Entrevista com Regina de Rozemburgo para o projeto (trecho)

A julgar pelo arranjamento das perguntas, respostas e comentários, esse fragmento mostra as frases faladas por Arnaldo Carrilho e Regina de Rozemburgo que comporiam o esqueleto da montagem do filme. Confrontar esses diálogos com o plano de montagem imagem X som, a seguir. (RG)

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- Então vai ser tudo primário?

Carr.: Tudo que vou mostrar no filme é primário; primária será a linha de ficção, mesmo assim débil. Vou procurar no filme analisar o problema do personagem ou mostrar simplesmente sem chegar à conclusão nenhuma.

Carr.: Eu quero enfim, Regina, que você ajude a câmera a descobrir Copacabana.

- Apenas aqui é uma aldeia, lá é uma cidade.

Carr.: Exato, mas é uma aldeia com a maior densidade de população do mundo.

Carr.: Não faça com que a câmera se sinta sozinha.

- Copacabana com que hora? De dia, Copacabana de manhã é quase infantil; de tarde é fútil; à tardezinha já começa a ficar densa. Eu vejo coisas terríveis. Amigos me convidam para ver o sol morrer no Arpoador, mas eu nunca vou; em vez disso vou ao Michel, ao Scoth. Vejo coisas incríveis: pais de amigas minhas me convidam para tomar um drink.

Carr.: Seria a hora que os chefes de família voltam do trabalho.

- Quer mostrar sob esse ângulo Copacabana? Zona Sul ou Copacabana? Pra mim Copacabana até o Posto 6 é asfixiante. Quando saio, entro para Ipanema. Começo a me libertar um pouco. Copacabana que conheço é só pederastas, viados, lésbicas, aquela gente querendo sobreviver, mas Copacabana como uma jaula com todos os animais juntos, fazendo qualquer coisa para ir lá em cima tomar ar.

- Copacabana que eu digo são as pessoas.

- Por que aceitar um pederasta e não uma mulher lésbica?

- Todas as moças da minha idade podiam fazer uma coisa melhor, não precisavam se prostituir da maneira que elas fazem; por isso prefiro esse grupo de intelectuais que eu andava, pelo menos o dinheiro para eles só preocupava no lado de tomar um whisky, fazer um filme ou lançar um livro.

- Não dá nada.

- Eu me salvei. Eu sei que não estou libertada.

- Um homem quando não tem reação pode se matar.

- Vocês me querem para mim, aliás, para vocês, para fazer o filme?

- O Rio de Janeiro para mim é uma fossa.

- Os meus granfinos me esperam.

Carr.: Nosso irrealismo será fotográfico. O filme será bem real. Pode ser que façamos cenas noturnas. Será um filme documentário, talvez filme documentário inédito.

- O filme é fabuloso. Eu estou apaixonada pelo filme.