O editor de Jairo Ferreira se defende

Há quase um ano a CONTRACAMPO tem o prazer de contar entre seus colaboradores eventuais com o texto de Jairo Ferreira, um dos melhores e mais criativos articulistas/críticos/cineastas surgidos em São Paulo no fim da década de 60, início de 70. Jairo, como muitos outros, andava esquecido, e ter a oportunidade de publicar seus textos foi um privilégio para a revista. Especialmente porque nos últimos anos ele passa por momentos pessoais delicados que não convém discutir neste fórum. Certamente ter um local para postagem dos seus textos foi um componente muito favorável para ele.
Faz parte de nossa política editorial não cercear a escrita de seus colaboradores, afinal no caso de um escritor como Jairo, a liberdade é essencial. Sempre fez parte do seu estilo um forte componente anárquico e iconoclasta, que não fugiu a regra nos textos publicados em CONTRACAMPO.
Porém, quando recebemos uma correspondência como a que segue, também não podemos fugir à responsabilidade de dar a ela o mesmo espaço e liberdade que nosso colaborador teve. Faz parte do jogo. Publicamos Jairo por causa de seu talento e visão, e continuaremos a fazê-lo. Quanto a questões que escapem o campo do cinema, como estas, deixamos o espaço livre para que seja publicada a resposta em anexo. (E.V. e R.G.)



Caros editores Eduardo e Ruy

Em primeiro lugar, parabéns pelo site, sei como é difícil a missão de divulgar cinema neste país e vocês estão de parabéns pelo trabalho que têm realizado.
Estou escrevendo a propósito de um artigo publicado por Jairo Ferreira, que se encontra à disposição no site.
Quem o lê fica com a impressão de que eu, Norian, editor do livro Cinema de Invenção, sou um filho da puta aproveitador. Como não me considero assim, seguem algumas explicações às dissertações do Jairo.
1) Fui apresentado ao Jairo por meio de um colega comum, advogado, que me disse que o Jairo estava procurando um editor para fazer uma segunda edição do Cinema de Invenção, mas tinha dificuldade em encontrar, porque ninguém queria investir em cinema nacional e em um autor como o Jairo, que apesar de grande crítico estava no completo ostracismo.
2) Já conhecia a primeira edição (péssima, por sinal) e resolvi bancar o projeto
3) Durante mais de um ano trabalhei no livro do Jairo, checando e corrigindo informações desencontradas, organizando partes do texto que estavam pra lá de confusas, retocando e consertando fotos que estavam amareladas, rasgadas e praticamente impublicáveis.
4) Jairo Ferreira MENTE quando diz que não recebeu nenhum puto de grana. Antes de iniciar o trabalho fiz um adiantamento de R$ 1.500,00, coisa que nenhum editor neste país faz com este tipo de material, especialmente quando se trata de pequenas editoras. Caso ele desminta, tenho o contrato assinado e os recibos de pagamento. Esse valor praticamente cobre todos os direitos autorais da primeira edição - que ainda não esgotou.
5) Jairo MENTE quando diz que não houve divulgação. Além de programas de TV, saíram várias resenhas do livro. Quem quiser ter a curiosidade de ler uma delas, publicada na Folha de S.Paulo, basta ir ao site da editora.
6) O livro só não teve melhor performace de vendas porque Jairo Ferreira NÃO CUMPRIU compromissos estabelecidos de divulgação de debates. Três eventos organizados para a divulgação do livro, com a presença do autor, foram um fracasso porque Jairo Ferreira estava completamente bêbado. Em um deles, quebrou a mesa colocada à sua disposição e teve de ser carregado; em outro, no SESC de Santos, teve de sair correndo para não levar uma surra dos organizadores.
7) Além dos R$ 1.500,00 de adiantamento, por diversas e diversas vezes "emprestei" dinheiro para ele, mesmo quando aparecia em meu escritório com desculpas esfarrapadas como "acabo de ser atropelado".
8) Me propus, junto com outros amigos dele, a pagar um tratamento para o alcoolismo. Jairo relutou em aceitar.
9) Gosto do Jairo e o admiro como crítico e escritor, mas não posso aceitar que ele fique difamando meu caráter. Pelo respeito que vocês têm pelos seus leitores, solicito que publiquem esta resposta.

Atenciosamente
Norian Segatto