Editorial



Paulo José, Helena Ignez e Joaquim Pedro de Andrade nas filmagens de O Padre e a Moça

fotos da edição: Fernando Duarte
   
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fotos da edição: Fernando Duarte

Um filme, O Padre e a Moça. Discutir um filme. Como aproximar-se dele? A pauta é antes um desafio: como capturá-lo, como tentar entender sua feitura, todas as intrigas estéticas, o trabalho de cada pessoa, a significação dentro de uma obra, a significação dentro de um conjunto de filmes do mesmo mo(vi)mento. Com interesses e pontos de ancoragem tão múltiplos, seria inglório tentar chegar a conclusões como o "verdadeiro papel" do filme dentro da história do cinema brasileiro ou pesquisar um valor intrínseco da obra. Gostaríamos antes de incitar, de atingir valores e verdades sim, mas aproximativos, jamais definitivos porque, obviamente, o valor de uma obra depende quase que geneticamente do alcance que ela pode produzir no hoje, à medida que ela possa ter algo a dizer para um público contemporâneo. Assim, um filme considerado "deslocado" do problema central na época do cinema novo nos surge agora como uma das peças mais brilhantes produzidas no período.

Mas a coisa vai além disso. Além do próprio objeto, o filme O Padre e a Moça, há o acontecimento O Padre e a Moça, uma temporada em Minas Gerais que mudou os rumos – tanto estéticos quanto existenciais – de uma série de artistas. Um ponto de encontro notável, também, pois o filme é uma encruzilhada de inúmeros artistas notáveis em diferentes etapas de suas carreiras: Paulo José em seu primeiro filme, Helena Ignez saindo da Bahia, Mario Lago em seu primeiro trabalho com o cinema novo (pouco depois faria Terra em Transe), além de Carlos Lyra, Mário Carneiro... Todos explicam aqui sua função no filme, o ambiente das filmagens e um bocado de suas carreiras.

Questão de metodologia, questão de escolha. Por que O Padre e a Moça? Porque um documentário está sendo feito sobre o filme, e há material disponível para que possamos publicar tanto uma pesquisa que contemple os diversos pontos de vista das pessoas que trabalharam nele (as entrevistas) quanto as especulações sobre os aspectos artísticos específicos (os artigos). Se não buscamos aqui a ambição totalizante de análise, sempre duvidosa, resta-nos entretanto a vigorosa força de que, quanto mais dados restituímos sobre um filme, mais forte fica-nos a impressão de que chegamos nesse objeto mítico, que conseguimos chegar naquela dimensão em que conseguimos respostas para o eterno enigma do admirador de cinema: "O que é um filme?"

Boa leitura.

Ruy Gardnier

ça

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