Editorial



Lázaro Ramos em Madame Satã. O filme de Karim Aïnouz é uma das estréias mais vigorosas da história do cinema brasileiro. Contracampo entrevista o autor.
   
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fotos da edição: Fernando Duarte

Vigor do cinema brasileiro em 2002. Mesmo sem ter acabado, 2002 já é o ano mais importante do cinema brasileiro em décadas. Pense por um momento: que outro ano do cinema recente poderia se dar o luxo de ter exibido filmes da importância artística e/ou social de O Invasor, Dias de Nietzsche em Turim, Cidade de Deus, Viva São João, Rocha Que Voa, Ônibus 174, O Príncipe e quetais? Não bastasse, o ano vai terminando e nos entrega dois grandes filmes estreando em novembro: Madame Satã de Karim Aïnouz e Edifício Master de Eduardo Coutinho. Entre as aproximações possíveis entre os dois filmes, muito pouco além da obsessão por perseguir até o limite um assunto e a confiança de que só uma forma cinematográfica vigorosa é capaz de revelar e exprimir artisticamente seus objetos de predileção. Prova de energia e fé na arte contra um cinema brasileiro que nos últimos anos ficou refém de temas e formatos sem perceber que ao mesmo tempo estava fazendo cinema. Contracampo percebe a sintonia e dedica a esses dois cineastas duas longas entrevistas nas quais eles falam sobre tudo, mas especialmente sobre suas preferências estéticas e os segredos do métier. Quanto ao ano de 2002, ainda resta muito a falar sobre ele. Obviamente, quando for o caso, não havemos de nos desviar do assunto. Em breve...

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Completando a edição, nossas já tradicionais observações gerais acerca dos festivais de setembro/outubro. Alavancada por dois ótimos encontros internacionais (Carlos Reygadas e Emanuele Crialese, realizadores de dois dos melhores filmes vistos no Festival do Rio, Japão e A Ilha de Grazia), falamos de cinema japonês, imagens abjetas, retrospectamos polemicamente o cinema de Alexandr Sokúrov e comentamos de forma geral o vasto panorama de filmes vistos no eixo Rio-SP. Completamos nossa edição com algumas resenhas sobre os filmes de Julio Bressane, adicionando já mais à nossa edição especial dedicada à retrospectiva desse realizador. No Plano Geral, uma reflexão sobre a retrospectiva de Mike Leigh no CCBB de São Paulo. Aproveitando o lançamento de Dívida de Sangue, nossa seção de DVD/VHS dedica uma de suas edições para dissecar os primeiros filmes do ator-realizador antes da notoriedade "autoral" com Bird e Os Imperdoáveis. Retorno ao amor da cinefilia e do classicismo do gênero, onde Eastwood conseguiu fazer verdadeiras pérolas sem precisar ceder uma onça ao repertório bem-pensante do cinema "culto".

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Os leitores freqüentes devem ter acompanhado, a propósito dos festivais, um quadro de cotações que acompanhava e permitia ver as consonâncias e dissonâncias de opiniões dentro do seio da revista. Como dito no editorial anterior, o quadro é anátema da crítica mais séria, mas acreditamos que seja possível misturar animação cinefílica com argumentação consistente. A partir dessa edição, o quadro de cotações passa permanentemente para a seção de críticas dos filmes em cartaz, como forma de ajudar o leitor na escolha sobre quais filmes assistir (sabemos que nem todos dispõem de tempo para assistir a todos os filmes) e para matizar na medida do possível as diferenças internas a respeito dos filmes entre os membros da redação. Bom uso!

Ruy Gardnier

ça

fotos da edição: Fernando Duarte