Luz del Fuego, de David Neves

Brasil, 1981

Biografia pouco consistente da famosa dançarina brasileira que, nos anos 50, escandalizou o Rio de Janeiro pela ousadia de seus espetáculos e seu modo de vida naturalista, Luz Del Fuego é um filme menor.

Flertando com o tropicalismo, com as questões da liberdade de expressão, comuns às vésperas da abertura política no Brasil, o filme não estabelece claramente seu objeto. Ora se aproximando do erotismo puro, ora trazendo nuances de crônica política, Luz não se estabelece dramaturgicamente e se assemelha a uma colagem das passagens mais marcantes da vida da personagem.

Sua morte misteriosa e suas ligações ocultas com a elite carioca, esboçam um personagem muito mais interessante do que o apresentado por Lucélia Santos. O olhar de moleca safada (usado feito fórmula em Engraçadinha e Bonitinha mas ordinária) soa superficial diante da força representativa da dançarina.

Feminista, naturalista, nudista, sensual, atrevida, libertária...Todas essas características não encontram eco suficiente na expressividade unilateral de Lucélia.

A aposta no estereótipo da atriz para a interpretação de meninas safadas se sustenta no início do filme mas perde força a medida que a personagem envelhece e amadurece sua postura. O roteiro, por sua vez, não marca bem essas passagens temporais, o que dificulta a boa absorção das mudanças sofridas pela dançarina e torna-se confuso, sem ritmo.

É claro que o filme trata de temas de interessante geral, principalmente quando insinua (na voz de Walmor Chagas) os tempos duros que estariam se aproximando no início dos anos 60...Fica clara a tentativa de transformar a loucura libertária de Fuego em uma metáfora da liberdade de expressão minada pelo moralismo (cujo ápice foi a ditadura militar) e que se insinuava com a chegada do processo de abertura nos início dos 80.

Isso somado a algumas belas cenas de sexo, alguma poesia expressiva na direção de Neves e a curiosidade histórica sobre a personagem, traz alguma beleza a Luz Del Fuego, mas não faz dele um grande filme.

Felipe Bragança