Amor Demais,
de Ernesto Rimoch

Demasiado amor, México/Espanha, 2000


Uma das principais atrações do Festival do Rio/2002 é a retrospectiva dedicada aos melodramas mexicanos, que, mesmo que possam ter seus méritos cinematográficos questionados por alguns, apresentam indiscutível importância histórica, tendo marcado uma época. Só que o arrebatador exagero pertinente aos filmes da década de 1940 soa anacrônico e até certo modo grotesco quando aplicado a um modelo contemporâneo. Para comprovar este fato, basta assistir Amor demais. O pior é que se este filme de Ernesto Rimoch houvesse levado até o fim a proposta melodramática, talvez resultasse em algo mais atraente, mesmo que próximo do trash.

Só que o incoerente roteiro opta por alternar momentos de comédia, erotismo vulgar e romance água com açúcar em cenários cartão-postal ao contar a história de Beatriz, uma mexicana que sonha em abrir uma pousada na Espanha em sociedade com a irmã Laura. Enquanto esta parte para a Europa levando as economias da dupla, Beatriz fica em casa, trabalhando para vencer a dureza e ainda mandar dinheiro para a irmã. Ao ser seduzida por um desconhecido em um café, a nada atraente Beatriz desperta sua sexualidade e passa a dedicar os fins de semana ao amado, enquanto durante a semana vai arrumando diversos amantes, que sempre a abordam no café. E estes amantes de meio de semana nunca deixam de lhe proporcionar uma ajuda financeira. Assim Beatriz vai se arrumando na vida, sem nunca atingir a felicidade.

Se a leitura do argumento causa uma estranheza, assistir ao filme desperta nada mais que tédio e repulsa. A realização canhestra faz de Amor demais um sério candidato a filme mais cafona da história do cinema, muito mais cafona até que as novelas dubladas exibidas por SBT ou Rede TV. Incomoda em demasia, por exemplo, o fato da feiosa protagonista exercer tanto fascínio sobre os homens, o que, numa carta a irmã, ela explica pelo fato de sua falta de atrativos aproximá-los de uma realidade triste. O que pode ser mais brega que isso? Então pense numa festa da alta sociedade com a apresentação de um balé aquático ao som de mariachis. E estes são apenas dois entre diversos exemplos encontrados ao longo deste filme cuja inclusão em um festival que pretende um mínimo de qualidade é injustificável, ainda mais como represente do cinema mexicano que vem, recentemente, conquistando uma certa respeitabilidade.

Gilberto Silva Jr.