A Aposta,
de Mick Davis


The match, Inglaterra, 1999

Pensemos por um segundo na sequência de fenômenos de público de Quatro Casamentos e um Funeral, Ou Tudo ou Nada, Um Lugar Chamado Notting Hill, Little Voice, Billy Elliott, A Fortuna de Ned, O Barato de Grace, ou até mesmo os trabalhos de Stephen Frears em A Grande Família e A Van. O que eles possuem de comum para que possam virar uma marca facilmente reproduzível, como tanto agrada aos estúdios e produtores de cinema? Principalmente o fato de serem ingleses, é verdade, mas acima de tudo um retrato dos bretões como seres levemente estranhos, "maluquinhos-beleza" por assim dizer. Na imensa maioria deles (embora os filmes de Frears haja uma diferença), há ainda o desejo de mostrar que a bondade de princípios superará todos os obstáculos da sociedade capitalista selvagem que tenta suprimir as tradições locais.

Pois bem, se isto é uma fórmula, A Aposta já é a indicação da sua completa saturação. Tudo no filme é completamente dejá vu, e pior, obedece a um estrito código de "filme inglês para o mundo ver". Estão lá: a paisagem impressionante de uma área das highlands, excêntricos personagens com manias que geralmente giram em torno de um pub, uma historinha de superação de traumas e de vitória do mais fraco sobre o "monstro do mal". E, claro, uma trama romântica e um conflito (nada conflituoso) de gerações que leva ao entendimento e perdão de parte a parte. O pior: com cinco minutos o espectador já sabe que é isso tudo que virá, e o jogo mais interessante do filme passa a ser brincar de antecipar cada cena (embora algumas de tão picaretas não se possa antecipar).

O que resta é um elenco com algumas figuras famosas claramente se divertindo e ganhando uma grana fácil (outra marca destes filmes, mas quem pode culpá-los?), em especial Ian Holm neste filme. Há ainda um resvalo na questão do futebol como algo muito maior do que a vida, onde se escora o cano de escape da classe operária, mas que passa longe de ser observada com mais atenção. Mas de resto é uma versão futebolística e inglesa da velha trama esportiva que termina com uma partida em câmera lenta e trilha gloriosa na qual os heróis saem atrás e viram no último momento. Ou seja, nada que não se veja em Rocky ou mesmo em Xuxa Requebra. Não muito melhorado, aliás. O jeito parece ser fugir o máximo possível da produção comercial inglesa... não que eles tenham tido melhor sorte ultimamente em outros tipos de cinema, aliás.

Eduardo Valente