Questionário:
Giba Assis Brasil
1. Ensino: segundo-grau
(se possível, nome completo e indicação se é
colégio público ou privado) e curso universitário
(faculdade e curso)
Curso secundário
(1968-1974): Colégio de Aplicação da Faculdade de
Filosofia da UFRGS - público, federal. Curso Superior (1975-1980):
Bacharel em Jornalismo pela Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação
da UFRGS - público, federal.
2. Filmografia
como diretor.
1984: VERDES ANOS
(longa, 35 mm, co-dir: Carlos Gerbase)
1983: EXPEDICION LOCH NESSI (curta, super-8)
1983: INTERLÚDIO (curta, 35 mm, co-dir: Carlos Gerbase)
1981: DEU PRA TI ANOS 70 (longa, super-8, co-dir: Nelson Nadotti)
3. Filmografia
atuando em outras funções.
TRABALHOS COMO
MONTADOR (excluídos longas e trabalhos para televisão, super-8
e filmes inacabados)
2002: DONA CRISTINA PERDEU A MEMÓRIA (curta, 35mm)
2000: O SANDUÍCHE (curta, 35mm)
1999: O VELHO DO SACO (curta, 35mm)
1999: O OITAVO SELO (curta, 35mm)
1999: TRÊS MINUTOS (curta, 35mm)
1998: PAULO E ANA LUIZA EM PORTO ALEGRE (curta, 35mm)
1998: TRAMPOLIM (curta, 35mm)
1997: SEXO & BEETHOVEN, O REENCONTRO (curta, 35mm)
1997: ÂNGELO ANDA SUMIDO (curta, 35mm)
1996: PONTE HERCÍLIO LUZ, PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE (média,
35mm)
1995: FELICIDADE É... ESTRADA (episódio de longa, 35mm)
1995: DEUS EX-MACHINA (média, 35mm)
1994: VENTRE LIVRE (média, 16mm)
1994: A MATADEIRA (curta, 16mm)
1994: VEJA BEM (curta, VT)
1993: O ZEPPELIN PASSOU POR AQUI (curta, 35mm)
1992: BATALHA NAVAL (curta, 16mm)
1991: ESTA NÃO É A SUA VIDA (curta, 35mm)
1991: FARRA DO BOI O DOCUMENTÁRIO (média, 16 mm)
1991: AU REVOIR, SHIRLEI (curta, 35mm)
1990: MAZEL TOV (curta, 35mm)
1990: MANHÃ (curta, 35mm)
1990: MEMÓRIA (curta, 35mm)
1990: A COISA MAIS IMPORTANTE DA VIDA (curta, 35mm)
1990: FESTA DE CASAMENTO (curta, 35mm)
1990: O CORPO DE FLÁVIA (curta, 35mm)
1989: O AMOR NOS ANOS 90 (curta, 35mm)
1989: ILHA DAS FLORES (curta, 35mm)
1988: A ROLETA (média, U-Matic)
1988: BARBOSA (curta, 35 mm)
1988: O PALHAÇO, O QUE É? (curta, 35mm)
1988: VICIOUS (curta, 35mm)
1987: PASSAGEIROS (curta, 35mm)
1986: OBSCENIDADES (curta, 35mm)
1986: O DIA EM QUE DORIVAL ENCAROU A GUARDA (curta, 35mm)
1984: TEMPORAL (curta, 35mm)
TRABALHOS COMO ROTEIRISTA (excluídos longas e trabalhos para televisão,
super-8 e filmes inacabados)
1994: VENTRE LIVRE (média, 16mm)
1988: BARBOSA (curta, 35mm)
1986: O DIA EM QUE DORIVAL ENCAROU A GUARDA (curta, 35 mm)
1983: INTERLÚDIO (curta, 35 mm)
TRABALHO COM PRODUTOR EXECUTIVO
1989: ILHA DAS FLORES (curta, 35mm)
4. Com que estrutura
de produção foram realizados seus curtas-metragens?
No INTERLÚDIO
(1983), a equipe era inacreditavelmente pequena: diretor (2), diretor
de fotografia com um assistente, produtor executivo (que acumulava a direção
de produção) com dois assistentes, e só. Foram 3
dias de filmagem e pouco mais de um mês até a cópia.
Já em O DIA EM QUE DORIVAL ENCAROU A GUARDA (1986) tinha 2 diretores
de produção, 4 assistentes, 2 diretores de arte, assistente
de direção, 2 assistentes de câmara, 5 eletricistas
e 1 operador de grua, além de um operador de vídeo (VHS)
que também servia como som-guia. Foram 8 dias de filmagem e um
total de 35 dias entre a primeira filmagem e a primeira cópia.
DEUS EX-MACHINA (1995, nosso primeiro filme 35mm feito com som direto)
teve uma equipe de 26 pessoas na filmagem. Foi filmado em 5 dias e levou
pouco mais de 3 meses pra ficar pronto.
DONA CRISTINA PERDEU A MEMÓRIA (2002, nosso curta mais recente)
teve 36 pessoas envolvidas na filmagem, entre set e base. Filmado em 4
dias, levou pouco mais de 4 meses entre a primeira filmagem e a primeira
cópia.
5. Por que o curta-metragem
como formato?
Porque é
mais barato, mas prático, mais democrático, mais descentralizador.
Porque é possível até errar que ninguém vai
ficar muito indignado com isso. Mas é importante lembrar que não
existe indústria audiovisual (e portanto pessoas vivendo disso,
o ano inteiro, exercendo as mais variadas funções) sem uma
produção constante de longas. O que aconteceu no Brasil
entre 1985-95 foi uma distorção histórica: poucos
recursos pra produção de longas e um sistema de financiamento
quase sem abertura para novos cineastas e novas equipes de produção.
Daí que toda a criatividade de uma geração se voltou
quase que exclusivamente para o curta. O que tem um lado ótimo
(que a gente viu nos festiviais) e um lado péssimo (que a gente
ainda não conseguiu ver até agora).
6. Qual foi o tipo
de financiamento dos filmes que você dirigiu?
O único
curta que eu dirigi (INTERLÚDIO, 1983) foi feito praticamente sem
orçamento nenhum. O produtor do filme conseguiu uma grana (nunca
fiquei sabendo quanto, nem de onde) pra comprar 3 (três) latas de
35mm pb e um crédito no laboratório. Equipe e elenco trabalharam
de graça, em locações (não havia diretor de
arte nem cenógrafo). O fotógrafo iluminou tudo com 4 refletores
de 1 kW cada, emprestado, como a câmara e a moviola. Até
aí, tudo bem. O erro foi o som (música e voz sobreposta,
nenhum ruído), que foi feito de forma muito porca mesmo, e ficou
ruim demais. Ano passado, conseguimos vender o filme pro Canal Brasil
e refizemos todo o som no Final Cut Pro.
O único curta que eu produzi (ILHA DAS FLORES, 1989) foi financiado
pela própria Casa de Cinema de Porto Alegre, através de
um concurso que a gente chamou de "Projeto Foda-se": "Se tiver dinheiro
pra fazer a gente faz; se não tiver, foda-se, a gente faz do mesmo
jeito." Fizemos um concurso interno, em que nós 13 escrevemos 11
roteiros e nós mesmos selecionamos o melhor. Conseguimos apoio
da Kodak, da Curt-Alex, da Alamo, da Ciclo Filmes (moviola) e da Plug
(produtora de audio). Todo mundo que trabalhou no filme seria pago depois,
com as rendas obtidas (exceção feita aos figurantes, que
a gente pagou na hora). Custou, em dinheiro, 6500 cruzados novos, o equivalente
e 4 mil dólares. Por incrível que pareça, deu certo.
7. Os incentivos
muncipais, estaduais e federais à produção de filmes
de curta-metragem têm se revelado suficientes e/ou necessários
para dar vazão à produção a fazer (à
sua própria, à da sua região)? Se não, quaissão
as alterações ou novas propostas a adicionar às já
existentes?
Não existe
política cultural baseada apenas em incentivos fiscais. É
preciso haver formas de apoio direto à produção,
com mecanismos de seleção mais plurais, abertos e democráticos
- como o Fumproarte da Prefeitura de Porto Alegre.
8. Por que você
faz cinema?
Quando entrei
na Faculdade de Jornalismo, pensava vagamente em escrever sobre cinema
ou política internacional. A oportunidade de fazer um super-8 com
o Nelson Nadotti me atropelou, até porque o filme foi crescendo
e virou um longa. Nunca mais consegui retomar a "carreira" de jornalista.
Acho que faço cinema porque não escrevo bem o suficiente
pra ser escritor.
9. Quais as suas
influências?
Julio Cortázar,
Caio Fernando Abreu, Luis Fernando Verissimo, Gore Vidal, Alan Moore,
Monteiro Lobato, Umberto Eco, Rubem Fonseca, Italo Calvino, Kurt Vonnegut
Jr, Chico Buarque, Ronald Laing, David Cooper, Raul Seixas, Luiz Carlos
Merten, Sérgio Santeiro, Jean-Claude Bernardet, José Carlos
Avellar e Nelson Nadotti.
10. Quais são
seus projetos e/ou objetivos como realizador?
Nenhum. Mas essa
resposta é incompleta. Eu realmente não me interesso mais
em ser "realizador", no sentido de voltar a dirigir filmes. Mas me considero
um co-realizador de (quase) todos os filmes de que participo. Uma das
boas coisas que há em ficar velho (existem outras não tão
boas, e algumas péssimas) é que a gente descobre o que sabe
fazer bem feito, e o que não sabe fazer de jeito nenhum. Eu descobri
que trabalho melhor a partir de idéias dos outros, trabalho com
muito rigor e um pouco de talento pra melhorar boas idéias, pra
conseguir extrair o melhor possível delas. Meu objetivo, portanto,
é continuar trabalhando com bons realizadores, e que eles tenham
boas idéias pra gente aperfeiçoar juntos. Idéias
que nos ajudem, um pouquinho que seja, a compreender melhor o mundo e
seus habitantes, que afinal é pra isso que a gente vai ao cinema.
11. Como você
vê a produção contemporânea de curta-metragem
no Brasil?
Ainda tem muito
curta-piada e muito curta-portfólio. Como não existe um
mecanismo de mercado tipo a Lei do curta, impera o curta-festival. Eu
particularmente gosto do curta-conto, do curta-documento e do curta-idéia,
eventualmente até do curta-experiência. Mas, felizmente,
a vida não se resume a esses rótulos, alguns dos quais eu
acabei de inventar.
12. Como você
vê o cinema brasileiro recente?
Mais plural do
que na Era Collor. Menos inquieto que nos anos 60, mais comunicativo que
nos 70. Mais contemporâneo do que na época da Vera Cruz,
menos engraçado que na época da Atlântida. Tecnicamente
mais bem resolvido que na implantação do cinema sonoro,
mas com os mesmos problemas estruturais de distribuição-exibição
de sempre.
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