Invencível,
de Werner Herzog

Invincible, Inglaterra/Alemanha/EUA, 2001


Poucas coisas são mais desagradáveis no cinema (ou poderia se dizer nas artes em geral) do que assistir a um novo trabalho de um cineasta que, seja ou não um de seus favoritos, inegavelmente já realizou trabalhos interessantíssimos, e descobrir que este novo é completamente equivocado. Desnecessário negar: este certamente é o caso deste filme mais recente de Herzog.

Se ao criticarmos disséssemos tão somente que se trata de um filme esquemático, banal, de uma obviedade canhestra, estaríamos dizendo pouco. Pois o que mais incomoda no espectador que conheça um pouco da carreira de Herzog não é apenas isso, mas acima de tudo uma encenação absolutamente equivocada, de uma mão pesada e sem critérios completamente surpreendente. No início, levamos um tempo para entender se isso é proposital. Afinal, seria o filme uma "homenagem" a um cinema mais ingênuo, talvez até mesmo como uma forma de reproduzir na sua linguagem uma certa infantilidade do seu personagem principal. Infelizmente não, o filme vai no dizendo: ele é tão somente equivocado em todos os seus aspectos.

Herzog consegue cometer todos os pecados dos piores diretores: seus atores estão constrangedores em praticamente todas as cenas (a exceção são os momentos em que Tim Roth interpreta o seu personagem no palco - ali a dupla encenação torna seus trejeitos excessivos interessantes), seu encadeamento dramático é banal e completamente manipulativo, seus diálogos parecem tirados de um manual do "mal escrever" (discursivos, sem vida, forçando sempre a trama para a frente da forma mais óbvia), seu trabalho estético é francamente equivocado (desde uma encenação truncada ao uso descarado da trilha sonora).

Mas, o que mais angustia é ver porque ele poderia achar este trama interessante. Há ali subsídios sim para um bom filme. E quando Herzog lida com encenações filmadas (como no circo ou no Palácio do Oculto) ele ainda consegue nos interessar naquilo que filma (como se nesses momentos ele tivesse uma licença para o mágico, fugindo do irritante naturalismo tatibitate que caracteriza o filme). Mas vamos vendo a cada segundo este ponto de partida sendo demolido pela realização. Os equívocos vão dos maiores (como não perceber que o personagem de Roth é muito mais interessante do que o protagonista) aos mais sutis (resolver dilemas com cenas inverossímeis ou realizar sequências que se alongam constrangedoramente). O filme paradoxalmente caminha de forma absolutamente óbvia e ao mesmo tempo aos borbotões, onde cada nova sequência parece um objeto estranho àquela que a precedeu.

São 133 minutos de sofrimento para quem já assistiu Aguirre, Nosferatu, Fitzcarraldo ou tantos outros de seus filmes. Melhor nem passar por eles, porque é melhor guardar na memória outras imagens e sons que Herzog já construiu. Vamos fingir que este aqui nunca aconteceu.

Eduardo Valente