GUERRA

APRESENTAÇÃO

I had no idea we had so many weapons, ...what do we need them for?
George W. Bush

O mundo assiste com atenção e preocupação o desenrolar de mais uma crise internacional envolvendo velhos motivos e velhas personagens: um ditador das arábias, um presidente norte-americano, muitas reservas de petróleo e muitos armamentos. Ventos do extremo oriente reacendem, por sua vez, o pavor adormecido há décadas de um holocausto nuclear.

Nunca o sentimento anti-guerra veio à tona com tamanha força, a ponto de em torno dele organizarem-se manifestações populares com milhões de participantes nos quatro cantos do planeta antes mesmo do início dos conflitos. Estas multidões guardam nos corações e mentes um sem-número de imagens poderosas, sintéticas, veiculadas quase cotidianamente pelas redes de TV, dos invariáveis resultados de uma guerra: famílias destruídas, mutilados, refugiados – incalculáveis perdas humanas.

É, portanto, um ponto estratégico nas guerras atuais o controle sobre a produção e veiculação das imagens do conflito na mídia, haja vista a cobertura que a CNN promoveu, em acordo com as diretrizes do governo norte-americano, da Guerra do Golfo; ou mesmo a virtual neutralização da rede Al-Jazeera, com os ataques às suas instalações e filtragem maciça das imagens produzidas durante a invasão ao Afeganistão.

O cinema cumpriu a função de registrar as duas grandes guerras mundiais na primeira metade do século passado e desde então, pôde abandonar as imagens-síntese e o viés de denúncia para articular abordagens de teor mais filosófico, de acordo com sua natureza discursiva. O fascínio do cinema pela guerra chegou mesmo ao ponto de fazer do tema um gênero, embora reconhecidamente menor.

Oferecemos nesta pauta textos sobre filmes que têm no princípio ou no fim uma mesma preocupação: articular um discurso sobre a guerra sem necessariamente pertencerem ao gênero. Há desde a estratégia da subversão do gênero em função de um discurso abertamente político (Três Reis, Noites Calmas), passando pela biografia de uma personagem monumental que sintetiza a ambiguidade da guerra (Patton) e pelo relato autoral (A Grande Ilusão, Os Que Sabem Morrer), chegando mesmo à inusitada fusão com a fábula infanto-juvenil (O Gigante de Ferro).

"Um filme é como um campo de batalha", dizia Sam Fuller. Amor, ódio, violência, ação e morte; em uma palavra, emoção é o que procuramos oferecer ao leitor.

Boa leitura a todos!

Fernando Verissimo