Feliz
Ano Novo, Feliz Ano Velho.
No cinema brasileiro, como de resto em todos os cinemas do
mundo com a possível exceção do americano
e do indiano, uma troca no Governo Federal implica numa natural
ansiedade com relação a possíveis alterações
das regras do jogo que regem a produção nacional
(quem poderia esquecer o sinistro início do Governo
Collor?). Quando o Governo que assume é o primeiro
assumidamente de esquerda eleito pelo povo, e logo em seguida
assume a Secretaria do Audiovisual (órgão governamental
que lida mais diretamente com o cinema brasileiro) um cineasta
e professor de cinema com passado de lutas e bandeiras levantadas
em defesa da nossa produção audiovisual, é
impossível que estas expectativas
não se transformem em franca esperança de melhorias.
Ainda mais quando o ano que passou foi tão importante
para a consolidação de uma série de posições
em relação ao nosso cinema: o fenômeno
de público de Cidade de Deus, o reconhecimento
da qualidade de inúmeros filmes lançados ao
longo do ano que ocasionaram a volta do cinema brasileiro
ao centro da discussão cultural no país (tanto
com CDD quanto com filmes como O Invasor, Rocha
que Voa, Madame Satã, O Príncipe,
Edifício Master, Ônibus 174, etc),
uma volta do cinema brasileiro de forma contundente ao retrato
da situação atual do país em todas as
suas facetas. Em suma, 2002 foi um ano especial que permite
que as esperanças lançadas para 2003 extrapolem
o campo político e sejam, antes de tudo, cinematográficas.
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É
por isso que Contracampo, num mês em que tradicionalmente
realizamos um balanço da produção nacional
do ano anterior, não poderia deixar de sinalizar a
importância do ano que passou ao mesmo tempo em que
tenta captar os sentimentos e desejos com relação
ao que virá. Por isso mesmo, ao nosso Cinema Falado
de todos os anos, onde conversamos de forma livre e sem amarras
sobre o que aconteceu em 2002 no cinema brasileiro, resolvemos
este ano somar um painel de impressões do meio cinematográfico
brasileiro sobre este momento rico. Entrevistamos, além
do Secretário do Audiovisual Orlando Senna, a presidente
do CBC (Congresso Brasileiro de Cinema) Assunção
Hernandes, e o diretor da Ancine, Gustavo Dahl. Se esses três
nomes compõem hoje o principal tripé de representação
institucional do cinema nacional, não podíamos
deixar de ouvir também os dois cineastas responsáveis
pelos maiores êxitos do cinema brasileiro pós-1994
em termos de resposta de público, crítica (mesmo
que polêmicos) e reconhecimento no exterior: Walter
Salles e Fernando Meirelles. E ainda enviamos um questionário
a um variado grupo de diretores tentando ver como os cineastas
que estrearam no longa após a chamada "retomada"
vêem a realidade do cinema nacional, e como cineastas
veteranos de muitas outras épocas e Governos comparam
o momento atual com o tanto já vivenciado por eles.
Acreditamos que este painel variado poderá nos servir
tanto hoje como no futuro, providenciando um retrato fiel
do que passa e projeta o cinema nacional nesta virada de ano
de 2002 para 2003..
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Nestes
últimos anos de aumento desenfreado do dólar,
vimos o número de mostras retrospectivas que dependam
de cópias que vêm do exterior diminuir drasticamente,
ficando praticamente reduzidas aos trabalhos do Festival do
Rio e Mostra de SP, e a ocasionais e raras intervenções
de instituições como o CCBB. Como o acervo de
cópias antigas existentes no país é limitado,
com isso o trabalho de vários autores fica, ou completamente
inédito, ou no mínimo de difícil conferência
pelo cinéfilo brasileiro. Por isso mesmo é preciso
comemorar iniciativas como a compra pelo Grupo Estação
dos direitos de boa parte da carreira de Eric Rohmer,
e sua exibição em cópias novas. Esta
mostra, que esteve ano passado em São Paulo, só
chegou ao Rio de Janeiro (lar da maior parte dos redatores
da nossa revista) em janeiro deste ano. Como celebração
e necessária resposta ao estímulo que foi o
contato com estes filmes, publicamos nesta edição
uma série de artigos a partir do trabalho do mestre
do cinema francês e mundial.
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Completa
a edição uma pauta especial em DVD/VHS
sobre os filmes favoritos de vários redatores que tratem
do ambiente da guerra, no momento em que nos é anunciada
a cada dia a proximidade de mais uma insana e inexplicável
intervenção militar americana. Vamos ver como
o cinema já foi capaz de retratar este que é
sempre um dos mais trágicos momentos do Homem, e por
isso mesmo, matéria prima para vários grandes
filmes. Boa leitura.
Eduardo
Valente
ça
fotos da edição: Fernando Duarte |