Hollywood,
Hong Kong,
de Fruit Chan
Heung
hong yau hok hor lei woood,
Hong Kong, 2001
Um festival de cinema
com as proporções do Festival do Rio gera muitas expectativas. É o lugar
perfeito para largar a mesmice e ir a procura de especiarias cinematográficas
de terras distantes. Quem estiver disposto sempre acha alguma pérola que
chama a atenção não apenas por ser diferente, mas também por ser bom cinema.
E isso é o que conta quando há centenas de filmes para ver.
O
cinema asiático atual tem sido uma boa escolha para começar o garimpo.
Não só por vir de longe e não ter exibição garantida depois do Festival,
mas sobretudo por ainda possuir diferencial estético e vontade de criar
uma identidade própria. É claro que nem sempre isso representa um bom
cinema, mas em um festival é mais interessante do que qualquer filme europeu
o americano de um diretor já amigo do expectador.
Hollywood,
Hong Kong é um desses casos em que se pode
sair do cinema satisfeito quando se entrou sem maiores referências sobre
o que se vai ver. Fruit Chan, o diretor, faz um filme de pobreza e desamparo,
de contraste social, colocando personagens improváveis em situações mais
improváveis ainda. Sua metáfora é conhecida e a favela de Hong Kong deixa
pensar que esse problema é igual em qualquer parte do mundo. Chan trabalha
com o absurdo não só da realidade. Ela é por si só incompreensível. Dentro
dela, em uma cidade onde prédios caros e shoppings estão colados a ruelas
imundas e pobres, as situações que são apresentadas como pouco lógicas
e os protagonistas tão diversos fazem muito sentido. Tudo parece acontecer,
as ações e reações, por influência direta do ambiente. Pequenos defeitos
de roteiro ou de falta de cuidado na filmagem dos planos passam despercebidos,
dando a impressão de que são planejados para realçar o clima de desorientação
e surpresa que acompanha todo o filme.
Chan
pode não ter feito a obra-prima do século. Seu filme não será consenso.
Muitos vão até detestá-lo. Mas será impossível negar que Hollywood,
Hong Kong representa um cinema que tem alguma coisa a dizer e que
compõe um quadro de produção local que merece ser mostrado. Uma boa escolha
para o Festival.
João
Mors Cabral
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