Vampiros, de John Carpenter
Vampires, EUA,
1998

Sheryl
Lee, a única mulher em Vampiros
É curioso que
desde muito cedo em sua carreira John Carpenter tenha os seus filmes nomeados
sempre da seguinte maneira: John Carpenter's qualquer coisa, isto
é, qualquer coisa de John Carpenter. Mas isso não
poderia ser mais acertado. Aqui, no caso de Vampiros, quem pensou
que encontraria uma repetição de um certo tipo de estética
gótica e sensual, bastante em voga nos anos 90 (tomemos como exemplo
Drácula (Dracula, 1992) e Entrevista com o Vampiro
(Interview with the Vampire, 1994), fitas em que vampiros são
mostrados como criaturas sensuais, envolventes e deveras eróticas)
enganou-se redondamente. Pois que aqui os vampiros são só
motivo para o diretor realizar um western, um faroeste à
moda de Howard Hawks, maior influência, segundo conta o próprio
Carpenter na trilha de comentários que contém o dvd do filme.
Já a fotografia
do filme é exemplar: privilegiando os tons vermelhos, as paisagens
desérticas aparecem bem à maneira dos filmes de velho oeste;
a trama, por sua vez, não poderia ser mais apropriada: James Woods
lidera um grupo de caçadores de vampiros sustentado pela Igreja
Católica mas que parece não seguir muito à risca
os dez mandamentos, mas um código de honra próprio. À
primeira vista um bando de arruaceiros que após uma matança
com duração de um dia inteiro, termina por fazer uma orgia,
cheia de bebidas e prostitutas e com a singela figura de um padre totalmente
bêbado, parte do grupo; tudo com o dinheiro da Igreja e guardado
pela polícia local, que recebe ordens de cuidar bem daqueles que
parecem uns delinqüentes pura e simplesmente. A festinha acaba, porém,
de maneira atroz: um mega vampiro, poderoso até o fim, chega e
destrói tudo, tudo, de um modo bem sangrento. Os únicos
que conseguem escapar são James Woods, o líder, Daniel Baldwin,
o fiel escudeiro-motorista e uma bela prostituta, mordida pelo vampirão,
Sheryl Lee. O motivo que os faz levar a moça é logo dito:
por ter sido mordida por ele, ela estabelecerá, nas próximas
horas, uma conexão muito forte com o vampiro, podendo sentir o
que ele sente e até mesmo ver o que elee vê; logo, é
necessária. Necessária é um termo bem apropriado,
pois que, pelo menos pela parte de Woods (Baldwin acaba se apaixonando
por ela) não há nenhuma compaixão por Lee; Vampiros
foi, por causa das cenas em que ela é, digamos, maltratada por
Woods - que a empurra, bate e um pouco mais - como um filme sexista. E
pode ser, - em verdade o próprio Carpenter afirma ter colocado
as cenas misóginas lá de propósito para provocar
os politicamente corretos e simpatizantes - psorque o que está
em jogo sempre aqui é um certo tipo de amizade que só pode
existir entre homens.
Carpenter, talvez
o cineasta mais ácido da América, enquanto segue esculhambando
valores tradicionais e cristãos (há padres que vendem suas
almas e outros manejando armas enquanto falam sobre ereções,
o próprio vampiro-mor, vem-se a saber, é um ex-clérigo)
constrói um belo filme, um faroeste no melhor sentido do termo,
em que estão lá todos os elementos essenciais, tais como
a luta de um homem só, destruição de um grupo, o
código de conduta próprio, a amizade e a honra pessoal.
Vampiros se mostra ótimo tanto no âmbito em que é
uma homenagem aos autores preferidos de seu diretor como também
é, talvez, a única maneira de se realizar um faroeste sem
parecer anacrônico, mas estando totalmente inserido em seu tempo.
Juliana Fausto
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