Minas de câmara na mão



Mário Carneiro e a câmera nem tanto "na mão" assim...

Entre os últimos acontecimentos que indicam, com rapidez e surpresa, a passagem histórica do Cinema Novo de um movimento experimental a uma necessidade de comunicar as várias faces da realidade brasileira a um público de várias faces, três filmes - O Padre e a Moça, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, O Milagre de Lourdes - marcam a abertura de um novo caminho.

Antes, três caminhos: o depoimento calmo, maduro, responsável de um humanista (Nélson Pereira dos Santos, Vidas Secas); o grito descontrolado, sofrido, impuro de um grande selvagem (Gláuber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol); o documentário metropolitano e familiar de um cerebral exaltado (Luís Sérgio Person, São Paulo Sociedade Anônima).

Dois nomes conhecidos, Joaquim Pedro e Roberto Santos, e um inteiramente inesperado, Carlos Alberto Prates, encontram-se numa nova e importante frente do Cinema Novo, a da violência, entre o pudor e a liberdade, numa sociedade fechada em si mesma (e em suas tradições) que de repente conhece os sinais anárquicos da vida exterior, ou simplesmente da vida. Por coincidência, ou por definição, O Padre e a Moça, Augusto Matraga e O Milagre de Lourdes foram realizados em Minas Gerais.

A forte raiz

De todas as incompreensões que receberam O Padre e a Moça, uma me pareceu imperdoável: a total recusa de vincular o filme a um fenômeno sócio-cultural determinado, ou a um espírito que orienta todas as preocupações do seu autor, Joaquim Pedro. Ao partir de um poema de Carlos Drummond de Andrade, mas principalmente ao fechar sua história dentro da paisagem mineira (paisagem física, mental e moral), Joaquim torceu o eixo do Cinema Novo (Bahia, Nordeste, cangaço) e descobriu, pela segunda vez no cinema brasileiro5, a possibilidade de praticar, através de uma linguagem íntima, a mais profunda crítica das firmes raízes que até hoje amarram todo um tipo especial de comunidade.

Se Deus e o Diabo na Terra do Sol era uma tentativa limite, um jovem de 25 anos ensaiando, inutilmente, organizar cem idéias sobre o tumulto do Nordeste pagão, O Padre e a Moça é a reflexão medida, o cálculo posterior, o raciocínio claro sobre Minas santa. Que não se tome o equilíbrio e a ordem como valores básicos: Deus e o Diabo é obra-prima, exatamente por suas dúvidas e imperfeições; O Padre e a Moça, obra que não pergunta, mas já afirma, está duas categorias abaixo, é o clássico bom filme.

Na armadilha das cotações, do bom filme, muitos se perderam. Sem indecisões, lúcido - e assim, obrigatoriamente, pouco brilhante - Joaquim Pedro consegue firmar, para o cinema brasileiro, um rumo várias vezes mais sólido e fascinante do que o de Gláuber Rocha, cineasta limite. Gláuber será sempre Gláuber, pessoal, único, imprevisível, incontornável, inadaptado e inadaptável aos esquemas, confuso, arrogante, líder pela explosão (seu artigo sobre O Padre e a Moça, no JB da semana passada, é uma extraordinária peça de habilidade crítica, a violência pela humildade), Gláuber, enfim, será o cineasta de Terra em Transe - todos esperam, dono de uma obra particular capaz de refletir suas inúmeras interrogações, que são também as nossas.

Joaquim Pedro afirma. Colado à manifestação cultural mineira, que não inclui apenas Drummond, mas a tortura de Lúcio Cardoso, a perplexidade de Murilo Rubião, o erotismo técnico de Valdomiro Autran Dourado2, a crônica irônica de Fernando Sabino, a ironia crônica de Otto Lara Resende, esse carioca, Joaquim, que no seu apartamento de Ipanema parece, em cada canto, manter as raízes que o ligam a Diamantina, Paracatu, Montes Claros, Ouro Preto, faz cinema para resolver uma luta íntima, e só então comunicar-se com o mundo.

Afirma, mas depois de vencer o medo. O Padre e a Moça pode ser tomado como a descrição de uma luta inteiramente perdida, ou uma luta completamente ganha. A dificuldade de comunicação, com limites concretos (o padre, a moça), e no fundo o pudor, a timidez de um jovem cineasta de 33 anos, que tenta viver através das relações com outra pessoa, com o mundo, e ainda não consegue.

Drummond: "A moça grudou no padre, vira sombra".

O medo, enfim, vencido. Para afirmar, ter idéias claras, fazer de São Gonçalo do Rio das Pedras, cidade perdida nos altos da Serra do Espinhaço, a imagem de toda uma opressão, de toda a carga puritana que vem de outras serras e montanhas, Joaquim se anula por um momento, esconde o mineiríssimo temor do ridículo, e declara. Ao declarar, ou seja, ao abrir um diálogo com o mundo, sente que a vitória é amarga: Joaquim Pedro é o primeiro poeta do cinema brasileiro.

Lá vai, lá vai o padre

O padre de Drummond é uma figura poderosa; o padre de Joaquim uma figura inibida. A preocupação em fugir ao espetáculo (pois o cinema, para Joaquim, é "uma forma de conhecimento") marca a história, antes journal d’un curé de campagne do que the young one. Joaquim viu o filme de Robert Bresson, como viu Luis Buñuel, e se tomo Bresson, aqui, como referência principal, é que o tom narrativo de O Padre e a Moça, o seu peso de filme cercado pela paisagem monótona (estradas, ruas de aldeia, portanto também estradas), vem de uma paralisação obsessiva de tempo e espaço - o diário.

"Por mais divergentes que sejam os problemas individuais, eles encontram, enfim, o nível social, oferecendo matéria dialética para o processo coletivo" - afirma Joaquim Pedro. A beleza poética que seu filme transmite surge das relações entre o padre, Paulo José (que fisicamente lembra, em todos os instantes, o próprio Joaquim), e a comunidade (São Gonçalo, como resumo de Minas, a síntese pobre de um preconceito bem rico). E ao unir, no final, um dos versos do início do poema de Drummond:

"Ninguém prende aqueles dois,

aquele um

negro amor de rendas brancas".

com a última imagem do poema

"e medindo das chamas o declínio,

eis que perseguidores se persignam".

Joaquim Pedro realiza, com profundidade emocionante, o primeiro ensaio crítico de uma tradição, de um culto de aparências que resiste, forte como nunca, desde São Gonçalo do Espinhaço a outras serras, outras montanhas.

Augusto que espera

Quatro tempos: quermesse, convalescença, espera, morte. Roberto Santos divide A Hora e Vez de Augusto Matraga em quatro períodos vitais, e transfere uma ação de nordeste para o norte de Minas. O problema da sobrevivência se transforma em problema de honra, o reói luta consigo mesmo, agora a violência é que gera o misticismo - e a história é de Guimarães Rosa.

O admirável, em Matraga, é que seus principais defeitos não são os defeitos costumeiros do cinema brasileiro. É verdade que um deles, o uso excessivo da teleobjetiva e da zoom, está em vários exemplos do cinema novo, mas em Matraga o abuso não chega a criar um vício narrativo, como em O Padre e a Moça. Roberto Santos erra, talvez, na pouca firmeza com que apresenta seu personagem, e na perigosa omissão final: prólogo e epílogo não chegam a participar da excepcional força com que são descritos os episódios centrais, convalescença e espera, duas perfeições de fotografia, montagem e interpretação, um toque sensível e apaixonado numa crise que ultrapassa os seus limites regionais.

Se falo, especialmente, de aspectos da linguagem adotada por Roberto Santos, é porque Matraga contribui, no quadro do cinema novo, como o mais espantoso exemplo de domínio dos meios técnicos do cinema, talvez só comparável a São Paulo S.A. Como Person, Roberto Santos é paulista, e leva para os amplos horizontes das Gerais o soberbo travelling do enterro, a chuva que parece entrar pela sala de projeção, o impressionante almoço dos jagunços, onde os diálogos de Guimarães Rosa ganham, enfim, sua verdadeira dimensão cinematográfica.

Esse pacto de Matraga com a natureza, a constante referência a pássaros, cavalos, árvores, riachos, pedras, inicia o primeiro documentário sobre o grande sertão, evoluindo para uma análise crítica do misticismo local e seus antecedentes, a proximidade da oração e da morte, o célebre eufemismo mineiro da fé como arma. A espera de Augusto Matraga, monólogo interior compreendido e executado rumo a uma conclusão duvidosa, ficará como um dos grandes momentos do cinema novo.

O mistério original

Vinte e quatro anos, militante do famoso Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais (CEC), sociólogo desempregado, Carlos Alberto Prates foi chamado por Joaquim Pedro para fazer a continuidade de O Padre e a Moça. Mas não parou nesse primeiro namoro com a câmara: continuou a observar padres num curta metragem de 11 minutos, O Milagre de Lourdes (ex-O Mistério dos Discos Voadores), pequena obra-prima, jogo de abstração ou política da palavra nunca dita, humor anarquista capaz de agir como uma espécie de meditação (ou depoimento) sobre O Padre e a Moça, seu prolongamento ou negação.

Como primeira experiência de mise-en-scène, Prates certamente irritará todos os adeptos da estréia correta. Seu aparecimento, para os críticos que viram pouco, ou mal (ou nunca viram), os filmes de Jean Vigo e o L’Age d"Or, de Buñuel, nunca mereceria um registro dos que detestam ser incomodados pela audácia. Evidentemente, Prates incomodará, porque qualquer plano do seu filme vale mais do que Zorba, o Grego, Topkapi ou Goldfinger. Vale, também, as obras completas de Cacoyannis, um requintado ilusionista.

Na moderna história cinematográfica de Belo Horizonte, O Milagre de Lourdes aparece como o único filme de ficção realizado por mineiros, e se a etapa é importante para o aparecimento, enfim, de um cinema com base em Minas, sua projeção nos quadros do cinema novo deverá ser a mesma de outra pequena obra-prima, Um Homem e a Fome, curto de José Alberto Lopes apresentado no I Festival do Cinema Amador JB-Mesbla.

O segredo da anedota: Prates tem a firme consciência de que sua história, presa a 11 minutos, não começará nem acabará; que o padre, magistralmente interpretado por um estudante de sociologia que nunca fez cursos de arte dramática, Maurício Lansky, tanto poderá ser mesmo um padre como um farsante; que a perseguição ao padre ("ele é comunista") é um movimento que condensa duas exigências, a econômica (e social: o padre pedia auxílio em dinheiro) e a moral (pois afinal, se o padre não é padre, há que resolver o mistério do padre); que essas duas exigências, num certo tipo de sociedade, é que fazem correr os homens (e as mulheres); que para interpretar a prostituta que abriga o padre, só poderia servir uma prostituta, Suzy Carvalho.

A liberdade, talento difícil, é levada à sua última conseqüência por Carlos Alberto Prates, que até hoje não explica porque seu filme, no roteiro, era apenas O Mistério dos Discos Voadores.

Minas: não há mais?

Foi impossível encontrar, durante uma semana disponível em Belo Horizonte, nomes que antes eram sinônimo de cinema, Ciro Siqueira ou Jacques do Prado Brandão. Fundamentais para a formação da cultura teórico de toda uma geração de mineiros3, Jacques atualmente, sem descuidar das outras artes, é absorvido por suas funções na Justiça do Trabalho, enquanto Siqueira não pode sacrificar o tempo que agora dedica a interesses mais rápidos e superiores.

Mas vi, pela primeira vez em BH, um movimento inteiramente novo. Animados pelo lançamento na cidade de A Hora e Vez de Augusto Matraga, pelo êxito surpreendente de Menino de Engenho, agora fazendo os cinemas de bairro4; pela presença catalizadora de Luis Carlos Barreto, a Difilm de olho no público5, jovens entre 22 e 30 anos, já com participação em produções do cinema novo, preparam sua primeira experiência na direção. Todos, evidentemente, estimulados por Carlos Alberto Prates, líder natural do grupo que passa as noites falando de cinema brasileiro na Cantina do Lucas.

A filmagem em Minas de O Padre e a Moça e de A Hora e Vez de Augusto Matraga tornou possível o aparecimento dos primeiros profissionais de cinema de Belo Horizonte: Carlos Alberto Prates, continuidade, Geraldo Veloso e Flávio Werneck, assistentes de produção, deixaram as sessões do CEC e a crítica para trabalhar com Joaquim Pedro. Prates, após realizar O Milagre de Lourdes, participará (roteiro e direção) de um longa-metragem de quatro episódios, responsabilizando-se por um deles. Veloso (22 anos) pretende rodar, com financiamento da CAIC (Rio), um curta-metragem sobre Araci de Almeida, devendo ainda fazer um dos episódios do longa-metragem mineiro. Werneck (24 anos) dirigirá um 16mm sobre Ouro Preto.

Da equipe de Matraga: Luís Carlos Pires (24 anos), co-produtor, acompanhará as filmagens de Terra em Transe, de Gláuber Rocha, e logo depois pensa em dirigir um longametragem; Guaraci Rodrigues (24 anos), assistente de direção, participa, como diretor de produção, do filme de 15 minutos, Canções da Cidade, realizado para o Instituto Nacional do Cinema Educativo por Antônio Calmon, Carlos Frederico e Rubens Richter; Harlei Dias Carneiro (28 anos), continuidade, trabalha num projeto de longa-metragem baseado em conto de Murilo Rubião; César Pacheco (25 anos), assistente de produção, terá a mesma função no filme musical que Sérgio Ricardo realizará em Minas.

Além desses, Shubert Magalhães (30 anos), após trabalhar como assistente em A Ilha, de Válter Hugo Khoury, e na produção da fase de montagem de Mar Corrente, de Luís Paulino, apresentou projeto à CAIC para curta-metragem a ser rodado em Congonhas, O Jubileu. E Geraldo Magalhães (32 anos), curso de direção no Centro Sperimentale di Cinematografia de Roma, vai realizar um longa-metragem com história ambientada em Belo Horizonte.

Paralelamente ao movimento, o crítico cinematográfico do Diário de Minas, Ronaldo Brandão, dirigirá em maio, a peça de Flávio Márcio (21 anos, ex-crítico de cinema), In Memoriam, sobre Marilyn Monroe. E o ex-crítico Paulo Leite Soares (29 anos), numa experiência curiosíssima, dedica-se com paciência à criação de porcos numa fazenda de Curvelo, interior de Minas, para juntar capital e depois de dois anos, segundo seu firme propósito, produzir um ou dois filmes de diretores já consagrados do cinema novo, como preparação à sua própria estréia na mise-en-scène.

E de fora, com preocupação voltada para Minas: Gustavo Dahl, após realizar Em Busca do Ouro, começa um documentário sobre o Aleijadinho, para em seguida dirigir A Praça Deserta, longa-metragem com ação em Ouro Preto. Eduardo Escorel fará, em Belo Horizonte, Família Família, um dos episódios de Doce Esporte do Sexo. Davi Neves, finalmente termina Humberto Mauro, com cenas filmadas em Cataguazes.

Os novos quadros

Responsável pela produção de O Milagre de Lourdes (Cr$ 4 milhões, seis dias de filmagem, o Centro Mineiro de Cinema Experimental (CEMICE), reúne há mais ou menos um ano os interessados na realização de filmes. Presidido por Marcos Rocha, que tem como assessores Ricardo Noronha, Tiago Veloso e Ricardo Gomes Leite, o CEMICE representa papel essencial no recrutamento de novos valores. É Rocha quem explica:

"Em abril do ano passado, terminaram as filmagens de A Hora e Vez de Augusto Matraga e O Padre e a Moça, voltando para Belo Horizonte os estagiários das duas equipes, pertencentes ao CEC e à Escola de Cinema, com um entusiasmo pela realização cinematográfica que contagiou a todos os que aqui tinham ficado, fazendo cineclubismo ou crítica. Alguns faziam planos de ir para o Rio, como caminho mais rápido para conseguir entrar nos esquemas de produção de filmes e chegar, afinal, ao que todos pretendiam, dirigir. Mas também foram unânimes em reconhecer que era chegado o momento de iniciar um movimento em Belo Horizonte em termos pioneiros e condições precárias, mas iniciar.

Foi assim que, de uma reunião noturna em mesa de bar entre cinco sócios do Centro de Estudos Cinematográficos, surgiu a idéia da criação de uma entidade cultural com as finalidades de "fazer filmes artístico-culturais; criar condições para a existência e sobrevivência de uma indústria cinematográfica em Minas; e lutar pelo desenvolvimento do cinema brasileiro".

A primeira dificuldade foi selecionar 20 nomes porque este era considerado o número máximo possível para que um movimento crescesse sem dispersões. A escolha foi feita, com a maior objetividade possível e com um único critério: a vontade de trabalhar realmente pela causa pretendida. Sócios do CEC se juntaram a alunos da Escola de Cinema; universitários, professores, jornalistas, técnicos, todos se uniram e, numa das muitas reuniões realizadas na Sucursal do JORNAL DO BRASIL em Belo Horizonte (especialmente cedida pela sua direção nos domingos a noite), resolveram que o nome seria Centro Mineiro de Cinema Experimental - CEMICE.

Foi redigido um Estatuto e registrado em cartório, sendo eleita a primeira Comissão Central e quatro comissões auxiliares: 1) de pesquisas e estudos, para serem apresentados às autoridades; 2) divulgação e relações públicas, para fazer contatos com firmas e homens de empresas, objetivando a realização de filmes de propaganda e documentários comerciais; 3) seleção e julagamento de roteiro para analisar, segundo critérios subjetivos de seus membros, mas atendendo a finalidades estéticas, econômicas, políticas etc., os roteiros apresentados quando houvesse possibilidade de realização de filmes e indicar o melhor e mais conveniente para ser realizado; e comissão técnica, para cuidar dos possíveis materiais que a entidade viesse a possuir no futuro: câmaras etc. Conseguimos uma sede social, ainda que modesta, onde passaram a ser feitas as reuniões e coordenados os trabalhos.

E, por deliberação de Assembléia Geral, ficou resolvido que deveria ser feito inicialmente um filme de curta-metragem para servir como um "cartão de visitas da entidade e dar provas do que seus membros eram capazes".

Através de relações pessoais de alguns sócios, foi conseguido um empréstimo de Cr$ 4 milhões, empregado na realização do roteiro selecionado - O Milagre de Lourdes, do sócio Carlos Alberto Prates, realizado em seis dias, no mês de setembro".

Atualmente, o CEMICE luta pela criação, em Belo Horizonte, de uma entidade semelhante à CAIC do Rio, para financiamento de novas produções, através dos fundos provenientes do adicional cobrado nos ingressos de cinema pela Prefeitura local. Por iniciativa própria, o CEMICE tentará, com a realização de filmes de propaganda, garantir uma renda necessária ao saldo dos seus compromissos administrativos. Procura, agora, obter por empréstimo o material cinematográfico do Governo de Minas Gerais - material que, há 15 anos, está quase totalmente paralisado, sem nenhum uso prático ou artístico.

E o velho CEC? Origem teórica, pouso sentimental de várias gerações de cinema, o Centro de Estudos Cinematográficos de Minas Gerais, com 14 anos de existência, persegue os filmes malditos, os clássicos e as novas obras-primas para exibir em Belo Horizonte na falta de uma cinemateca. Presidido por Marco Antônio Resende (assessores: Marcos Rocha, Rubens Gomes Leite), com 200 sócios fixos e em dia, o CEC pensa em criar, ainda este semestre, em colaboração com a empresa exibidora local, um Cinema de Arte nos moldes do Cine Paissandu. Graças à colaboração da Cinemateca Nacional, o CEC já mostrou, neste início de ano, as retrospectivas Clássicos do Cinema Norte-Americano e Buster Keaton, e nos próximos meses pretende exibir a retrospectiva do Cinema Alemão, também em convênio com a Cinemateca Nacional.

Maurício Gomes Leite
(publicado originalmente no Jornal do Brasil, 27/04/66)


1. A primeira, Humberto Mauro

2. Seu Tempo de Amor é um excelente roteiro para cinema

3. Ver Revista de Cinema, números 1 a 25, e nova fase, 1 a 4

4. O filme de Walter Lima Jr., além de sua pura e simples beleza, é o maior fenômeno de bilheteria de cinema brasileiro, em Belo Horizonte

5. E de olho no cinema cinema: Luis Carlos Barreto levará O Milagre de Lourdes a Cannes, para exibições privadas