Toni Venturi
(O Velho, Latitude Zero)



- Tendo lançado seu primeiro filme recentemente, queríamos que você falasse sobre a sensação posterior ao processo do filme chegar no mercado e até as pessoas, comparando com aquele sonho de realizar um filme, e com o processo tão duro de torná-lo realidade. Em que a experiência te enriqueceu, em que você se decepcionou?

Fazer o primeiro filme (o LATITUDE ZERO é o meu primeiro de ficção) é muito difícil; luta-se contra todos os dragões da maldade, as dificuldades financeiras, estruturais e a própria falta de experiência. Já o lançamento, o contato da obra com o público, é um fenômeno ainda mais insondável, principalmente para um estreante. Por que para chegar ao primeiro longa, o estreante tem que ter larga experiência na área, seja nos curtas, documentários, TV ou publicidade, mas sobre mercado e público ele pouco conhece. Somado a isto, temos as dificuldades estruturais que o cinema brasileiro enfrenta, ou seja, uma cinematografia que disputa espaço autofagicamente em um gueto (8% do mercado), o conhecido circuito culto. E ninguém tem a fórmula do sucesso, que depende de fatores objetivos (poder de fogo no lançamento, apoio da TV, campanha de marketing correta, etc) e subjetivos (tocar aquele nervo que é da hora e cair no gosto do público, estar no lugar certo na hora certa). Belos filmes foram vistos por muito menos gente do que se devia e vice-versa. Ninguém tem a fórmula do sucesso, senão Hollywood já teria feito sua patente. Pessoalmente, posso dizer que lançar um filme me deu mais chão, fio terra, maturidade e vontade de continuar fazendo filmes que tenham sentido para as pessoas, filmes que emocionem e sensibilizem, sem abrir mão da qualidade e princípios.

- Como você vê o cinema brasileiro no momento atual, falando em termos de filmes e estética?

É um momento rico em termos de qualidade na diversidade, nossos filmes são muito diferentes um dos outros, são provocantes, esquisitos, engraçados e estão nos principais festivais europeus. Apesar da produção ainda ser pequena para um país que é a 12º economia do planeta, tem filme para todo o gosto. Isto é um fenômeno de uma sociedade que começa a se sofisticar, que a cada década amplia a sua classe média, sua inteligência. O problema é que a grande massa continua sem opção, ou melhor, com a pior opção, a TV de baixo nível que inunda a telinha.

- Quais as expectativas para a entrada de um novo Governo, o que sempre significa toda uma nova série de orientações para o andamento da produção? Quais áreas você consideraria as mais emergenciais em termos de ação deste Governo?

Como todo brasileiro torço para que dê certo e, mais, quero contribuir para uma mudança de patamar. Quero um Brasil com menos diferenças sociais, com uma população com mais poder aquisitivo para ir a um cinema mais barato e salas de cinema em todos os municípios médios deste imenso continente. A ANCINE é uma grande conquista, da classe e da sociedade, ela tem que ser o farol, o formulador e executor de uma estratégia de ocupação de mercado através do fomento à produção, distribuição e exibição do filme brasileiro. Não precisamos inventar a roda, é só começar a por em prática os programas para atacar de frente os diagnosticados males que nos afligem: a hegemonia do produto americano, a falta de salas, a falta de distribuidoras fortes, a falta de uma política estratégica, etc. Espero que a classe e o governo não joguem fora esta oportunidade de ouro que temos para emancipar o CINEMA BRASILEIRO.