagem de embalagens. O trabalho mais importante
dessa fase foi Do Outro Lado da Sua Casa (1985), em parceria com
Marcelo Machado e Paulo Morelli, que vai ao universo dos trabalhadores
de rua, não para se confirmar uma imagem já estabelecida
a partir do olhar dos diretores para os personagens, mas para dar a eles
a possibilidade de elaborar suas visões, ou seja, um discurso dos
entrevistados sobre o mundo. Barbieri já havia trabalhado com Machado
em Marly Normal, rara experiência na ficção
sobre a automatização de uma operária. Também
ridicularizou os pronunciamentos presidenciais na televisão em
Expiação (1989) e enfocou a atividade pesqueira no
litoral baiano em Rudimentos (1993). No média metragem Na
Rota dos Orixás, faz a ponte entre Brasil e África,
por meio de etnografia mística e do oceano Atlântico. Malagrida,
no contexto geral de seus documentários e reportagens, é
um retrocesso. Para narrar a vida do jesuíta itaniano, radicado
no século XVIII no Brasil e perseguido pelo Marquês de Pombal
em Portugal, afunda-se no didatismo escolar e catequético, empregando
metáforas primárias, caindo no maniqueísmo histórico e
adotando um olhar mitificador, de modo a transformar o cinebiografado
em lenda popular-religiosa. Sua busca pelo objeto sagrado atola-se na
vulgaridade cinematográfica. Parece institucional feito nos moldes
exigidos pelo patrão. Finaliza atualmente sua estréia no
longa de ficção, com um projeto vencedor de um dos prêmios
de Baixo Orçamento do Governo passado. Espera-se que tenha mais
do seu trabalho anterior do que deste primeiro filme em longa-metragem.
(C.E.)
BHOURY,
Alexandre
(1999 O Trapalhão
e a Luz Azul, 2000 Um Anjo Trapalhão, 2003
Didi, o Cupido Trapalhão)
Com três filmes estrelados
por Renato Aragão na filmografia, Alexandre Bhoury parece muito
pouco capaz de revitalizar o vigor cômico que marcaram os grandes
filmes da carreira do comediante. Em verdade, se levarmos em conta os
três títulos com seu nome nos créditos (O Trapalhão
e a Luz Azul, Um anjo trapalhão e Didi – o Cupido
Trapalhão) parece que sua filmografia (que nunca chegou a despertar
muito interesse) segue uma vertiginosa e triste ladeira abaixo. Assim
como seu parceiro (Paulo Aragão) falta a Bhoury o apuro artesanal
e a habilidade com o tempo-cômico indispensáveis para a construção
do picadeiro onde Renato Aragão pudesse desfilar seu talento. A
despeito de seus sucessos de público (amuletados na figura carismática
de Didi), Alexandre Bhoury vem praticando um cinema sempre à toque
de caixa e desanimado, mecanizado demais para que o humor de Renato Aragão
consiga transparecer de forma consistente. (F.B.)
BIAL,
Pedro
(1999 Outras Estórias)
Bial apareceu na cena cultural no início da década de 80,
como integrante do grupo de poesia Os Camaleões. Firmou carreira
como jornalista televisivo, ficando célebre como correspondente
internacional da Rede Globo, cobrindo uma série de eventos históricos
como a queda do muro de Berlim e o fim do regime comunista na Rússia.
Retorna ao Brasil em meados da década de 90, assumindo o posto
de apresentador do programa dominical Fantástico. Sua única
experiência como cineasta, até o momento, foi o longa-metragem
Outras Estórias, que adapta ao cinema o universo dos contos
de Guimarães Rosa. Com uma recepção dividida entre
detratores (que acusam uma demasiada reverência à prosa do
escritor e um excesso de formalismo), e defensores (realçando que
o filme consegue penetrar de forma quase poética neste mundo de
Rosa), Outras Estórias permanece até o momento mais
como uma aventura diletante de Bial, que não apresentou desde então
um novo projeto cinematográfico, mas permanece desfrutando seu
status de celebridade pop, ao qual foi alçado após apresentar
o Big Brother Brasil. (G.S.)
BLOCH,
Sérgio
(2000 Tainá)
Enquanto Olho da Rua
não consegue sair do suporte digital para a película,
Tainá continua sendo o único longa-metragem de Sérgio
Bloch, realizado em co-direção com Tânia Lamarca.
Como Lamarca assina a "concepção final" do filme,
torna-se difícil especular sobre algum interesse propriamente estético
do diretor pelo filme. Como contratado de um projeto com forte apelo de
público (assinado Pedro Carlos Rovái), vê-se no filme
menos um trabalho de coração & tripas do que uma excelente
oportunidade para adquirir know-how, praticar o ofício de
cineasta e pagar as contas de casa o que, convém dizer,
são oportunidades bem raras no país. Sérgio Bloch
fez um trabalho digno na ficção (supõe-se que foi
contratado para dirigir as crianças), mas seu terreno é
mesmo o documentário. Realizou seu primeiro documentário
em 1986 e, depois, dirigiu e produziu diversos documentários para
ONGS, além de institucionais. Em 1994 reside na França e
realiza naquele país Quem É Você?, um filme
sobre multiculturalismo, que recebeu o apoio do Departamento Cultural
da Unesco em Paris. Realizador do premiado média-metragem Burro
sem Rabo, sobre a população que vive de catar bugigangas
na rua para revender, persegue o tema da desassistência e da rua
com seu novo filme. Uma sensibilidade particular do cineasta com seus
entrevistados cria uma cumplicidade forte e poética que a película
registra e transmite a nós, que apreciamos. Esperemos Olho da
Rua para ter a confirmação definitiva. (LARM/R.G.)
BODANSKY,
Lais
(2000 Bicho de
Sete Cabeças)
Formada em cinema pela FAAP,
e filha do diretor e fotógrafo Jorge Bodanzky, realizou os seus
primeiros trabalhos em vídeo. Desliga Esse Troço!
ganhou um prêmio oferecido pelo programa Cinemania da extinta TV
Manchete e Bia Bai ganhou o Festival do Minuto em 1993. Em parceria
com o marido Luiz Bolognesi desenvolveu o projeto Cine Mambembe. O casal
botou o pé na estrada e durante 8 meses percorreram cerca de 15000
quilômetros levando o cinema brasileiro para os brasileiros que
não tem acesso a ele. Os filmes mostrados eram todos curta-metragens
incluindo Cartão Vermelho, da própria Laís,
e Pedro e o Senhor, de Bolognesi. Do registro da experiência
nasceu o média Cine Mambembe, o Cinema Descobre o Brasil.
A promessa de uma promissora realizadora sugerida nesse trabalho só
foi confirmada com a estréia de Bicho de Sete Cabeças.
Apresentando um filme com os recursos expressivos (montagem, fotografia,
trilha sonora) executados harmonicamente ao tema e à estrutura
dramática Laís demonstrou ser capaz de realizar um cinema
jovem inclinado a atrair o público e comunicar-se com ele. Esperamos
que o futuro somente desenvolva estas qualidades, importantíssimas
no cinema brasileiro de hoje. (E.G.)
BOLKAN,
Florinda
(2000 – Eu Não Conhecia Tururu)
Desnecessário discorrer o currículo da cearense Florinda
Bulcão como atriz na Europa, a partir de 1968 e até este
ano mesmo. Tendo realizado dezenas de filmes (inclusive Investigação
sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, e filmado com,
por exemplo, De Sica), a então chamada Florinda Bolkan é
bem conhecida. Após voltar ao Brasil, no fim dos anos 90, faz um
papel em Bela Donna e filma este Eu Não Conhecia Tururu,
e é difícil dizer por qual dos dois será menos lembrada.
Tururu não só é bastante equivocado como construção
dramática, como também serve de sintoma da viciada distribuição
de filmes nacionais em parte da década, tendo ficado quase dois
anos nas prateleiras após estrear em Gramado, e ao ser lançado
fez menos de 1000 espectadores pagantes no país, em 2002. Ficção
de forte cunho autobiográfico (no qual ela também faz uma
mulher que volta à suas origens cearenses após temporada
na Europa), o filme não chega a ser especialmente ruim, mas como
seus resultados de bilheteria indicam, simplesmente não encontrava
apelo com qualquer gênero do público de cinema de hoje. Não
se sabe se Bolkan planeja dar continuidade a esta carreira, ou se Tururu
era um filho único, mas no que depender deste, será como
atriz (e mulher belíssima) que mais se lembrará dela. (E.V.)
BRANT,
Beto
(1997 Matadores,
1998 Ação entre Amigos, 2001 O Invasor)
Apesar de gostar de Tarantino,
Brant rechaça a comparação com seus filmes. Suas
referências não estão primordialmente no cinema que
já trabalhou os gêneros ligados à violência
(ainda que existam), mas sim na literatura de Rubem Fonseca – influência
clara nos escritos do roteirista de Brant, Marçal Aquino – e numa
clivagem histórico-geográfica que privilegia assuntos bem
próprios da realidade brasileira (o escoamento de carros roubados
pela fronteira Brasil-Paraguai em Os Matadores, o acerto de contas
com a ditadura militar em Ação Entre Amigos, a urgência
do aqui-e-agora na corrompida metrópole paulistana de O Invasor).
Graduado em cinema pela FAAP em 1987, Brant primeiramente realiza videoclipes
e três curtas-metragens (Aurora, de 1987, Dov’è
Meneghetti?, de 1989, e Jó, de 1993, este último
premiado no Festival de Havana). Ação Entre Amigos
é feito logo em seguida a Os Matadores, em 1998, e reforça
algumas opções narrativas (desvendamento gradual da trama
através de flash-backs) e de mise-en-scène
(ora perfeitamente aprazível de se ver, ora travada por um certo
academicismo). Mas é com O Invasor que Brant e Aquino encontram
uma forma de expressão realmente vigorosa e original, além
dos melhores diálogos e do conteúdo mais protéico
desde que teve início essa parceria. Explorando uma textura áspera
(fotografia contrastada, uso de película 16 mm) e as potencialidades
– permitidas pela habilidade de Toca Seabra (diretor de fotografia e operador)
– da câmera na mão, Brant consegue dar a O Invasor
a forma acabada de que os dois filmes anteriores parcialmente careciam,
assim como o despojamento e a liberdade aos atores fundamental para o
seu sucesso. As interpretações representam um dos pontos
altos do filme, com o já óbvio destaque para a estréia
cinematográfica de Paulo Miklos, que Brant conhece desde os tempos
em que dirigiu clipes dos Titãs. O Invasor é daqueles
filmes onde o processo de filmagem é tão criador quanto
qualquer frase do roteiro ou qualquer anotação da decupagem.
Um grande filme que fala mais da sociedade brasileira de hoje do que os
seus próprios autores poderiam presumir de início – e que
confirma Beto Brant como um dos principais nomes da retomada. (L.C.O.Jr.)
BRAVO,
Ricardo
(1999 Oriundi)
Cineasta que estudou nos
EUA nos 80, e fez carreira com curtas-metragens como Cheque-Mate
(96). Acabou por estrear em longa-metragem com Oriundi, um filme
com suas ambições de tratar do Brasil mesmo que a partir
de alguns pressupostos um tanto esquisitos, onde primeiro se reconhece
um modelo como falido e depois termina por ver nele a saída. Se
há ambições em Oriundi, é difícil
contornar a forma como o diretor em sua estréia se filia, desde
os primeiros planos, a um academicismo de encenação e uma
dramaturgia televisiva. Sustentando-se à base de surrados jogos
de roteiros (característica que trouxe de seus curtas) e na atuação
de Anthony Quinn, a estréia de Bravo parece indicá-lo como
mais um diretor sem o gosto pelo risco que lhe permita alçar vôos
maiores no futuro. (F.F.)
BRAZZA,
Afonso
(2001 Tortura
Selvagem – A Grade)
Endeusado por guetos trash como o cineasta verdadeiramente independente,
Afonso Brazza merece um papel e um reconhecimento maiores do que tem hoje,
semanas depois de seu falecimento. Fenômeno cult em Brasília,
logo levado ao show de horrores do programa de Jô Soares e elevado
imediatamente à condição de herói naïf,
Brazza foi no entanto muito mais simples e menos espalhafatoso do que
seus admiradores. Apaixonado pelo universo de cinema e tendo trabalhado
na Boca do Lixo na época da efervescência, Brazza mudou-se
para Brasília e fez seus filmes como pôde. Geralmente em
vídeo, rodou seis filmes de 1982 a 1997. Erros de continuidade,
desrespeito ao eixo de 180º que faz com que não consigamos posicionar
mentalmente onde se encontra cada personagem, erros de lógica,
narrativa inexistente, tudo isso faz os amantes do trash urrar
com filmes que podem se chamar Inferno no Gama, Matador de Escravos,
Gringo Não Perdoa, Mata, ou seu longa em película,
Tortura Selvagem – A Grade, filmado, entre outros, com os músicos
do grupo Os Raimundos. Os filmes de Brazza permitem, no entanto, uma apreciação
mais fina: o desrespeito (ou o desconhecimento, por mais que ele insistisse
que errava de propósito) sistemático das convenções
fílmicas por vezes nos deixa diante de hieróglifos ou inscrições
rupestres bastante estimulantes. O ato de filmar vale mais do que o filme
que se produz, mas ainda assim é possível encontrar vislumbres
de beleza em alguns planos e cortes. Fuga Sem Destino, já
terminado, espera e merece uma exibição em sua homenagem.
(R.G.)
Verbetes redigidos por Alexandre Werneck, Carim Azeddine, Cléber
Eduardo, Daniel Caetano, Eduardo Valente, Estevão Garcia, Felipe
Bragança, Fernando Veríssimo, Filipe Furtado, Gilberto Silva
Jr., João Mors Cabral, Luiz Alberto Rocha Melo, Luiz Carlos Oliveira
Jr., Ruy Gardnier e Sérgio Alpendre.
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