Vigor
do cinema brasileiro em 2002.
Mesmo sem ter acabado, 2002 já é o ano mais
importante do cinema brasileiro em décadas. Pense por
um momento: que outro ano do cinema recente poderia se dar
o luxo de ter exibido filmes da importância artística
e/ou social de O Invasor, Dias de Nietzsche em Turim,
Cidade de Deus, Viva São João,
Rocha Que Voa, Ônibus 174, O Príncipe
e quetais? Não bastasse, o ano vai terminando e nos
entrega dois grandes filmes estreando em novembro: Madame
Satã de Karim Aïnouz e Edifício
Master de Eduardo Coutinho. Entre as aproximações
possíveis entre os dois filmes, muito pouco além
da obsessão por perseguir até o limite um assunto
e a confiança de que só uma forma cinematográfica
vigorosa é capaz de revelar e exprimir artisticamente
seus objetos de predileção. Prova de energia
e fé na arte contra um cinema brasileiro que nos últimos
anos ficou refém de temas e formatos sem perceber que
ao mesmo tempo estava fazendo cinema. Contracampo percebe
a sintonia e dedica a esses dois cineastas duas longas entrevistas
nas quais eles falam sobre tudo, mas especialmente sobre suas
preferências estéticas e os segredos do métier.
Quanto ao ano de 2002, ainda resta muito a falar sobre ele.
Obviamente, quando for o caso, não havemos de nos desviar
do assunto. Em breve...
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Completando
a edição, nossas já tradicionais observações
gerais acerca dos festivais de setembro/outubro. Alavancada
por dois ótimos encontros internacionais (Carlos Reygadas
e Emanuele Crialese, realizadores de dois dos melhores filmes
vistos no Festival do Rio, Japão e A Ilha
de Grazia), falamos de cinema japonês, imagens abjetas,
retrospectamos polemicamente o cinema de Alexandr Sokúrov
e comentamos de forma geral o vasto panorama de filmes vistos
no eixo Rio-SP. Completamos nossa edição com
algumas resenhas sobre os filmes de Julio Bressane, adicionando
já mais à nossa edição
especial dedicada à retrospectiva desse realizador.
No Plano Geral, uma reflexão sobre a retrospectiva
de Mike Leigh no CCBB de São Paulo. Aproveitando
o lançamento de Dívida de Sangue, nossa
seção de DVD/VHS dedica uma de suas edições
para dissecar os primeiros filmes do ator-realizador antes
da notoriedade "autoral" com Bird e Os
Imperdoáveis. Retorno ao amor da cinefilia e do
classicismo do gênero, onde Eastwood conseguiu fazer
verdadeiras pérolas sem precisar ceder uma onça
ao repertório bem-pensante do cinema "culto".
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Os leitores
freqüentes devem ter acompanhado, a propósito
dos festivais, um quadro de cotações que acompanhava
e permitia ver as consonâncias e dissonâncias
de opiniões dentro do seio da revista. Como dito no
editorial anterior, o quadro
é anátema da crítica mais séria,
mas acreditamos que seja possível misturar animação
cinefílica com argumentação consistente.
A partir dessa edição, o quadro de cotações
passa permanentemente para a seção de críticas
dos filmes em cartaz, como forma de ajudar o leitor na escolha
sobre quais filmes assistir (sabemos que nem todos dispõem
de tempo para assistir a todos os filmes) e para matizar na
medida do possível as diferenças internas a
respeito dos filmes entre os membros da redação.
Bom uso!
Ruy Gardnier
ça
fotos da edição: Fernando Duarte |