Aventureiros do Bairro Proibido, de John Carpenter

Big trouble in Little China, EUA, 1986


Aventureiros do Bairro Proibido foi um dos filmes de John Carpenter mais espinafrados em seu lançamento. Todas as resenhas, unanimemente, o tratavam como 'uma imitação mal feita de Caçadores da Arca Perdida, sem direção e cheia de excessos. O problema parece ser outro: ninguém entendeu direito a quem Carpenter estava tentando homenagear. Ao contrário do magnum opus do sr. Spielberg, aqui os seriados dos anos 40 são apenas uma pequena parte da engrenagem, e não a principal. O grande homenageado tem nome e sobrenome, e se chama Tsui Hark. Na mesma época, ele estava promovendo uma pequena revolução no cinema oriental (que só chegaria de verdade ao ocidente quase 20 anos depois): utilizando-se dos recursos do 'grande' cinema para atualizar os matinés clássicos do cinema popular chinês dos anos 50. Estão lá as gangues rivais de lutadores, os cenários bregas, os tons de verde e azul típicos do Technicolor.

O filme tem vários ingredientes do então recente Zu: Guerreiros da Montanha Mágica: "storyline" impossível de ser resumida em uma frase, deuses do qual nunca se explica qual a extensão dos poderes e interesses, uma cena de ação atrás da outra, seres que saem voando e se jogam raios de várias cores. Junte-se a isso dois elementos bem americanos: o 'perigo amarelo' dos seriados dos anos 30-40, em que um oriental quer dominar o mundo, e o cowboy solitário que não tem nada a ver com a história e acaba se tornando protagonista dela. Sim, porque Kurt Russel está com trejeitos iguais aos de John Wayne nos filmes de Howard Hawks. Junte-se a isto alguns elementos do roteiro típicos do western (como a história sendo contada em um interrogatório policial) e voilá, temos mais um ponto alto da carreira do Rei do Panavision. Falando em homenagens, alguém percebeu a belíssima citação a A Mansão do Inferno, quando Russel tem que sair mergulhando de uma peça para outra?

Por sinal, não fossem umas luzes em neon, o penteado e a maquiagem de Kim Catrall (belíssima mas canastrona como sempre) mais alguns timbres do sintetizador de John Carpenter e mal dava prá dizer que o filme tem mais de 15 anos. O ritmo aceleradíssimo lembra muito os filmes de cineastas como Ronny Yu e Ringo Lam, que começaram a filmar já nos anos 90 (e são herdeiros de Hark). Comparando com outros filmes da mesma época, dá para dizer que, em termos de ritmo e visual (com as ressalvas feitas), esse filme envelheceu muito pouco, sendo mais moderno que muitos Tomb Raiders da vida.

Para dar vida a este ambiente peculiar, Carpenter utiliza-se de apenas quatro atores ocidentais e todo o resto do elenco oriental. Certo, isso cria um clima exótico, mas o que tem a ver com o ambiente multicultural de Indiana Jones? E o que o mau-humorado e bronco clone de Snake Plisken tem a ver com o professor de história vivido por Harrison Ford? Não entendi...

Carlos Thomaz Albornoz