Eclipse,
de Herbert Brödl
Eclipse, Alemanha, 2002
Provavelmente
a experiência mais inusitada do Festival do Rio deste ano. Desconcertante,
intrigante, difícil de entender como um filme como esse foi feito. Não
que suas qualidades sejam evidentes ao ponto torná-lo interessante. Na
verdade, Eclipse não tem qualidades. Pelo menos não aparentes.
O que aparece na tela é uma confusão de acontecimentos que
não são bem amarrados pelo roteiro. O que de início vai se encaminhando
na direção de um cinema de aventura e crime, ambientado na floresta amazônica,
descamba para uma história de melancolia onde a dor da perda passa a ser
o foco principal. A causa da perda, a morte da escritora Pia, está diretamente
relacionada com fatos misteriosos que não se resolvem. Tráfico de drogas
e de pedras preciosas encantadas, ganância criminosa e música erudita
fazem parte da trama inacabada que cede lugar ao sofrimento do artista
plástico Gil. E pára por aí.
Descrição curiosa? Mais
curioso ainda é notar que Eclipse é um filme alemão. A cara de
produção brasileira não engana, ele está na mostra Foco Alemanha do Festival
do Rio. A produção alemã recente prova que gosta de uma co-produção e
de uma promiscuidade cultural. Nesse mesmo festival há obras que falam
de vodu, Fidel Castro e até Paraíso, de Tom Tikwer, falado em italiano
e filmado na Itália. Mas Eclipse vai muito além dessas experiências.
Com Matheus Natchergale e Betty Goffman nos papéis principais, o filme
fala português e utiliza o povo e as paisagens Amazônicas com desenvoltura,
como se tivesse sido realizado por um nativo. Há uma familiaridade com
o ambiente, o que não significa que o diretor tenha alcançado um resultado
satisfatório. Afinal, o roteiro sem muito sentido não permite que se chegue
cogitar em acerto.
É impossível não adjetivar.
O filme é duplamente estranho. Uma promessa não cumprida de explicação,
aguardada até o final e a apropriação de ambientes, língua e atores nada
característicos de um cinema que inicialmente se diz alemão fazem com
que seja uma obra que não se completa e que só tem valor pelo exotismo
de suas escolhas.
João Mors Cabral
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