Na
Fronteira da Loucura, de Jordan Melamed
Manic,
EUA, 2001
O Clube dos Cinco
encontra Um Estranho no Ninho: ok, Na Fronteira da Loucura
não é bem isso, mas é quase. Trajetória de
um adolescente violento (o pitéu Joseph Gordon-Levitt), de sua
internação contra a vontade em uma clínica de jovens-problema
até a aceitação de que precisa se enfrentar e escolher
isso, o filme tem dois públicos: a) adolescentes que se identifiquem
com o grupinho que não consegue resistir às pressões
da idade, desenvolvendo um comportamento inaceitável para a sociedade
e para seus pais, no caso, seus guardiões; ou b) papais e mamães
com filhos adolescentes que, não conseguindo resistir às
pressões da idade, desenvolvem um comportamento inaceitável.
Ou seja, para quem está muito próximo, seja em idade ou
relação, da adolescência. Há quem ache que
isso já é alguma coisa, posto que a maioria dos filmes não
falam para ninguém.
Lyle (o gracinha Joseph
Gordon-Levitt) é um rapaz que não consegue controlar sua
raiva, e, tendo agredido um colega a ponto de quase matá-lo, é
internado em uma clínica de reabilitação para moços
de sua idade; lá há diversos tipos, tais como uma gótica,
um gordão que curte bater em gente menor que ele, uma menina indie-deprê,
um menininho suicida, enfim, uma trupe de infelizes capitaneados por um
psicólogo dedicado (Don Cheadle). Há aí, então,
várias sessões de terapia de grupo em que os jovens conversam,
tentam compreender por que não conseguem se adaptar ao mundo, há
também uma metáfora tola, rasteira sobre um quadro de Van
Gogh; a estética câmera-digital-na-mão-cores-estouradas,
muito em voga hoje em dia, tenta imprimir um tom realista à coisa,
trazer à tona o conflito que se encontra dentro de cada um. É
pouco. O que percebemos é uma câmera irritante e adolescentes
irritantes - ainda que tenham motivo para isso.
O caminho de Na
Fronteira da Loucura é o caminho de Lyle até a aceitação
de que precisa sim de ajuda médica, e de que só no momento
em que ele próprio escolher isso começará o verdadeiro
processo de superação de si mesmo, a verdadeira terapia.
Nelson Rodrigues costumava dizer que hoje - mesmo que o hoje dele se refira
há 20 ou 30 anos, é muitíssimo pertinente - trocou-se
a idade da razão pela razão da idade. O jovem, por que é
jovem, tem razão em tudo; o que ele testemunhava, lá nos
idos dos anos 60 era o nascimento desse fenômeno que chamamos adolescência
e a importância assustadora que se começou a dar a ela. Antes,
era do adulto o mundo, do homem maduro; a partir dali passou a ser do
jovem e o adulto passou a querer ser jovem, e o mundo passou a dar razão
ao jovem. Este filme é um exemplo claro disso: excetuando-se aí
problemas realmente sérios - como do menino abusado sexualmente
pelo padrasto - os problemas de identidade dos adolescentes ali presentes
são por demais superestimados. Na Fronteira... é
um filme bobo, um filme adolescente, mas um filme extremamente conectado
com seu tempo, inteiramente mergulhado em seu tempo.
Ouvi dizer de uma
psicóloga de crianças - pois que hoje há análise
especializada em todos os sentidos - que tratava de um menininho cujo
mal era prisão de ventre. Ele não conseguia ri ao banheiro
e seus pais acharam que era bom levar-lhe até alguém que
pudesse ajudá-lo a resolver esse problema, dentro de si. Levam-lhe
a outra pessoa, que, em conversando com a criança, solucionaria
a sua prisão de ventre. É um pouco isso o que acontece neste
filme. Para ele, o conselho que deu o mesmo Nelson Rodrigues quando inquirido
certa vez a respeito dos jovens; perguntaram-lhe: "que conselho daria
você aos jovens de hoje?", e ele, sabiamente, disse: "envelheçam".
Juliana Fausto
|
|