Paulo
Caldas
(Baile Perfumado, O Rap do Pequeno Príncipe
contra as Almas Sebosas)

- Tendo lançado seus primeiros
filmes recentemente, queríamos que você falasse sobre a sensação
posterior ao processo do filme chegar no mercado e até as pessoas,
comparando com aquele sonho de realizar um filme, e com o processo tão
duro de torná-lo realidade. Em que a experiência te enriqueceu,
em que você se decepcionou?
Minha decepção maior foi com
a distribuição e exibição, que não
conseguiram fazer os filmes chegar nos lugares certos, nas horas certas.
Piora quando pensamos nas dimensões do país e sua população.
Por um outro lado, depois da batalha de realizar o filme, mostrar o trabalho
pronto, chegar com ele as pessoas, é muito especial, principalmente,
quando não é em festivais competitivos, onde a premiação
é o que domina corações e mentes.
- Como você vê o cinema brasileiro
no momento atual, falando em termos de filmes e estética?
Considero que essa tão apregoada diversidade
não existe, os filmes por diversos motivos, estéticos ou
de mercado, se aglutinam em poucos grupos. Esses grupos muitas vezes não
se encontram, a não ser na tela. Não é o caso por
exemplo do grupo de Pernambuco, que continua produzindo e se encontrando,
com a característica de estar sempre em comunhão de idéias,
principalmente em relação a criação de uma
estética vinculada a cultura e geografia do povo brasileiro.
- Quais as expectativas para a entrada
de um novo Governo, o que sempre significa toda uma nova série
de orientações para o andamento da produção?
Quais áreas você consideraria as mais emergenciais em termos
de ação deste Governo?
Sem dúvidas a distribuição
e a exibição, nelas se encontra o erro histórico
de não termos um circuito exibidor para nossos filmes e principalmente
para o nosso público, que não tem dinheiro para pagar 14
reais num ingresso. Acho que o governo, junto com empresários dos
setores de distribuição e exibição, deveria
estimular a criação de salas populares, espalhadas por todo
o Brasil, com ingressos a preços pagáveis, em lugares onde
não existem salas, o interior e as periferias. Na produção,
chegou a hora de promovermos uma nacionalização da produção,
ou seja, que se produza em todas as regiões do pais e que esses
filmes possam circular prontos por todo o pais, também. Além
da garantia de financiamento para produções consideradas
de alto risco em relação ao público, filmes de estreantes,
ou de regiões mais pobres, ou de estética experimental,
porque sem esses filmes não vai haver uma renovação
e nos não poderemos dizer que existe cinema brasileiro.
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