Arquitetura, a transformação
do espaço, de Walter Lima Jr.

Brasil,
1972
Primeiro
documentário de Walter Lima Jr., esse episódio pioneiro
do Globo Shell Especial é um apinhado formal de tudo o que se fazia
na época no campo do documentário:
Entrevistas, voz off
descritiva, voz off poética, música indutiva, enquadramentos
objetivos, enquadramentos expressivos. Durante seus 50 minutos de duração
passeamos pelas diversas nuances do universo da arquitetura: dos grandes
nomes do modernismo aos problemas de mercado para os jovens profissionais.
O que falta ao filme,
porém, parece ser uma motivação. A narrativa não
estabelece um sentido e não consegue se justificar. São
apinhados de curiosas questões em torno da Arquitetura mas que
pecam pela falta de um recorte mais expressivo.
Passamos por cidades
como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, e vemos divertidas entrevistas
com moradores comuns e profissionais. Falta ao filme um "E daí?".
Falta ao filme um sentido autoral que faça das imagens algo além
de um mosaico de variações sobre o mesmo tema.
Por que se fez esse
filme?...
Nesse mesmo quesito,
as cenas de Brasília se destacam positivamente:
Montadas sobre uma
trilha sonora de suspense e caos, conseguem criar uma atmosfera sombria
e crítica sobre aquele espaço. Como ecos da ditadura militar,
criando um clima de mistério e duvida em torno dos palácios,
da catedral, dos eixos projetados. O trecho que disserta sobre o papel
da arquitetura na expressão de poder, é o retrato de um
cineasta se debatendo dentro de um formato documental pouco confortável,
num tema "oficialesco" pouco íntimo.
"Desenvolvimento",
"progresso", "transformação" - temas
caros ao discurso oficial mas que, nas mãos de Walter Lima Jr.,
conseguem fugir momentaneamente aos positivismos fáceis das reportagens
institucionais da época. Abrindo um importante espaço para
as experimentações posteriores. Um dos primeiros movimentos
em direção às brechas.
Felipe Bragança
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