Um
Mundo Diferente é Possível,
de direção coletiva
Um
mondo diverso é possibile, Itália, 2002
Se o digital permitiu um grande aumento na produção do filme
documentário, por outro lado acabou abrindo espaço para
um grande número de reportagens cujo interesse cinematográfico
é zero acabasse chegando aos cinemas. Tendo isto em vista o grande
mérito deste Um Mundo Diferente é Possível
é justamente se propor como um "filme". A proposta aqui é
bem simples: registrar as manifestações ocorridas em Genova,
paralelas a reunião do G-8 na cidade, do ponto de vista dos militantes
que lá compareceram.
O filme não
se propõe a explicar as manifestações, nem se esforça
em contextualizá-lo (o que pode frustrar alguns e deixar perdido
outros). Quase não ouvimos discurso de lideranças em palanque,
e a grande maioria dos ocasionais depoimentos ao longo dos poucos 70 minutos
de filme é de manifestantes, colhidos nas ruas. Se o filme possui
um discurso (e é inegável que o tenha) ele se resolve mesmo
todo nas longas seqüências de confraternização
entre os manifestantes e na própria forma como o filme foi realizado.
Visto assim, Um Mundo Diferente é Possível é
mais do que bem sucedido, chegando a ter algumas seqüências
admiráveis. Pena que quando chega o momento de mostrar a repressão
policial, a proposta do filme alcance um limite, pois nesta hora a falta
de um pouco de informação pesa. Um corpo estranho acaba
inserido dentro do filme e o espectador fica sem referencias para recebê-lo.
Ele acaba girando em falso durante algum tempo, antes de se recuperar
nas cenas finais.
Além disso
o filme é de fato uma realização coletiva. Os 33
diretores que trabalharem nele que vão desde nomes comprovadamente
talentosos (Mario Monicelli, Ettore Scola, Damiano Damiani, Marco Bellocchio,
Irmãos Taviani) até outros bastante discutíveis (Mimmo
Calopresti, Gillo Pontecorvo) conseguiram, a despeito de uma inevitável
irregularidade, uma admirável coerência interna. Um Mundo
Diferente é Possível de fato parece ter sido conduzido
por uma única pessoa, sem que com isto ele imponha ao espectador
seu ponto de vista. Há sem dúvida problemas, mas mesmo assim
o filme merecia uma atenção maior do que está recebendo,
já que fica bem acima da média recente dos documentários.
Filipe Furtado
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