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       Políticas 
        Brasileiras de Preservação e Restauração Cinematográfica: 
        entrevista com Carlos Roberto de Souza 
           
         
      Felipe Bragança: 
        Hoje, vivemos um momento de possível virada de mesa da situação 
        da preservação e restauração de filmes no 
        Brasil: diversas iniciativas vêm sendo tomadas e o interesse em 
        torno do tema aumentado de maneira expressiva. 
        De uma maneira geral, tomando como ponto de partida sua experiência 
        na Cinemateca Brasileira, quais seriam as mais relevantes políticas 
        de preservação e restauração a serem implantadas 
        no país - quais as possibilidades de mudanças tanto atuais 
        quanto futuras, em um campo mais amplo, para essas políticas? 
      Carlos Roberto: A 
        cinemateca brasileira tem 50 anos e acho que durante essa vida toda nunca 
        houve um momento tão propício quanto agora, que nunca se 
        definiu tanto algo que se parecesse com uma política de preservação 
        no país. Já houve momentos de melhoria específica 
        para a Cinemateca Brasileira como instituição, mas nunca 
        uma coisa mais global mesmo, nacional. Atualmente sim. O que a gente pode 
        chamar de política de preservação, pra mim, é 
        algo que envolve não apenas as estruturas de conservação, 
        duplicação de material e restauração... Aqui 
        no Brasil, a gente precisa restaurar prá burro e ainda há 
        a documentação relacionada.... Acho que uma coisa que também 
        está feia é a parte de divulgação: de programação, 
        difusão, pesquisa. Durante muito tempo se juntou muita coisa, se 
        juntou mal as coisas, exatamente porque não existiam estruturas 
        de preservação. Aí você acaba tendo que privilegiar 
        esse lado e só então pensar em ter uma perna na área 
        de divulgação, difusão. 
      Mas sinto que a partir 
        de nossa insistência, acho que houve uma tendência de governo 
        de entender um pouco mais desse negócio. Da iniciativa privada 
        em apoiar projetos nessa área. Não vejo porque não 
        aproveitar o momento e juntar esses esforços todos, acho que a 
        coisa tende a melhorar. Nós inauguramos aquele depósito 
        climatizado na cinemateca brasileira, por exemplo, aquilo foi tirar um 
        peso dos ombros da gente terrível. Aqui no MAM, no Rio não 
        tem, a gente também não tinha... E aí você 
        ter um acervo, juntar um acervo e conhecer esse acervo mas não 
        ter jeito de preservar esse acervo, é uma carga muito pesada. O 
        que a gente ficava fazendo era acompanhar a degradação dos 
        filmes e transportar os filmes de um lugar para o outro: pois desde que 
        entrei lá já teve Ibirapuera, Conceição, Selucan... 
        e finalmente teve o Matadouro, com essa estabilização do 
        acervo e com esse projeto do censo cinematográfico nacional começando 
        em São Paulo e Rio. Eu por exemplo estive em Porto Alegre no encontro 
        da Socine e fiz contatos com o pessoal de lá. Conheci gente de 
        Pernambuco, também. E assim a gente vai estendendo os braços, 
        um pouco mais organizadamente do que a gente fazia no passado. No passado 
        a gente ficava meio passivo, agora não, está se fazendo 
        uma coisa um pouco mais ativa mesmo que é localizar o que existe 
        de filme brasileiro espalhado por todo o país. 
      F: Pensando do ponto 
        de vista de uma tentativa de expansão para outros acervos do país 
        de depósitos climatizados como esses recentemente inaugurados na 
        Cinemateca Brasileira. Que tipo de investimento seria possível, 
        a longo/curto prazo pra que esses acervos também tenham este tipo 
        de modelo de conservação. Que tipo de financiamento é 
        possível, é possível criar um tipo de sistema autosustentável 
        para as cinematecas e acervos em geral? 
      CR: Eu penso que sim. 
        Depois dessa modificação da legislação cinematográfica, 
        da criação da Ancine e da reivindicação de 
        que 15% da arrecadação seja voltada para a Secretaria do 
        Audiovisual... A secretaria vai se voltar especificamente sobre a pesquisa, 
        preservação, e a chamada área cultural que é 
        uma área de obrigação do governo. É muito 
        importante fincar o pé nisso. Esse ano vai ser complicado, é 
        um ano eleitoral também, é o ano em que a Ancine vai estar 
        se implantando, onde a secretaria vai estar redimensionando suas atividades... 
        É importante marcar presença dizendo: "olha, precisa fazer 
        isso, porque se não a gente perde os filmes", vai ser um momento 
        importante sim. Essa coisa do censo cinematográfico: as pessoas 
        não entendem o que se chama de "censo cinematográfico brasileiro 
        – fase um". A "fase um" é exatamente esse mapeamento das coisas... 
        as pessoas me perguntam quanto custa a fase dois, eu não sei. A 
        gente só vai saber quando estiver no término da primeira 
        etapa. A minha idéia é que mais para o final do primeiro 
        semestre do ano que vem, poderemos ter um projeto nacional de preservação. 
        Quais seriam as ações a serem desenvolvidas no campo de 
        instalações, de conservação, no campo de duplicação 
        de material ? A gente vai ter uma espécie de gráfico indicando 
        quanto de material está preservado , guardado adequadamente ou 
        quase adequadamente, pode resistir mais não sei quantas décadas... 
        tanto de material vai precisar de uma intervenção daqui 
        a algum tempo, tanto de material vai precisar de uma intervenção 
        emergencial. Para realizar uma intervenção de emergência, 
        o que é preciso ter ? Estruturas de preservação. 
        Tem um pequeno laboratório na Cinemateca Brasileira. Ele está 
        adequado a esse desafio? Não , não está. O que se 
        precisa? Quais os equipamento de que precisamos? É possível 
        tentar parceria com um laboratório comercial? Se é possível, 
        até aonde ele pode responder. E quanto custaria isso? 
      F: Seria interessante 
        este tipo de associação com laboratórios comerciais? 
      CR: Eu acho quase 
        que fundamental. Diferentemente de outros países onde os arquivos 
        têm laboratórios com tradição de conservação 
        como o Centro Nacional de Cinematografia da França 
        , que tem um laboratório que conserva filmes há 30 anos. 
        Responde não só à solicitação de duplicação 
        de material e deterioração, como copiagem de filmes para 
        mostras na França, fora da França, intercâmbio... 
        dá conta. No Brasil, não. Aqui no Brasil é obvio 
        que a gente não vai dar conta, a quantidade de coisas que esse 
        exame todo que está sendo feito aqui no MAM, deixa cada vez fica 
        mais evidente de que não vamos dar conta. Que vai ter que ser um 
        esforço de salvação de coisas fundamentais. Por isso 
        eu perdi bastante o escrúpulo em relação à 
        necessidade absoluta de se duplicar em película, pôr que 
        não dá, se a gente for duplicar tudo, não dá 
        mesmo! É importante tal documento porque é registro histórico?, 
        então vamos tentar duplicar isso em beta digital, é um jeito 
        de guardar um pouco daquele documento. Graças a Deus a tecnologia 
        tá que tá, se desenvolvendo ninguém sabe direito 
        para onde, nem está muito claro para ninguém no mundo, nem 
        ninguém da parte de tecnologia, nem da parte de arquivo o que vai 
        acontecer. Sabe-se que o digital, a gravação digital, é 
        a informação mais perfeita para ser guardada, agora qual 
        o suporte para isso? Esse é o grande problema pois a fita magnética 
        a gente sabe que não uma tem sobrevida muito grande.  
      F: Você viu 
        essa projeção digital na terça-feira? Da Casablanca?... 
      CR: Não, não 
        vi. Quando eu cheguei aqui o Hernani (Heffner) e o Gilberto (Santeiro) 
        tinham ido lá ver e o Hernani chegou impressionado, "começou 
        uma coisa nova e tal". Eu quero ver sim. 
      Marina Meliande: Mas, 
        a respeito dos laboratórios comerciais, quais são as implicações 
        que podem existir na parceria nessa área de restauração? 
      CR: Olha, eu gostaria 
        que caminhasse na linha em que a gente sempre tentou. Vocês que 
        estão mexendo com filmes, sabem que dependendo do material ele 
        tem um estágio de deterioração. Desde coisas muito 
        simples, que podem ser duplicadas, coisas que já estão cheirando 
        a vinagre , mas que a estrutura fisica do material está legal, 
        é o tipo de coisa que máquinas de um laboratório 
        comercial poderiam processar... Agora, a partir de um certo momento, o 
        laboratório comercial não pega mais, ou pega somente no 
        caso do Chico Moreira da Labocine, que tem um trabalho muito lento, artesanal 
        mesmo. Então, o Chico, eventualmente, poderia responder , como 
        parece que está respondendo por uma parcela. Mas é o tipo 
        de coisa que na minha cabeça é o laboratório da cinemateca 
        que deve pegar o pesado, pegar o problemático mesmo, passar para 
        um suporte novo e daí nós vamos para um laboratório 
        comercial processar. Eu gosto muito da Sílvia Rabelo da Labocine, 
        a gente tem uma boa amizade, eu acho que estreitar um pouco mais no sentido 
        do controle dos banhos por exemplo, isso é uma coisa muito importante, 
        porque o laboratório processa nos banhos de laboratório 
        comercial e o que a gente precisa é de um processamento de longa 
        permanência. Então, as taxas de hipersulfito e o tempo de 
        lavagem do material têm que ser muito maior em relação 
        a essas cópias que são tiradas por aí para exibição 
        comercial. Esse tipo de ajuste, de acordo, de parceria, precisaria ser 
        mais firmado, um compromisso dos laboratórios com o processamento. 
        Agora, eu só vejo a Labocine, porque em SP com a Curt não 
        há possibilidade, o que era a Líder em SP a gente ainda 
        não tentou pela instabilidade do laboratório. Em termos 
        digitais, de duplicação digital, a gente está estudando 
        tanto com a Casablanca quanto com a Mega pra ver se conseguimos fazer 
        um trabalho conjunto, um projeto conjunto, alguma coisa via lei de incentivo, 
        a gente está ainda definindo um projeto em relação 
        a isso. 
      F: Então ainda 
        uma coisa muito centralizada em Rio e São Paulo. Acervos como o 
        que você falou , de Recife , Porto Alegre, Cinemateca Paranaense 
        ainda estariam um pouco isolados 
      CR: Sim. Eu acho que 
        sim. Eu não vejo condição de se instalar laboratórios 
        regionais, o investimento é muito grande. 
      F: Dentro da área 
        desses acervos... 
      CR: Sim, sim, eu acho 
        que o que vamos tentar fazer agora é localizar esses acervos, mandar 
        técnicos , mandar a Fernanda, a Patrícia,mandar o pessoal 
        a estes locais, examinar o estado de guarda desses materiais, o conhecimento 
        que as instituições têm desses acervos, fazer um aconselhamento 
        geral de melhores condições de guarda... Mas em matéria 
        de duplicação de material terá mesmo que ser encaminhado 
        para SP ou para o Rio. Eu não vejo outra alternativa. 
      M: De que forma a 
        Cinemateca Brasileira poderia incentivar a criação de novos 
        acervos e arquivos em outras regiões do Brasil e qual seria a melhor 
        forma de guarda: concentrar todos os acervos em um espaço único 
        ou tê-los espalhados por varias regiões do país? 
      CR: As estruturas 
        de guarda podem ser descentralizadas, inclusive porque, politicamente, 
        existem problemas de discussões regionais: existem locais que não 
        querem enviar o material nem para o RJ nem para SP, um orgulho regional 
        mesmo. Mas aí é muito importante que sejam acervos ligados 
        a universidades ou a museus regionais que tenham um compromisso de preservação. 
        É preciso existir um aconselhamento e um compromisso. É 
        fundamental juntar as pessoas todo que tem algum tipo de relacionamento 
        com acervos e se chegar a uma espécie de acordo nacional em relação 
        à isso. 
      M: Uma espécie 
        de código? 
      CR: Sim, eu acho que 
        a gente tem que fazer isso. Deve ser algo independente das pessoas que 
        estão nos postos agora... Além das pessoas, tem que haver 
        uma espécie mesmo de código de procedimentos e que seja 
        levado a serio. 
      F: Dentro desses acervos 
        existem instituições federais, instituições 
        particulares, algumas fundações,acervos pessoais, seria 
        possível criar uma legislação única para tentar 
        atrelar esses acervos?  
      CR: Eu penso que sim 
      F: Mas como financiar 
        essa política, essa metodologia? Além da manutenção 
        desses acervos... 
      CR: Está claramente 
        definido que a atividade de preservação está ligada 
        à Secretaria do Audiovisual. Então é preciso haver 
        não só um código de comportamento dos arquivos como 
        um compromisso governamental de proteger esse material. Eu acho que talvez 
        a gente consiga, a médio prazo, a curto prazo eu não acredito 
        mais, essa coisa do depósito obrigatório, de todos os filmes 
        realizados serem depositados em local adequado, com conservação 
        adequada. Isso foi discutido no Congresso: que seja depositado num local 
        adequado, que a lei diga isso mas que o Estado também dê 
        condições de manutenção para a guarda. 
      M: O financiamento 
        ainda cabe ao Estado? 
      CR: Sim.sim, é 
        uma atribuição estatal. A gente sabe que o Estado não 
        assumiu, que se a gente ficasse esperando o Estado ter assumido não 
        ia dar certo... A vida da Cinemateca Brasileira é exatamente a 
        comprovação disso: o depósito climatizado teve a 
        participação governamental de apenas 10%. 90% a gente teve 
        que levantar junto a empresas estatais como BNDES, Petrobrás, parte 
        foi da iniciativa privada e alguns bancos. Houve ainda a VITAE que é 
        uma entidade de financiamento de projetos culturais, 90% da verba foi 
        assim, não foi o governo.  
      F: Contando com parte 
        desses 15% que seriam voltados para a Secretaria do AudioVisual, como 
        é que tem sido a relação da preservação 
        com produtores e cineastas? Você acha que mudou a relação, 
        tem sido mais fácil? 
      CR: Eu acho que mudou 
        muito e tem muito para melhorar. No começo da minha vida na Cinemateca 
        Brasileira tinha muito produtor que não entendia muito o quê 
        era uma cinemateca. Era uma ignorância mesmo de quais eram as importâncias 
        da guarda de filmes. Hoje, eles entendem perfeitamente para que serve 
        uma cinemateca. De uns anos para cá o que acontece é que 
        houve uma valorização de material antigo, houve uma necessidade 
        absoluta de, por exemplo o Canal Brasil, o Canal Brasil precisa de filme, 
        a produção de especiais, documentários da televisão 
        à cabo, a quantidade de coisa que é feita com material de 
        arquivo é gigantesca. Então houve isso das pessoas perceberam 
        que aquilo que a cinemateca guarda tem um valor econômico muito 
        sério. Aliás, isso é uma das coisas das quais o Gustavo 
        falou, numa das colocações que fez no Congresso: "tem valor 
        cultural sim ,mas há um valor econômico nisso". Aí, 
        é muito gozado porque a relação com o produtor mudou: 
        na medida em que esse material tem um valor de mercado. A relação 
        deles com as cinematecas tende a ser mais profissional. Parar de encarar 
        a instituição como essa gente boba que guarda essas coisas.... 
        não , eles perceberam que não é assim. E isso não 
        é uma coisa simples, mesmo nos países desenvolvidos onde 
        essa relação comercial vem se desenhando há mais 
        tempo, a coisa não é absolutamente clara. (pausa) Engraçado, 
        alguém comentou durante o Congresso aqui no RJ: antigamente, no 
        tempo da Embrafilme, quando eu era membro da comissão da área 
        cultural, o campo de preservação era tratado a ponta pés 
        pelos próprios curta metragistas que participavam da mesma comissão. 
        Quando se levantava o assunto preservação era quase vaia. 
        Agora não. 
      M: É quase 
        um consenso? 
      CR: Exatamente, todo 
        mundo entende, quando se fala de preservação, da necessidade 
        de dinheiro para preservação, não é contestado, 
        isso é pra mim é progresso mental gigantesco dentro do panorama 
        cinematográfico. A preservação tem lá o seu 
        lugar. E é inquestionável. Por que? Porque os próprios 
        produtores precisam que esses materiais sejam preservados para poderem 
        negociar com esse material nacionalmente, internacionalmente, eles sabem 
        que precisam. Mesmo esses cineastas mais tradicionais, mais antigos, tipo 
        Nelson Pereira, Cacá Diegues, Walter Lima , eles também 
        estão fazendo projetos de restauração de seu material. 
        E aí é que eu acho que tem que ser muito casado, o papel 
        do Estado com o papel da iniciativa privada. Porque a preservação 
        é uma atividade pela qual o Estado tem que responder. Agora, existem 
        nuances quando os produtores fazem projetos de restauração 
        de suas próprias obras: Tudo bem que até determinado ponto, 
        a feitura de algumas matrizes de conservação, o Estado assuma... 
        Mas a iniciativa privada também tem que assumir um outro pedaço 
        disso, eles querem tirar cópias para comercializar, distribuir 
        e não é exatamente o Estado que tem que dar dinheiro para 
        eles ganharem dinheiro. Essa coisa tem que ser bem colocada. A gente conhecendo 
        cineastas sabe que isso é bem complicadinho (risos).  
      F: E os filmes órfãos, 
        aqueles que não tem mais produtores para defende-los, para restaurá-los, 
        caberia às cinematecas a sua restauração? 
      CR: Sim. 
      F: Porque, por exemplo, 
        filmes de ficção longa metragem têm tido mais facilidade 
        do ponto de vista dessa possibilidade de exploração comercial, 
        mas pensando, por outro lado, em documentações, cinejornais, 
        registros: existe interesse na restauração desses filmes 
        do ponto de vista comercial ? 
      CR: Não, não, 
        aí eu já acho complicado porque as grandes séries 
        de cinejornais como Atlântida, Niemayer, isto é muito engraçado 
        porque os atuais herdeiros sabem, os detentores de direitos legais, eles 
        sabem que existe esse valor de mercado, eles vendem. Eu vejo aqui no MAM 
        o Vanderci, que é um funcionário da Atlântida que 
        localiza coisas que a Atlântida vende... Mas não existe um 
        investimento massivo da Atlântida para preservar esse material, 
        isso é uma coisa muito estranha. E nisso tem Atlântida, tem 
        outros produtores como Primo Carbonari em SP. É complicado porque 
        eles sabem que o dinheiro a ser investido é muito grande. Diferentemente, 
        a Cinemateca Brasileira tem a filha do Primo Carbonari que está 
        tentando fazer um projeto de lei de incentivo para captar e preservar 
        o acervo dela. Agora, eu não sei que tipo de encaminhamento deveria 
        ser dado para esse negócio, nessa relação. Na Cinemateca 
        Brasileira temos muito cuidado na assistência nessa área 
        de cine jornais, a gente tenta fazer máscaras, essas coisas todas 
        para não se perder. Aí, paramos de pensar no produtor: tem 
        que salvar porque tem que salvar. Você não raciocina em termos 
        comerciais, você raciocina em termos de importância social 
        e histórica dos filmes. Talvez seja o caso de isso ser parte também 
        de uma discussão, de um fórum ... 
      M: Seria o caso de 
        se rever uma legislação para isso? 
      CR: Sim, em termos 
        de direitos, em termos de obrigações, na medida em que o 
        próprio Estado invista na preservação desses materiais 
        ele deveria ter direitos também de usar esse material de alguma 
        maneira. Eu acho que as cinematecas deveriam ter direito também 
        a esses filmes. Agora, isso só com legislação, não 
        existe acordo fácil com os donos dessas companhias. 
      F: Voltando a um assunto 
        falado mais atrás, da possibilidade de se trazer novas tecnologias 
        para as cinematecas, para esses acervos. Como é que se daria essa 
        relação, é viável trazer, hoje em dia, novos 
        equipamentos para o Brasil ? 
      M: O que se pode desenvolver 
        de tecnologia no país, adaptar equipamentos... 
      F: Existe a possibilidade 
        de algum incentivo governamental para trazer esses equipamentos, porque 
        talvez alguns acervos pequenos tenham mais dificuldades em trazer esses 
        equipamentos. 
      CR: Olha, "indigente" 
        é um pouco forte, mas a gente ainda está um pouco "indigente" 
        em termos de equipamento. Com esse patrocínio da BR a gente comprou 
        uma máquina de revelar nova. Foi uma loucura pensar na quilometragem 
        gigantesca que foi duplicada em SP no laboratório. É impressionante 
        como a gente conseguia fazer isso com uma reveladora que é dos 
        anos 30. Vocês conheceram aquela reveladora, aquilo era uma reveladora 
        dos anos 30 que foi sendo adaptada com pedaços de outras coisas. 
        A gente fez uns 800 mil metros de duplicação de filmes com 
        ela... (pausa) Agora, se adapta só até certo ponto. Meu 
        medo sempre foi de que de repente aquela máquina desmontasse, sabe, 
        sozinha, só de olhar para ela, ela começasse a soltar as 
        coisas. Só agora conseguimos comprar uma máquina simples, 
        uma reveladora, um modelo simples mas já toda computadorizada. 
        Por isso eu digo que a gente precisa ter o básico, a nossa briga 
        não é para sofisticar mas para ter o básico. Mas 
        o que é o básico? Tem uma coisa que é engraçadíssima: 
        esses acervos fora do eixo RIO-SP precisam de mesa enroladeira, não 
        tem mesa enroladeira. Como é que vai revisar o material sem mesa 
        enroladeira? Então é preciso haver um investimento de 70, 
        80, 150 mesas enroladeiras para distribuir pra Brasília, Porto 
        Alegre, Recife , Belém, pra conhecer esse material. É descabido 
        pensar em levar esses materiais para SP, trazer para o RJ pra ser examinado. 
        Quanto custa uma mesa enroladeira? Não custa 1000 reais, custa 
        uns 500 reais, eu acho que 450 é o custo que a gente tem para fazer 
        lá em SP. Mas não vai ser a Cinemateca Brasileira que vai 
        fazer 150 mesas enroladeiras. Agora, equipamento básico de cinema 
        às vezes deixa as pessoas um pouco espantadas pelo seu custo. É 
        um equipamento caro para nossos baixos limites orçamentários. 
         
      F: Existe alguma facilitação 
        para a importação desse tipo de equipamento? 
      CR: Existe. Existem 
        algumas portarias da Secretaria da Receita Federal. Eu acho que também 
        é uma coisa que precisaria se configurar como lei específica 
        para a área . Fizemos um projeto ano passado para a FAPESP para 
        equipar o que chamo de básico no laboratório da Cinemateca 
        Brasileira O projeto ficou por volta de 450 mil dólares e a FAPESP 
        aprovou alguns equipamentos, um pouco mais de 10% disso. Uma outra parte 
        a gente conseguiu com o investimento da BR. Agora ainda estão faltando 
        equipamentos da ordem de 300 mil dólares. Então quando a 
        gente fala de política de preservação é muito 
        importante ter a visão geral. Vai fazendo um composé de 
        patrocinadores e investidores nessa área. Isso é uma idéia 
        que a gente desenvolveu na Cinemateca Brasileira. Precisamos retomar os 
        patrocinadores de fora do país também. Existem alguns organismos 
        como a UNESCO, que foi uma instituição que sobretudo nos 
        anos 80 deu recursos para a Cinemateca Brasileira adquirir lavadora ultrasom, 
        aquela própria GLF do laboratório, aquela copiadora de janela 
        molhada, foi uma contribuição da UNESCO para nós. 
        Tem também a Agência Espanhola de Cooperação 
        Internacional que surgiu nesses últimos anos e que está 
        dando recursos para atividades de restauração. A gente o 
        ano passado restaurou um filme com negativo virgem dado por essa agência. 
        Esse ano ela está dando, via FIAF, uma certa quantidade de filme 
        virgem. Então é uma coisa que a gente precisa ampliar um 
        pouco: as nossas solicitações a esses organismos internacionais. 
      M: A FIAF funciona 
        apenas como um mecanismo regulador ou também como financiadora? 
      CR: Não, ela 
        não tem dinheiro. A FIAF é uma espécie de intermediaria, 
        ela dá o aval dela para cinematecas do mundo inteiro conseguirem 
        recursos de organismos internacionais. O recurso dela é só 
        das anuidades dos membros para a manutenção da secretaria 
        em Bruxelas e a realização dos congressos. Esse ano foi 
        no Marrocos. A cinemateca Marroquina é uma cinemateca pobre, boa 
        parte dos recursos para a realização do congresso foi dada 
        pela FIAF. Existe a idéia de que o Congresso da FIAF de 2005 seja 
        realizado no Brasil, uma parte em SP (os seminários técnicos, 
        workshops) e a parte burocrática digamos, a assembléia geral, 
        seja feita aqui no RJ. A FIAF gostou muito da idéia. Eu tive essa 
        idéia porque ano que vem o Congresso vai ser em duas cidades, em 
        Estocolmo e Helsinke. A parte técnica vai ser em Estocolmo, aí 
        bota todos os congressistas no barco, viaja até Helsinke e faz 
        a assembléia geral lá. 
      M: Você participa 
        de todos os congressos? 
      CR: Sim. Então 
        todo mundo achou ótimo ser no Brasil. Faz muito tempo que não 
        se faz um congresso da FIAF na América Latina. O último 
        foi na Colômbia a uns dez anos atrás, e em 2005 vamos estar 
        com todo esse trabalho de agora bastante consolidado, acho que seria um 
        momento legal. A outra idéia que a gente tem também é 
        a de apresentar para 2005 uma atualização da pesquisa que 
        a Maria Rita Galvão fez em 1987, que foi o grande levantamento 
        dos arquivos de filmes latino-americanos. Como é que está 
        a preservação de filmes na América latina? Já 
        faz algum tempo desde 87, seria importante ter uma atualização 
        disso.  
      F: Existe, hoje, algum 
        modelo de cooperação na área de Preservação 
        na América Latina? 
      CR: Olha, nessa época 
        em que a Maria Rita fez a pesquisa, nos anos 80, havia. Tem a CLAIM, que 
        é a Cortinadora Latino Americana de Arquivos de Imagens em Movimento. 
        Em todos os congressos da FIAF, fora do congresso, a gente sentava para 
        conversar. Discutir, intercambiar coisas, havia, pôr exemplo uma 
        circulação de mostras pela América Latina. Era uma 
        instituição não oficial, porque a CLAIM não 
        tem sequer estatuto, uma coisa informal mas eficaz. Agora, o que aconteceu 
        foi que a crise na América Latina foi geral. Muitos arquivos que 
        estavam com trabalho estruturado, por causa da crise econômica e 
        principalmente crise política se esfacelaram, quase morreram mesmo. 
        O primeiro efeito disso é que nem sentávamos mais para conversar... 
        As mostras e os circuitos de exibição murcharam. Eu acho 
        que agora está começando a haver de novo uma articulação. 
        Houve um encontro no México onde foi desenhado um encontro de técnicos 
        de documentação para se pensar num conhecimento comum, um 
        arquivo comum, aí eu acho que a participação do Brasil 
        fundamental. É uma loucura esse divórcio que existe entre 
        o Brasil e os outros países da América Latina. A gente não 
        vê os filmes que eles fazem, a gente não tem relação 
        nenhuma, é um absurdo.  
      F: Você falou 
        sobre a dificuldade de intercâmbio na América Latina: vamos 
        falar um pouco mais sobre difusão. Como você vê as 
        possibilidade de um modelo integrado de difusão para as cinemateca 
        brasileiras? 
      M: Para que a gente 
        também possa assistir aos filmes das nossas cinematecas, para que 
        outras regiões do Brasil possam ter acesso a esse acervo. Até 
        a gente que mora no Rio não conhece o acervo da Cinemateca Brasileira... 
        Que tipo de política de difusão poderia mudar essa situação? 
      CR: É preciso 
        definir o que seria essa política de difusão. Eu tive uma 
        conversa muito legal com a Lúcia Lobo, numa das vezes em que ela 
        foi a SP. Com essa dedicação quase exclusiva para o sistema 
        de preservação do depósito, para o laboratório, 
        e por uma questão de perfil, por exemplo, eu tenho um perfil muito 
        mais técnico, de pesquisa, do que de programação, 
        difusão. Não apareceu uma pessoa que encarnasse essa missão 
        de pensar sobre isso, de pensar na difusão da cultura cinematográfica. 
        Seja na programação da sala da cinemateca, seja na difusão 
        em níveis nacionais, seja em intercâmbios. Acho muito legal 
        que os estagiários da Cinemateca Brasileira estejam começando 
        a pensar nisso, encaminhar algumas propostas. Não se pode esquecer 
        que 90% das cinematecas do mundo começaram com programação. 
        Antes de ter acervo o que elas faziam era exibir filmes, eram clubes de 
        cinema, cineclubes que, pela preocupação de uma ou outra 
        pessoa, começaram a constituir um acervo. A FIAF é de 1938 
        e juntou quatro instituições que faziam exibição 
        de filmes. Pela própria vocação original desses arquivos, 
        essa atribuição faz parte das cinematecas. Mas como eu estava 
        discutindo com a Lúcia, ela me disse assim: "das duas uma: ou você 
        pára de ter angústia por não exibir e continua fazendo 
        isso sem angústia, ou a gente precisa pensar os mecanismos desses 
        sistemas de difusão e de programação, que precisam 
        mudar." Mas não dá para voltar atrás e agir como 
        aquelas cinematecas de antes... O mundo mudou muito nessas décadas: 
        hoje você tem facilidades de acesso a cinematografias estrangeiras 
        via VHS, via DVD... Você tem uma oferta extraordinária que 
        as gerações anteriores não tinham mesmo, não 
        tinha jeito de ver Encouraçado Potenkim... Agora você 
        tem televisão a cabo. Eu estava discutindo com os estagiários 
        de SP sobre que tipo de abordagem poderia ser feita. Eu acho que deveria 
        ter na sala da Cinemateca Brasileira uma programação constante 
        de cinema brasileiro. Tem que ter uma história do cinema brasileiro 
        todo ano. O que que é importante? É importante passar O 
        Pagador de Promessas? Todo ano passa. É importante passar o 
        Brasa Dormida? Todo ano passa. Vai ter gente, não vai ter 
        gente? Não importa a essa altura, é uma questão de 
        formação de público, formação de cineastas... 
        É muito mais fácil você conseguir recursos para copiagem 
        de coisas para a circulação de mostras, é muito mais 
        fácil do que pedir recursos para constituição de 
        depósitos, compra de equipamento, que são uma coisas discretíssimas, 
        ninguém vê, não tem transparência para o patrocinador. 
        Ao mesmo tempo eu acho muito importante conscientizar esses patrocinadores 
        de evento como o Centro Cultural Banco do Brasil, de que fazer mostra, 
        homenagear um cineasta implica também em participar da preservação 
        da obra do cineasta. Não adianta fazer uma homenagem ao Walter 
        Lima Junior e exibir cópias em frangalhos, isso não é 
        homenagear ninguém. Parece que o CCBB do Rio já tem feito 
        isso. Para se conhecer o acervo da Cinemateca Brasileira é preciso 
        um projeto de feitura de cópia porque nosso trabalho tem sido voltado 
        para fazer as matrizes. Mas aí eu fico indignado, porque a gente 
        não salva filme para guardar no depósito e ninguém 
        ver, a gente salva para mostrar! Porque registra a cultura brasileira, 
        registra a arte cinematográfica no Brasil. Esse lado é fundamental. 
      F: Seria viável 
        algum tipo de circuito para que essas cópias pudessem ser exibidas 
        em salas comerciais como há muito se tenta fazer com o curta-metragem? 
      CR: Eu não 
        vejo porque não. Uma coisa legal nesses últimos anos no 
        Brasil foi o surgimento desses circuitos alternativos que não deixam 
        de ser circuitos comerciais. Se você pensar no Grupo Estação, 
        ou no Ademar, são circuitos alternativos muito ligados a cultura 
        cinematográfica. É possível sim, aproveitando o próprio 
        circuito montado, o Ademar tem cinemas em muitos lugares, ele tem um circuito 
        quase nacional organizado. E eu tenho certeza que o Ademar aceitaria organizar 
        programas que possam ser exibidos nacionalmente. Uma das coisas do projeto 
        dos estagiários da Cinemateca em SP é um programa de filmes 
        restaurados... Eu odeio essa coisa de "filmes restaurados", não 
        é nenhum gênero cinematográfico, pelo fato de ter 
        sido restaurado não significa nada, a gente tem que juntar esses 
        filmes em catálogos, contextualizar.  
      F: A representatividade 
        do filme está além do fato dele ter sido restaurado... 
      CR: Claro, por que 
        senão... Qual é a importância exatamente de ser um 
        "filme restaurado"?... É você juntar um bando de pessoas 
        que ficam babando: "ah, restaurado, ah, restaurado!..." (risos)  
      F: O fetiche... 
      CR: Fetiche não! 
        A gente não tem tempo pra fetiche!...(risos) Surgiu a idéia 
        lá em Marrocos de se fazer em breve uma mostra retrospectiva do 
        cinema da América Latina e distribuir primeiro aqui mesmo, e depois 
        para fora da América – mas ainda é preciso fechar um projeto. 
         
      F: Qual a importância 
        da relação das cinematecas com os pesquisadores no sentido 
        de se buscar essas referências de cinema e de se descobrir novos 
        filmes ainda pouco vistos, observados ? O pesquisador tem tido espaço 
        dentro das cinematecas, é preciso criar mais espaço para 
        esse tipo de trabalho? 
      CR: Acho que é 
        preciso criar mais espaços e mais informação. A ser 
        não os mais antigos, os pesquisadores não têm idéia 
        do tamanho dos acervos, do tanto de informação disponível. 
        A Olga (Futema) está desenvolvendo esse trabalho com o Banco de 
        Dados do Cinema Nacional e acho que vai conseguir lançar um pouco 
        de luz sobre esses acervos e aí, incentivar e chamar a atenção 
        dos pesquisadores. Uma das funções da difusão será 
        justamente chamar a tenção para aquilo que pouco se conhece. 
        Inclusive a articulação com os meios acadêmicos deve 
        se fortalecer e abrir o leque de possibilidades de estudo no cinema brasileiro. 
        Senão você fica sempre fazendo Glauber Rocha, Cinema Novo, 
        e perde as diversas possibilidades de pesquisa no cinema nacional. Aliás, 
        outra coisa importante é ampliar essas relações com 
        os pesquisadores de outras áreas como a História, a Literatura, 
        as ciências... Em outras faculdades e cinematecas internacionais, 
        essa relação é muito mais próxima. 
      F: Sobre as escolas 
        brasileiras de cinema, como tem se dado a relação entre 
        os acervos dessas faculdades e as cinematecas – essas obras têm 
        chegado à Cinemateca Brasileira? 
      CR: Eu tenho contato 
        com a ECA, que aliás, depois do incêndio, está levando 
        as matrizes para a Cinemateca...coisa que eu vinha pedindo há muito 
        tempo. Sobre a UFF, há algum tempo atrás, recebi um e-mail 
        de uma menina de lá, a Ines, querendo conversar sobre o estado 
        de alguns filmes da faculdade... Acho que são, efetivamente, os 
        únicos lugares com que tenho contato. Aliás, uma das idéias 
        do censo cinematográfico é justamente fazer o levantamento 
        desses acervos dos núcleos de produção universitária. 
      M: E quanto à 
        área de educação – você acha que cabe às 
        faculdades de cinema o ensino da Preservação e Restauração 
        de filmes ? Ou caberia mais às cinematecas? 
      CR: Eu acho que tem 
        de haver a participação de todos – o que der certo, deu. 
        Acho muito boa a iniciativa da UFF e do Hernani (Heffner) de promover 
        uma cadeira de Preservação e Restauração na 
        graduação de cinema, mas acho que as cinematecas devem também 
        investir nesse trabalho. Acho que é preciso começar a organizar 
        seminários, workshops. Achei ótima a iniciativa do Hernani 
        de levar vocês para São Paulo para conhecer os laboratórios 
        de lá. (pausa) Outra coisa que está acontecendo são 
        os três manuais da Cinemateca: um de manuseio de filmes, um mais 
        geral de preservação e um de catalogação., 
        para que se possa distribuir para o país inteiro. É um jeito 
        de instruir e chamar a atenção para a importância 
        do assunto e facilitar a descoberta de pessoas interessadas no assunto, 
        para a Cinemateca dar o apoio necessário, aulas, worshops...sem 
        esquecer das enroladeiras (risos). Acho que já está aumentando 
        bastante a procura por esse tipo de informação, por parte 
        de gente ligada à fotografia e interessada em trabalhar com essa 
        área mais técnica mesmo...o nível de resposta tem 
        sido muito fraco, tanto da Cinemateca, quanto das universidades. Eu estou 
        muito de olho numa experiência que a escola de cinema de Cuba está 
        tentando implantar ano que vem, que é um dos cursos da escola, 
        seria um curso de Preservação. A idéia é chamar 
        gente de toda a América Latina e fazer um curso de 2 anos. Estou 
        de olho para ver se vão conseguir mesmo implantar, formar...É 
        uma coisa em que devemos ficar de olho. Uma das coisas que discuti com 
        o Reinaldo Gonzáles, que é da cinemateca de Cuba, uma coisa 
        de quê discordei, é que eles queriam fazer um curso somente 
        de formação técnica... Aí eu disse: "aí 
        não pode...". Você não pode formar gente sem conhecimento 
        da história do cinema, do conteúdo que está sendo 
        processado...aí eles deram um ligeira mudada no currículo. 
         
      F: Seria possível 
        pensar num cronograma de ações ou de resultados dentro do 
        panorama da preservação de filmes no país ? Sejam 
        os resultados do censo, sejam esses possíveis projetos de difusão? 
      CR: Acho que tudo 
        vai se encaminhar até Agosto de 2002. Depois é preparar 
        a fase 2 para Setembro e buscar o apoio do governo e da própria 
        sociedade brasileira. Até determinado ponto nós podemos 
        fazer alguma coisa,mas sozinhos nós não vamos conseguir 
        fazer... Até lá poderemos dizer: "Olha, o panorama é 
        esse e as necessidades são essas..." As outras etapas como a de 
        educação devem esperar e estão se encaminhando mesmo 
        que informalmente... Agora, o trabalho de difusão é uma 
        etapa que deve começar logo. 
      F: Até como 
        forma de chamar atenção para o problema. 
      CR: É claro... 
        Resta saber que tipo de resposta a sociedade brasileira será capaz 
        de nos dar... 
      Entrevista realizada 
        por Felipe Bragança e Marina Meliande 
        
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