Tremendo Diante de Deus,
de Sandi Simcha Dubowski


Trembling Before G-d, Israel/EUA, 2001

Há um problema grave neste filme: uma vez entendida sua premissa básica (os gays não são aceitos pelo judaísmo ortodoxo), há pouco chão a percorrer no que concerne desenvolvimento narrativo. Porque os judeus não vão mudar suas crenças, nem os gays, na maioria das vezes, as suas. Assim, estamos fadados a uma hora e meia de depoimentos pessoais repetindo mais ou menos a mesma idéia: ser gay e judeu é difícil.

Claro, não se está dizendo que não seja uma realidade importantíssima de ser apresentada, nem que não dê o que falar. Mas, pelo menos no formato que seu diretor conseguiu montar, o que fica claro é o seguinte: não havia assunto para mais que um média, possivelmente um curta.

É verdade que ele ainda consegue alguns momentos pungentes, especialmente naqueles que ele perde o controle da narrativa, como quando da intromissão de um passante na rua. Mas, talvez o maior problema seja este: há muito pouco espaço para o improviso ou a descoberta. Trata-se de um filme de discurso pré-pronto, o qual em sua realização ganhou muito pouco em novidade, em surpresa. Não há nada mais adorável do que ver um documentarista (e Frederick Wiseman talvez seja o maior neste ponto) ir perdendo controle do que havia previsto fazer, vendo seu assunto passando a dirigi-lo e não mais o contrário. Em Tremendo Diante de Deus não há espaço para isso. Há uma mensagem a ser passada (os judeus gays passam imensas dificuldades), e nada impedirá o diretor de chegar ao fim disto. Quem paga o preço é o espectador, que precisa acompanhá-lo numa entediante e longa viagem, cujos ocasionais pontos de parada interessantes na estrada não compensam pela paisagem monótona que no geral domina a travessia.

Eduardo Valente