Jorge Furtado
(Houve uma vez Dois Verões)



- Tendo lançado seu primeiro filme recentemente, queríamos que você falasse sobre a sensação posterior ao processo do filme chegar no mercado e até as pessoas, comparando com aquele sonho de realizar um filme, e com o processo tão duro de torná-lo realidade. Em que a experiência te enriqueceu, em que você se decepcionou?

O filme nasce de um desejo pessoal, particular, de compartilhar sensações, impressões do mundo, ou medos, ou prazeres, ou ainda idéias sobre a linguagem. A pretensão é que esta "visão de mundo" possa interessar a alguém ou, utopicamente, a todo mundo. O primeiro desafio é o roteiro, ainda um trabalho pessoal. A segunda etapa, da produção, já envolve muita gente. As idéias passam a lutar contra a tirania da realidade, onde cada imagem tem um preço e prazo de execução. (Paulo José diz que o roteiro é a tese, as condições de produção são a antítese e o filme é a síntese). Pronto, o filme ganha vida própria e enfrenta outra batalha: ser visto. Aí conta a verba de mídia, o interesse que o tema, a história ou o elenco possam despertar, o calendário de lançamentos de todos os outros filmes (que também lutam ou pagam para chamar atenção), os compromissos e interesses dos exibidores e distribuidores, a chuva, o dia em que os espectadores recebem seus salários, a localização dos cinemas, os feriados... Houve uma vez dois verões está perto de 70.000 espectadores, mais de 40.000 no Rio de Janeiro. Com os lançamentos em Minas e no Nordeste, Houve Uma Vez Dois Verões entrará no restrito clube dos filmes que, lançados em 2002, arrecadaram mais do que captaram (sete, entre os mais de trinta). Comercialmente, o filme foi bem? Não sei, talvez pudesse ter ido melhor. A resposta de quem viu (público e crítica) foi muito boa. A quantidade de público é importante, mas não é tudo. Para quem trabalha em televisão, como eu, um filme parece ter um público mínimo e uma vida longuíssima, não pára de "renascer", em cada cidade em que é lançado, depois em vídeo e dvd, em mostras e festivais, em vendas para a tevê. Noves fora (alguém ainda sabe o que é isso?), acho que a idéia de "compartilhar visões de mundo" se cumpriu.

- Como você vê o cinema brasileiro no momento atual, falando em termos de filmes e estética?

A pergunta é muito ampla. Acho que a qualidade, na média, está aumentando, talvez na mesma medida em que a diversidade está aumentando. O mais importante é quebrar o preconceito do público contra o cinema brasileiro, e isto já está acontecendo.

- Quais as expectativas para a entrada de um novo Governo, o que sempre significa toda uma nova série de orientações para o andamento da produção? Quais áreas você consideraria as mais emergenciais em termos de ação deste Governo?

Incentivar a produção audiovisual, meta fundamental de qualquer país, é o menor dos problemas a ser enfrentado pelo governo Lula. Minha espectativa é que a produção e a ocupação de tela pelo cinema brasileiro aumentem.

Quais áreas você consideraria as mais emergenciais em termos de ação deste Governo?

Criação de empregos, investimentos em educação e cultura e políticas públicas de distribuição de renda.