A Viagem Interior,
de Raanan Alexandrowicz

The inner tour, Israel/Palestina, 2000


Existe mais de uma semelhança entre este filme e uma das sensações do Festival do Rio do ano passado, o também documentário Promessas de um novo mundo. Assim como no caso deste, trata-se aqui de um filme feito com poucos recursos e que tenta olhar os lados israelense e palestino do conflito do Oriente Médio. Também como naquele filme, a realização deste trabalho se deu antes da explosão de violência mais recente que nos trouxe até a periclitante situação vivida hoje na região.

Mas, os principais traços a unir os filmes certamente não dizem respeito a cronologias ou detalhes de produção. O principal mesmo é que ambos os filmes conseguem mostrar com uma clareza chocante quão simples e quão complexos são os conflitos entre israelenses e palestinos. Simples porque, tanto no caso das crianças do filme anterior quanto no de alguns personagens deste filme, vemos como a compreensão entre as raças é possível de ser alcançada com apenas um mínimo de boa vontade. Complexo porque vemos igualmente quão arraigadas são as mágoas e desconfianças que impedem este processo.

Para cada depoimento ou cena que parece nos encher de confiança aparecem outras três ou quatro cenas absolutamente desencorajadoras. Porque os conflitos que se referem a terras e brigas familiares, como é o caso aqui, parecem especialmente impossíveis de "resolver", quanto a algum dia um dos lados ceder. Há neste novo filme algumas cenas fortíssimas, como a visita dos palestinos a um museu judeu que rememora o heroísmo de sua "invasão" ou as conversas onde podemos perceber que a imensa maioria dos palestinos já esteve preso em algum momento, com motivos ou por pura paranóia.

O que este filme não tem que Promessas tinha de sobra é um ritmo atraente. Aqui tudo funciona num certo tom monocórdio que faz com que os argumentos em si, se não se percam, fiquem diminuídos no poder de comoção e reação. Pode se dizer que esta suposta isenção dramática seja altamente desejável em um documentarista, mas o fato é que a força dos momentos se perde quando tudo passa a ser tratado no mesmo registro, ou por outra, quando tudo parece estar vinculado a uma mesma lógica narrativa. O resultado é um filme que informa, mas não marca.

Eduardo Valente