Assunção
Hernandes
Presidente do Congresso Brasileiro de Cinema
Após duas edições no início dos anos 50, em
2000 a classe cinematográfica brasileira retomou a idéia
de realizar um Congresso Brasileiro de Cinema, um enorme encontro onde
membros das mais diferentes atividades em ação no setor
pudessem discutir e chegar a algum tipo de ação cuja representatividade
coletiva ultrapassasse as iniciativas isoladas de até então.
Após a realização
deste evento, em Porto Alegre, decidiu-se por não apenas tornar
a iniciativa regular (bienal), como se transformou o CBC numa entidade
permanente de representação do segmento audiovisual brasileiro
frente às diferentes instâncias governamentais, inclusive
elegendo-se formalmente uma diretoria. O primeiro presidente da entidade
foi Gustavo Dahl, que depois se transferiu para a Ancine, quando esta
foi criada. Após o Congresso de 2002, realizado no Rio de Janeiro,
foi montada uma nova diretoria tendo à frente a produtora de cinema
Assunção Hernandes, que ocupa no momento o cargo.
Como maior representante,
portanto, do coletivo da classe cinematográfica brasileira, fomos
ouvi-la quanto às questões que regem o andamento da atividade
nesse início de um novo Governo. Cléber Eduardo conduziu
a entrevista que se segue.
Contracampo: O Congresso
Brasileiro de Cinema tem 42 entidades e congrega representações
do audiovisual de todas as regiões. É um núcleo político
da classe cinematográfica. Quais suas atribuições
e de que maneira pode interferir nas decisões do governo para o
setor?
Assunção
Hernandes: Temos uma organização que reúne a totalidade
da representação cinematográfica no Brasil, tanto
geográfica quanto dos diferentes segmentos. Conseguimos manter
um espaço democrático dentro do CBC. Durante os eventos
do Congresso, discute-se amplamente os problemas e tira-se as resoluções
que vão orientar a atuação do CBC até o outro
Congresso, que é convocado de 2 em 2 anos. Nesse intervalo, questões
que surjam, precisando de novas decisões ou de revisão das
resoluções face a fatos novos, são tratadas em Assembléias
Gerais Extraordinárias, convocadas para fim específico,
com a presença de delegados eleitos pelas entidades associadas,
que representam desde o produtor mais poderoso, até o realizador
curtametragista estreante, passando pelo distribuidor, exibidor, diretor,
professor. Cada um entrando com o que traz em sua bagagem, contribuindo
para uma visão sistêmica do cinema. Investimos no consenso
e não na decisão da maioria. O pressuposto a deliberar é
a posição que conduza ao fortalecimento do audiovisual brasileiro,
contra a hegemonia de uma produção importada, que agride
a diversidade cultural. Com isso, elaboramos a política para o
audiovisual no Brasil, e chegamos ao Novo Governo com uma proposta que
tem tudo para realizar o que ele se propõe: a inclusão de
todo povo brasileiro no exercício pleno da cidadania, com direito
a usufruir dos bens da sociedade, não só o de comer, viver
dignamente mas também se ver refletido na criação
artística e audiovisual do País. Nossa proposta de política
para o cinema não passa por uma postura corporativa, mas sim por
um compromisso com um Brasil mais justo e soberano, e isto é o
que estamos oferencendo ao Novo Governo.
Contracampo:
Quais as medidas mais urgentes para o cinema e em quais campos? Como elas
podem ser viabilizadas?
Assunção:
Manter a produção no ritmo crescente e competitivo, criar
um circuito popular de exibição para os filmes, garantindo
a diversidade cultural ao alcance da população como um todo,
apoiar as distribuidoras que se especializam no lançamento de filmes
brasileiros. Regulamentar o espaço das salas de cinema existentes,
de tal forma que a importação desenfreada de títulos
e a ocupação das salas existentes, atingindo até
um terço delas com um único titulo, não inviabilize
a circulação do produto nacional. Temos que partir do princípio
de que o mercado brasileiro é nosso e a nós brasileiros
cabe regulá-lo. Temos ainda de regulamentar as obrigações
da televisão enquanto concessão pública para que
cumpra seu papel previsto na Constituição Brasileira, estabelecendo
as contrapartidas para a sociedade, como faz todo país democrático,
introduzindo o espaço para a produção regional brasileira
e garantindo a presença significativa de filmes nacionais de produção
independente. A televisão é um veículo para circulação
de produtos e em todo país democrático que se preza há
limites para a produção interna da televisão, que
varia entre 25 a 30%. Até nos Estados Unidos foi assim atéque
os diferentes segmentos da indústria audiovisual se estabeleceram
e fortaleceram. Outra regra que vige em todo o mundo é que nenhum
canal pode atingir mais que 30 % da audiência para evitar o controle
da opinião pública. Enfim, para se construir uma verdadeira
democracia, é perciso regular a Comunicação Social.
Contracampo:
São necessárias alterações nas leis de incentivo?
Quais?
Assunção:
As leis de incentivo vieram para permitir a existência e o fortalecimento
da produção cultural e audiovisual independente e regionalizada.
Hoje as Leis, da forma como estão, vêm beneficiando mais
os grandes conglomerados econômicos que investem no seu próprio
instituto, na sua própria fundação.Usam o dinheiro
de incentivo para fazer o seu marketing empresarial. O próprio
governo utiliza subterfúgios para se apropriar dos recursos incentivados
para fazer realizações que seu orçamento não
contempla. São formas de disvirtuar o objetivo para o qual os incentivos
foram criados. As decisões ficam nas mãos dos profissionais
do marketing, o que nem sempre privilegia a arte e o bom projeto. São
alterações que precisamos imprimir nessas leis. No entanto,
temos de reconhecer que elas possibilitaram a expansão da produção
cultural no Brasil. Agora é aperfeiçoá-las, não
prescindirmos delas. Só não podem se constituir na única
forma de produzir cultura, há que ter maneiras diversificadas outras
alternativas e principalmente uma política nacional para a cultura
e o audiovisual.
Contracampo:
Em um governo cujo início de gestão é moldado pela
austeridade, não seria pertinente se estabelecer um teto de captação
via leis de incentivo para cada projeto? Existem propostas ou pressões
nesse sentido?
Assunção:
No caso do audiovisual, temos teto para captação, apenas
casos extraordinários ultrapassam esse teto. Quanto aos demais
projetos culturais, seria interessante também estabelecer limites.
O setor cultural e o audiovisual tem todo interesse em regras claras e
democráticas. O salve-se quem puder é penoso para nós,
só nos dá desgastes e acontece pela falta de parâmetros
definidos para a participação do Estado no fomento direto
ou indireto da Cultura. O setor organizado do audiovisual, representado
pelo CBC, quer transparência nas ações, democratização
do acesso aos recursos, desconcentração dos investimentos
em projetos e regionalização da produção e
exibição dos filmes.
Contracampo:
Qual o teto de captação por leis de incentivo, em reais,
para cada projeto, combinando a Lei do Audiovisual, a Lei Rouanet e as
leis regionais?
Assunção:
A Lei do Audiovisual permite a captação de, no máximo,
R$3 milhões para cada projeto. A Lei Rouanet permite para cada
projeto também no máximo R$ 3 milhões. Combinando
todos os incentivos, o projeto pode captar até 95% do orçamento
aprovado pela Ancine.
Contracampo:
Não existe pressão ou projeto de baixar o ingresso do filme
brasileiro, com apoio do governo, de modo a se completar o ciclo de ação
do Estado e fazer as obras retornarem para uma gama maior da sociedade?
Assunção:
Há muito tempo defendemos o ingresso ao alcance do poder aquisitivo
de toda população. Já tivemos projeto de ticket-cinema.
Os trabalhadores, a exemplo do ticket-refeição, teriam direito
a um número determinado de ingressos para ir ao cinema. É
uma idéia que pode a qualquer tempo ser retomada. Se 93% do povo
brasileiro não tem acesso ao audiovisual, alguma coisa pode e deve
ser feita para resolver esta questão. Não há como,
no século 21, um país que busca encontrar seu espaço
no conjunto das Nações, conviver com uma situação
dessas que o iguala as Nações mais atrasadas do mundo. Na
proposta da nova política para o audiovisual, está previsto
o estímulo para a expansão de uma rede de salas populares,
onde se exibiria um percentual de filmes brasileiros a preços acessíveis
Contracampo:
Há alguma proposta do CBC para fazer os filme brasileiros sairem
do gueto das grandes capitais e circularem por mais regiões e cidades
do país? Há muitos lugares onde, se não fossem os
festivais da cidade, o filme brasileiro não chegaria nunca.
Assunção:
O CBC se preocupa especialmente com isso. Da nossa plataforma política
faz parte a proposta de apoio à construção de circuitos
populares com salas nas cidades médias e pequenas e periferia de
cidades grandes também. Apoiamos todas as formas de levar cinema
à população hoje. Fizemos e ainda estamos desenvolvendo
projeções em praças públicas, projeções
públicas em cidades sem sala de cinema, projeções
em universidades e há o "Cinema Mambembe", que percorreu o Brasil
todo, projetando filmes em pequenas vilas, em aldeias indígenas,
enfim, é nossa contrapartida social. Hoje os festivais de cinema
que se dedicam a mostrar o filme brasileiro, são também
a ponta de lança da exibição de nossos filmes, em
lugares que, sem esses eventos, não teriam nenhuma chance de assistir
cinema brasileiro. Além disso, promovem debates, realizam oficinas,
agitam a cultura local e sensibilizam para a importância do cinema
na formação do imaginário da população,
contribuindo para o desenvolvimento da sua autoestima e até mesmo
para a garantia da soberania do País.
Contracampo:
Existem interesses contrários ao CBC dentro da própria classe
cinematográficas. Quais interesses? E por que razão?
Assunção:
Na verdade, não há na prática interesse contrário
ao que o CBC significa e representa. Eu diria que vivemos um momento de
transição na forma de representação política
do audiovisual brasileiro. O que há ainda é um estranhamento
pela existência de uma entidade nova, com práticas democráticas,
que abriga todos os segmentos da atividade cinematográfica, mesmo
os que muitas vezes se confrontam no dia a dia. Há também
ainda alguma dificuldade de setores acostumados ao longo dos anos, quando
não havia uma organização que reunia todos os segmentos
do elo produtivo cinematográfico e de todas as regiões do
País, de falar a partir de seus interesses particulares, como se
falasse pelo conjunto do cinema. Isto está sendo substituído
passo a passo pelas posições de consenso e quando surge
alguma recaída, nos moldes antigos, imediatamente o CBC atua para
o retorno ao consenso. De quando em quando vivemos um stress provocado
por uma turbulência desse tipo. Mas o CBC tem mecanismos democráticos
para superar esses momentos. Foi o que aconteceu na última assembleia
geral extraordinária, realizada dia 12 de fevereiro em Brasília,
quando a imprensa já anunciava um imenso racha na classe e na verdade
o que aconteceu foi que não tivemos que utilizar em nenhum momento
nem mesmo o recurso da votação para decidir, pois convergimos
todos nos pontos pautados para a discussão, após muito debate
e reflexão. Mas o CBC não descarta a necessidade de revisões
em seu modelo desde que propostos e decididos pelas instâncias previstas
pela própria classe. Enganaram-se os que apostaram na dissenção.
Falou mais alto a compreensão da classe da importância estratégica
do setor neste novo momento político vivido pelo País. E
chegou a ser comovente ver ícones como Luis Carlos Barreto, Roberto
Farias, Cacá Diegues, Zelito Viana e muitos outros, discutindo
com os jovens quadros de documentaristas, curta metragistas, diretores
estreantes, e todo o contingente cinematográfico presente, que
superou a espectativa de 60 participantes, comparecendo mais de 100 pessoas,
e a totalidade das entidades associadas. E é esse olho no olho
que elimina a paranóia e que comprova que as nossas diferenças
são muito menores que as nossas concordâncias, como afirmou
Cacá Diegues em sua fala. E é também quando se descobre
que uns precisam dos outros e que todos nós juntos, independente
de geração, de partido, da estética de nossas obras,
todos somos indispensáveis e temos que permanecer unidos para ganhar
a batalha, pois nosso inimigo comum é superpoderoso, competente
e muito profissional. Não dá para brincar em serviço.
Pelo princípio democrático, o CBC defende que o cinema brasileiro
tem que ser pluralista, contemplar na sua ação sistêmica
todas as tendências. O Brasil é um país de dimensões
continentais, pode e deve fazer uma produção audiovisual
que atenda a todos os gostos do nosso público, sem preconceitos,
sem receitas, sem fórmulas. Afinal esse é o direito à
liberdade que tem a parte criativa do cinema , feito por artistas.
Contracampo:
Para se criar uma indústria, é preciso ter produção
em grande quantidade. Para isso, é preciso ter um circuito para
os filmes serem acomodados no mercado. Para isso, é preciso ter
menos filmes estrangeiros no circuito. Para isso, é preciso criar
dificuldades para os estrangeiros serem lançados no país,
via cobrança de taxas maiores de inscrição ou por
cópias. O CBC apóia esse procedimento e acredita em sua
execução?
Assunção:
O CBC apóia todas as medidas que defendem os interesses do País
e do povo brasileiro, a preservação da soberania nacional,
o estímulo à diversidade cultural na formação
do imaginário do povo brasileiro, no direito que a população
tem de criar e ter acesso às suas próprias imagens e suas
histórias, como fazem todos os países que tem autoestima
e respeitam a cidadania e buscam enfim construir uma nação
democrática.
Contracampo:Mas
acredita na viabilidade política de maior taxação
dos filmes americanos sem retaliação da Motion Picture Association
como pode acontecer no México?
Assunção:
A taxação já existe, isso nós já conseguimos.
Agora, temos que ir ganhando mais e mais terreno. O que só conseguiremos
com a classe unida, como estamos hoje, com uma política nacional
para o Audiovisual correta, o que já temos definida, e finalmente
a vontade política desse governo para viabilizá-la, o que
estamos tentando conseguir agora. Haverá sim retaliação
da MPAA, toda retaliação que eles puderem nos infringir,
como infringem ao resto do mundo. Neste momento, inclusive, fazendo ameaças
e chantagens ao governo mexicano, como fazem aqui há muitos anos
e em outras partes do mundo, pelo simples fato de defendermos o direito
de termos nossas cinematografias nacionais. É por isso que o cinema
americano ocupa hoje mais de 80 % do mercado em todo mundo, não
é apenas porque as pessoas gostam de ver filmes americanos. Eles
fazem a parte deles, até com truculência se for necessário,
para defender os interesses do povo americano e a maioria das vezes interesses
de fortes grupos econômicos daquele País, como estamos vendo
agora no caso da guerra contra o Iraque, leia-se do petróleo iraquiano.
Cabe a nós fazermos a nossa parte. E isso não é uma
questão de crença. É uma questão de trabalho
duro junto ao legislativo, ao executivo e até mesmo o judiciário,
para preservar os direitos e os interesses do País. Isso dá
trabalho, mas é possível. Está aí o exemplo
da França para nos incentivar.
Contracampo:
Há possibilidades reais de se estabecer no Brasil uma política
cultural protecionista como a França, que hoje detém mais
de 50% do mercado de ingressos vendidos para o filme francês?
Assunção:
Acreditamos e trabalhamos para estabelecer uma política que visa
retomar nosso espaço ocupado por uma produção audiovisual
de praticamente uma única fonte, vinda de um país que tem
muito pouco em comum com nossa história, nossos valores, nossa
cultura. Não queremos exclusividade nem para nós nem para
ninguém. Não queremos apenas trocar de hegemonia. Nossa
posição é pela defesa da diversidade cultural, queremos
ver filmes de todos os países que produzem cinema, num movimento
de mão dupla, de reciprocidade, queremos ser vistos também
pelo mundo todo. Hegemonia de imagem, não. Empobrece as mentes,
desestimula a generosidade, a compreensão do outro, conduz ao preconceito,
ao desrespeito às diferenças, à falta da solidariedade
enfim. Por isso tudo, e pelo que somos, podemos sim chegar como a França
chegou, a retomar mais de 50% do espaço para seus filmes, crescendo
também sua presença no resto do mundo. Para isso trabalha
o CBC.
Contracampo:
Mas como isso poderia ser feito? Por meio de que maneiras restritivas?
Assunção:
Para isso temos que ter organismos do Governo e da Sociedade, fortes na
defesa dos espaços do audiovisual brasileiro. Esperamos muito da
ANCINE como reguladora, normatizadora e fiscalizadora da atividade cinematográfica
no Brasil. Temos que começar fortalecendo nossos organismos institucionais.
Temos que desenvolver mecanismos financeiros e de incentivo para a criação
de um circuito de salas de cinema onde haja um compromisso explícito
de exibir um percentual crescente de filmes brasileiros, em primeiro lugar
e a garantia da presença nas telas do cinema de outras nacionalidades
diversificadas, impedindo o predomínio total de uma única
cinematografia estrangeira. Temos que fortalecer através de programas
de incentivo as distribuidoras que se especializem na distribuição
de filmes brasileiros, desenvolvendo uma prática dirigida para
nossos produtos. Queremos ter um vínculo forte com o Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para projetar
o audiovisual brasileiro como uma atividade produtiva que pode gerar empregos,
ocupar espaço no mercado brasileiro, diminuindo a evasão
de divisas, e expandir as exportações, utilizando os mecanismos
próprios desse Ministério. Para isso a alocação
da Ancine está prevista para o Midic. Temos ainda que garantir,
regulamentando o artigo 221 da Constituição Brasileira,
o espaço do audiovisual nacional, regional e independente, na televisão,
e para isso já temos leis tramitando no Congresso Nacional, o que
tornará nosso cinema mais forte e enraizado junto à população,
para transformar nossos objetivos numa questão da sociedade e não
apenas da classe cinematográfica. Enfim, precisamos de realizações
no sentido do fortalecimento e expansão do nosso cinema no País
e no Exterior.
Contracampo:Por
que o CBC prefere a Ancine no Ministério da Indústria e
Comércio e não no Minc?
Assunção:
A nova política para o setor do audiovisual prevê um modelo
estrutural na forma de um tripé. Isso para nós do cinema
se traduz em facilidade de adaptação a situações
diversas e maior estabilidade. Três apoios é o formato que
melhor acomoda a câmera de cinema na hora de filmar, independente
do terreno em que se filma. Como se traduz esse modelo? Foi criado e instalado
o Conselho Superior de Cinema na Casa Civil, que prevê a participação
de sete Ministros de Estado e cinco representantes destacados da atividade
cinematográfica e videofonográfica. Esse Conselho tem por
função estabelecer a política nacional para o audiovisual,
visando o fortalecimento estratégico da atividade. No MinC permanecem
as funções do cinema como cultura, ou seja, a preservação,
experimentação, pesquisas, curtas metragens, documentários,
longas de baixo orçamento, primeiros filmes, estímulo a
novos talentos, formação, festivais, etc. O terceiro órgão,
a Agência cuja alocação foi prevista em lei junto
ao Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio
Exterior, tem por atribuições a defesa da atividade, a recuperação
do mercado para o filme brasileiro, o crescimento da oferta de salas de
cinema na direção da expansão do mercado a camadas
populares, a normatização, a regulamentação
e a fiscalização da atividade cinematográfica no
País. É no MIDIC que vamos encontrar os mecanismos institucionais
para abrir novos espaços para a implantação e o fortalecimento
do cinema como atividade industrial, resultando como consequência
na criação de empregos, na colocação do nosso
produto no mercado brasileiro e na abertura de espaços no exterior,
aumentando a exportação do nosso audiovisual e diminuindo
a evasão de divisas, pela importação de títulos
extrangeiros. Se queremos construir uma atividade industrial forte, competitiva,
temos que ousar novos vôos. E temos que ficar atentos com a regulamentação
da comunicação social. E temos que atuar em conjunto com
o Ministério de Relações Exteriores, para defender
nossos interesses nos organismos mundiais que regulam as negociações
internacionais. A atividade audiovisual passa praticamente por todos os
setores das diferentes atividades organizadas no Governo. Neste momento,
nossa prioridade é fortalecer a atividade enquanto indústria,
forte e competitiva. Por isso insistimos na implantação
desse tripé definido na lei que estabeleceu a nova política
para o audiovisual.
Contracampo:
A Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica
pretende criar um fundo com o dinheiro das estatais para patrocínios
culturais. Como há acionistas minoritários da iniciativa
privada nas estatais, esses acionistas tendem a preferir investir em projetos
de maior apelo comercial. O Ministro Gilberto Gil já se colocou
contrário a essa postura. Qual é a posição
do CBC a esse respeito?
Assunção:
O que estamos entendendo da ação da Secretaria de Governo
é que ela está estabelecendo uma política para o
uso dos recursos de incentivo das empresas estatais. Eu não sei
até onde os sócios minoritários dessas empresas definiam
ou escolhiam os projetos a serem incentivados. O que queremos do Governo
é que haja transparência nos procedimentos, critérios
discutidos com o setor e a sociedade, desconcentração da
aplicação dos incentivos, acesso democrático aos
recursos, que prevaleça o mérito e não o clientelismo,
e finalmente que essa política contemple as diferentes regiões
do País. Recomendamos também que nesse momento não
se paralisem as atividades em andamento, até que se implante o
novo modelo. Estamos insistindo junto ao Governo que apresente seu novo
modelo de atuação à apreciação da sociedade
organizada.
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