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Entrevista com Regina de Rozemburgo
para o projeto (trecho)

A julgar pelo arranjamento das perguntas,
respostas e comentários, esse fragmento mostra as frases faladas
por Arnaldo Carrilho e Regina de Rozemburgo que comporiam o esqueleto
da montagem do filme. Confrontar esses diálogos com o plano de
montagem imagem X som, a seguir. (RG)
* * *
- Então vai ser tudo primário?
Carr.: Tudo que vou mostrar no filme é
primário; primária será a linha de ficção,
mesmo assim débil. Vou procurar no filme analisar o problema do
personagem ou mostrar simplesmente sem chegar à conclusão
nenhuma.
Carr.: Eu quero enfim, Regina, que você
ajude a câmera a descobrir Copacabana.
- Apenas aqui é uma aldeia, lá
é uma cidade.
Carr.: Exato, mas é uma aldeia com
a maior densidade de população do mundo.
Carr.: Não faça com que a câmera
se sinta sozinha.
- Copacabana com que hora? De dia, Copacabana
de manhã é quase infantil; de tarde é fútil;
à tardezinha já começa a ficar densa. Eu vejo coisas
terríveis. Amigos me convidam para ver o sol morrer no Arpoador,
mas eu nunca vou; em vez disso vou ao Michel, ao Scoth. Vejo coisas incríveis:
pais de amigas minhas me convidam para tomar um drink.
Carr.: Seria a hora que os chefes de família
voltam do trabalho.
- Quer mostrar sob esse ângulo Copacabana?
Zona Sul ou Copacabana? Pra mim Copacabana até o Posto 6 é
asfixiante. Quando saio, entro para Ipanema. Começo a me libertar
um pouco. Copacabana que conheço é só pederastas,
viados, lésbicas, aquela gente querendo sobreviver, mas Copacabana
como uma jaula com todos os animais juntos, fazendo qualquer coisa para
ir lá em cima tomar ar.
- Copacabana que eu digo são as pessoas.
- Por que aceitar um pederasta e não
uma mulher lésbica?
- Todas as moças da minha idade podiam
fazer uma coisa melhor, não precisavam se prostituir da maneira
que elas fazem; por isso prefiro esse grupo de intelectuais que eu andava,
pelo menos o dinheiro para eles só preocupava no lado de tomar
um whisky, fazer um filme ou lançar um livro.
- Não dá nada.
- Eu me salvei. Eu sei que não estou
libertada.
- Um homem quando não tem reação
pode se matar.
- Vocês me querem para mim, aliás,
para vocês, para fazer o filme?
- O Rio de Janeiro para mim é uma
fossa.
- Os meus granfinos me esperam.
Carr.: Nosso irrealismo será fotográfico.
O filme será bem real. Pode ser que façamos cenas noturnas.
Será um filme documentário, talvez filme documentário
inédito.
- O filme é fabuloso. Eu estou apaixonada
pelo filme.
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