Conseguiu me Pegar,
de Pal Sletaune

Amatørene/You Really Got Me, Noruega, 2001

O diretor norueguês Pal Sletaune ganhou a Semana da Crítica do Festival de Cannes de 1997 com Junk Mail. Por meio das situações vividas por um carteiro dado a violar cartas, esboça uma visão inusitada sobre uma sociedade nada certinha, nada ordenada, nada equilibrada, em contraposição ao esteréotipo de normalidade de uma parte do mundo aparentemente nos trilhos – os países nórdicos. Esse gosto por vislumbrar o vírus contido no corpo de superfície sã também pode ser detectado em Conseguiu Me Pegar. Voltamos a um universo preenchido pelo exotismo dos tipos ordinários e pelo lado ordinário dos tipos exóticos. O protagonista é o dono de um restaurante sem clientes. Prestes a ser despejado de seu ponto comercial, com o pai parasita refugiado em uma suposta doença e a ambição de buscar sua felicidade no poder de consumo, o acaso lhe dá uma piscada de olho. Um roqueiro sequestrado cai em suas mãos, assim, do nada, e pode solucionar seus problemas financeiros. Basta cobrar um resgate por ele.

Embora se desdobre por outras linhas condutoras, a narrativa concentra-se no desenho do protagonista, um sujeito comum cujo desespero para sair do limbo leva-o a perder a noção de seus limites. Esse desajuste do personagem entra em choque, em certo sentido instigante, com o tom cool e recolhido da narrativa. Empregando uma iluminação em tonalidades frias, ora azuladas, ora esverdeadas, ora acinzentadas, Sletaune contrapõe essa assepsia visual às turbulências do enredo. Resulta desse paradoxo uma bem vinda estranheza. Mas o potencial de originalidade é limitado pelo empenho em perseguir um modelo dramático um tanto desgastado, com uma traminha cheia de pequenas reviravoltas movidas por acasos e acontecimentos extraodinários, capazes de mudar as trajetórias de personagens já sem rumo por si só.

Cléber Eduardo