Poeira
do Tempo,
de Milcho Manchevski
Dust,
Inglaterra/Alemanha/Itália/Macedônia, 2001
Neste segundo filme do realizador de Antes da chuva descobrimos
que seu principal interesse de fato continua sendo interligar histórias,
lidando sempre com noções de tempo na narrativa. Mas, se
no outro filme as histórias se passavam no mesmo tempo físico,
e apenas eram mostradas de forma a irem se completando cronologicamente,
aqui trata-se de um daqueles flashbacks de mais de cem anos, onde o que
se conta do passado tem reflexo direto (ou nem tão direto assim)
sobre a narrativa que acompanhamos no presente.
Em termos temáticos
e estéticos, a violência como impulso humano continua sendo
central ao trabalho do diretor, que reflete mais uma vez sobre a questão
dos Balcãs (desta vez vista no passado), mas vai buscar ainda elementos
em momentos tão inesperados quanto o Velho Oeste americano e a
Nova York de hoje. O paralelo óbvio vem da relação
conflituosa entre dois irmãos americanos (os conflitos dos Balcãs
não são considerados batalhas entre irmãos?).
Aí começam
a aparecer os problemas do filme: embora transite com segurança
pela sua terra, Manchevski patina feio na sua encenação
do Velho Oeste, que é uma época afinal eternizada pelo cinema.
Portanto, há tamanho manancial de comparações a se
fazer, que sua encenação capenga não cola nem por
um segundo. Pior: embora a ação no Velho Oeste dure pouco,
logo se transferindo para a Europa, os personagens centrais continuam
sendo dois irmãos americanos, e a caracterização
de ambos é absolutamente equivocada, desprovida de qualquer empatia,
o que é sempre grave para os protagonistas de um filme. No presente,
a relação inesperada estabelecida entre um assaltante de
casas e uma velha senhora (na qual as expectativas de dominação
entre as partes são logo viradas ao contrário) possui elementos
de interesse inegáveis, mas não chega a decolar também
por um aparente desleixo de encenação e trabalho de atores.
Mas o que parece mais
sério é que o filme se perde nas suas idas e vindas no tempo,
muitas delas absolutamente desnecessárias, e parece não
conseguir construir com força nenhuma das suas narrativas paralelas,
lembrando neste ponto o recente Ararat de Atom Egoyan, que sofria
do mesmo mal. Na verdade, nesta comparação o filme de Manchevski
até ganha por demonstrar um mínimo de bom humor e inteligência
no que se refere a uma discussão sobre o contador de histórias
e seu poder de brincar com a "realidade". Mas ambos parecem, acima de
tudo, muito barulho por muito pouco. Nas frestas do filme, percebemos
onde ele deveria estar nos interessando, mas o fato é que ele nunca
consegue, infelizmente.
Eduardo Valente
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