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Em 1982 houve uma pequena mostra David Neves no Astoria Motion Picture and Television Foundation, em Nova Iorque, no projeto Visiting Filmmakers. Aconteceu a exibição de alguns dos filmes do cineasta, além de um encontro com o mesmo, em que David Neves falou sobre o cinema novo. Reproduzimos aqui um bilhete de David para João Carlos Rodrigues, encontrado atrás do pôster da mostra a que tivemos acesso. No fim,a tradução do pequeno texto que nele constava, escrito por Fabiano Canosa, o programador do evento. N.Y. 12.3.82 João: eis o presente que o Fabiano me deu aqui. Não podia ter sido melhor. Estou às voltas, até amanhã, com a Astória (vai com acento, como recordação da infância). A viagem Washington, São Francisco, Los Angeles, N.Y. foi muito cansativa mas boa. Rendeu-me um convite para falar de cinema brasileiro na UCLA por umas duas vezes como "visiting professor". Luz del Fuego não chegou, mas Muito Prazer cumpriu sua missão de "banco" (ver futebol) a contento. Dê um beijo na Cuca. Chego dia 20, David *** David Neves Foi ele que cunhou a expressão cinema novo, que trazia junto uma teoria fílmica que abriria portas para diversos novos cineastas, influenciando pessoas de todo o mundo, do mundo do cinema ou pas. Com ele, pode-se sempre achar um assunto sobre o qual falar, porque ele tira de letra qualquer assunto em que alguém pode humanamente estar interessado. Ele também monitorou a expansão do cinema brasileiro nas terras européias e cria suspense sobre qual será seu próximo passo: se você vai a qualquer centro sobre cinema no mundo ocidental, pode apostar que encontrará algo creditado a ele, um insight, um filme que ele levou alguém para ver, uma observação arguta ou simplesmente a dádiva de conhecê-lo. Quase um mago, ele desce dos morros de Minas Gerais e aparece de maneira inesperada para o deleite das legiões de amigos em qualquer lugar. Seja pelos seus filmes - desde a não ultrapassada gentileza de Memória de Helena até os inumeráveis documentários sobre escritores, cineastas, faits divers, ao seu Muito Prazer, uma comédia de costumes com uma qualidade rhomeriana que Rhomer ainda precisa alcançar, ele agora busca seu ápice como cineasta com seu Lola Montes do hemisfério sul, Luz del Fuego. Luz del Fuego era uma dançarina, uma mulher do mundo, uma criatura selvagem do Brasil; foi manchete, fez amizade com os mais importantes homens de seu tempo - na verdade, ela morreu por isso. Com a cena política brasileira de 1950 como pano de fundo, ela dançou sete dias por semana entre suas cobras. Seu campo nudista abandonado é ainda um elemento curioso em toda a beleza da baía do Rio de Janeiro. David Neves faz um tributo a essa mulher e ao tempo no qual ele cresceu, enquanto absorvido em tentar pegar quantas matinês fossem possíveis - "um filme a mais visto é um filme a menos para ver" - parecia ser seu lema. Agora é hora de parar de elogiar o homem ilustre e dizer "muito prazer". Igualmente,
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1. Em francês no original. 2. Tradução de Juliana Fausto. |