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DVD e Estudo Para compreendermos o que o DVD representa hoje no consumo de imagens e sons que tanto "atormenta" nossa tal modernidade, uma coisa deve ficar clara antes de tudo: DVD não é apenas mais um meio de difusão caseira de filmes. Embora ele certamente tenha sido criado e desenvolvido tendo em mente este uso, e sua maior demanda se dará por conta disso, o que o faz adquirir maior interesse para uma revista como a Contracampo não é este fato. Claro, há a questão da qualidade de imagem e som que, se o leitor ainda não conhece e acha que deve ser só uma questão de marketing, fica aqui a nossa palavra: tudo que se disser da superioridade do DVD na relação com o VHS é pouco. Ainda assim, não é isso o principal, especialmente porque a maioria das casas possui uma aparelhagem de TV ou de som que tornará este avanço bem menos perceptível do que realmente ele é. A principal questão para nós é a seguinte: o DVD é uma mídia nova que vem revolucionar, acima de tudo, os estudos de cinema. Não se pode mais pensar em estudar o cinema e sua história a partir do DVD como se fazia com os meios anteriores. Claro, você até podia ter acesso às mesmas informações, mas muitas vezes necessitaria de meses de pesquisa e coleta de dados. Claro, você até poderia estudar os filmes antes, mas não desta maneira. O que o DVD permite é que se misture a fruição audiovisual da obra num formato condizente, se não comparável à película (o que os livros jamais puderam fazer, e que se tornava sempre sua inadequação maior ao estudo do audiovisual), com o conteúdo reflexivo e informativo (que o VHS jamais ousou imaginar). É claro que isso tudo deve ser relativizado, uma vez que inúmeros DVDs são lançados com má qualidade de digitalização de imagem, sem trabalho de som, uma vez que vários outros são lançados sem qualquer trabalho especial de informação para esta mídia, uma vez que não há de fato uma existência de DVDs efetivamente "teóricos" (embora pareça um caminho óbvio para bem breve). Mas, quando se assiste uma edição realmente cuidadosa de um filme neste formato (as quais estaremos destacando nesta seção da revista a cada mês), como costuma ser a marca da mais famosa coleção do tipo, a Criterion Collection, o que você tem de fato é todo um curso sobre um filme, não apenas sua exibição. Ter a oportunidade de ouvir o diretor (ou ator, ou montador, etc) falando do filme, da sua concepção, do processo, enquanto o filme é exibido, é o tipo de opção que na maioria das vezes nem um curso universitário pode dar. Ter acesso a takes não usados, que podem mudar toda a concepção do filme ou reafirmar que a montagem final estava "correta", é uma chance que nunca houve para um estudioso sem pesquisa longuíssima. Ter a chance de ver reunidos os trailers, making of, entrevistas e inúmeros outros materiais (variando de título a título), é uma oportunidade inédita. Claro que boa parte destes extras, nos lançamentos comerciais, visam a criar mais atrativos para a compra dos disquinhos, sem muita preocupação com o "estudo". Mas, em muitos casos são pensados desta forma. Em suma, é claro que o DVD é mais um "golpe comercial" sob muitos aspectos. Mas, mirando onde tenham mirado as distribuidoras, o fato é que elas acertaram direto no coração das possibilidades dos estudos cinematográficos, e não se poderá pensá-los mais daqui por diante sem este meio ou seus desenvolvimentos. Eduardo Valente
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