Full Frontal,
de Steven Soderbergh

Full Frontal, Estados Unidos, 2002

Acompanhar a carreira de Steven Soderbergh é delicioso, pois nunca se sabe o que esperar. Ele é possivelmente o cineasta de sua geração que mais sofre por ser um realizador bem-sucedido em filmes comerciais. Filme sim filme não Soderbergh insiste em nos querer dizer que ele também é artista, que ele é também capaz de fazer filmes de baixo orçamento como O Estranho, filmes esquizofrênicos como Schizopolis, etc. Então Full Frontal se encontra numa posição delicada, pois vem logo após de Ocean's Eleven que, além de contar com megaestrelas coabitando a mesma tela (Julia Roberts, Brad Pitt, Andy Garcia, George Clooney), é com pouco bate-boca seu melhor filme. E a única coisa que o novo filme herda herda de seu predecessor são os atores mesmo: Julia Roberts, Brad Pitt fazem repeteco, assim como Terence Stamp volta para uma curiosa miniaparição.

Mas Full Frontal não é uma produção que almeja o sucesso de grande público. Se tanto, o filme deve ser encarado como uma grande brincadeira, uma grande pegadinha com o espectador que vai assistir a um filme com atores famosos. Você quer ver suas estrelas? Ah, é? Então vou te dar isso aqui, olhe, um filme fragmentado em esquetes que não se comunicam entre si o filme todo, piadas de resultado pouco eficiente (algo entre a comédia de situação e as piadas de constrangimento à la Dogma 95), filmadas em película de menor resolução sempre com cores aberrantes e feias. Em 35mm, só as imagens de um filme (ah! sempre a mesma velha baboseira de filme-dentro-do-filme...) que rodam Julia Roberts e Blair Underwood. Fora disso, acompanhamos as discussões entre um diretor e um ator de uma malfadada peça underground em Nova York, um esquisito teste psicológico realizado por uma bela executiva de recursos humanos e os preparativos para a festa da produção do filme. Nisso tudo, muita conversa jogada fora, e com ela o talento de muita gente.

Tentando se movimentar no cinema "de autor", Steven Soderbergh nos entrega apenas um arremedo de cinema, uma insípida mistura de Time Code com Festa de Família. Excetuando o prazer perverso de ver a doce Julia Roberts fazendo um filme dessa natureza, Full Frontal não oferece mais nada. Se já era de bom tom preferir Erin Brokovich a Traffic por sua sinceridade e eficiência narrativa, agora sem dúvida Soderbergh mostrou que sabe jogar mesmo é do lado do mainstream. Que venha seu próximo filme de mercado, pois esperamos com grande impaciência. Quanto aos outros...

Ruy Gardnier