Christine, o carro assassino, de John Carpenter

Christine, EUA, 1983


Christine em ação

Baseado em um livro de Stephen King, Christine é, como grande parte da literatura desse autor, mais uma dessas histórias em que um sujeito tímido, apagado e fracote, em suma, um nerd total, depois de uma vida cheia de humilhações consegue finalmente a chance de se vingar. A vingança, no caso de Arnie Cunninghan (Keith Gordon), vem na forma de um carro que ele encontra no quintal de um senhor e acaba comprando; o carro já começa com uma aura de mistérios e mau agouro, tendo sido a causa da ruína de seu antigo dono. Aliás, a sua maldade e parte com o sobrenatural já nos é mostrada antes, quando mesmo da sua feitura: na linha de produção, mata um trabalhador da fábrica. Seu futuro dono, porém, nada sabe sobre o ímpeto assassino da máquina e, tendo se sentido fortemente atraído por ela, a compra. Christine, o nome do carro - em inglês carros e aviões em geral costumam ter nomes femininos - passa a exercer um forte poder sobre o rapaz, mudando radicalmente seu modo de ser.

Longe de ser apenas um filme de terror sobre um veículo possuído, o barato de Christine está na transformação que vai sofrendo o rapaz; vivendo em uma cidade meio anos cinqüenta, daquele tipo em que bullies abusados provocam os rapazes bobos sem trégua, a mudança de Arnie, que passa de boboca maria-vai-com-as-outras a homem decidido, galã das menininhas, e em uma demonstração de incrível empáfia, ameaça seus pais usando a força física é realmente o centro da trama. E a influência que Christine exerce sobre ele é realmente grande, e, em um certo sentido, boa. O problema é que enquanto Arnie arranja uma namorada e desafia seus pais, isto é, enquanto começa a se impor frente a situações em que se acovardava antes, seu carro vai simplesmente eliminando todos aqueles que se colocam entre ela e seu querido dono, obrigando seu melhor amigo e sua namorada a se juntarem contra o ex-nerd e sua obsessão.

A cena em que Christine se conserta sozinha é ainda hoje impressionante - aliás, para a feitura deste filme diversos modelos Plymouth, carros-fetiche, foram totalmente destruídos, o que teria causado a revolta de diversos colecionadores. Notável também é o artifício que faz com que ela seja capaz de se comunicar: através das músicas que toca em seu rádio. Pois sim, na condição de carro assombrado, ela pode escolher as músicas que toca fora de qualquer estação, e assim dizer, por meio das letras das canções, o que pretende. E também John Carpenter, através do romance de Stephen King, consegue fazer um cinema que é seu, que é único e que parece fortemente ligado, neste caso em especial, a Nicholas Ray - pelo tipo de personagens, principalmente.

Juliana Fausto