Editorial



Natasha Henstridge e Ice Cube em Fantasmas de Marte de John Carpenter

2002 acena com um novo panorama mundial. Os acontecimentos de 11 de setembro continuam se fazendo notar, de forma leve ou radical, conforme cada caso. No mundo do cinema, o primeiro filme pró-patriotada faz sua estréia ainda em janeiro nos cinemas, Behind Enemy Lines. Desnecessário ver o filme para observar que o esforço ideológico da América vai mais em função de demonizar os outros do que em fazer a autocrítica de si própria. Por isso, é mais do que nunca necessária a menção de John Carpenter como um dos maiores realizadores e cronistas da América de hoje. Sempre atento às mazelas de seu país, Carpenter jamais deixou que seu amor pelo cinema de gênero deixasse de ser um retrato agudo das principais tensões e hipocrisias de seu país, os Estados Unidos. Do fascínio erótico pelo automóvel em Christine à rede de influências da publicidade em Eles Vivem, pregando uma idílica paz que engloba todas as raças na luta contra um inimigo maior (que habita tanto a Casa Branca quanto as montanhas do Paquistão, como poderia evocar Fuga de Los Angeles), John Carpenter dedica cada um de seus filmes a uma América mais tolerante. Por isso a necessidade de analisá-los mais a fundo.

Paralelamente, podemos nos perguntar: que papel pode a crítica de cinema ter em relação à produção, ao ato de realizar um filme? Aproveitando o fato de ter vários membros de sua equipe envolvidos na direção de filmes em diferentes fases de realização, Contracampo lança um olhar que parte de seu umbigo e tenta expandir-se em busca dos contatos entre as duas áreas de atuação. Afinal, se não existe crítica sem realização, será que o contrário pode ser verdadeiro? Ao invés de ser eterno estilingue – analogia pouco procedente mas tão comumente usada –, a revista toma para si não só o papel de vidraça, mas também de pedra em direção a si mesma. Questionar e pensar nossos caminhos é sempre passo fundamental na renovação.

Renovação que aparece em todas as áreas nesta nova edição. A partir dela "oficializamos" a entrada de pelo menos três colegas de redação, sangue novo que será muito necessário a partir deste mês no qual Contracampo não somente reforça e renova os ares de suas seções tradicionais, como lança muito necessários tentáculos em duas áreas onde o audiovisual precisa ser cada dia mais pensado: DVD/VHS e Televisão. Com elas, esperamos poder dar conta de um escopo muito maior de intervenção e interface com o leitor, e de reflexão sobre o que seja em pleno século 21 a tal da imagem em movimento.

Ruy Gardnier e Eduardo Valente

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