"Publicar
aquilo que nos interessa"
Entrevista com Charles
Tesson, redator-chefe
dos Cahiers du Cinéma 07/10/2001
Completando 50 anos
de idade, os Cahiers du Cinéma são objeto de uma homenagem
pelo Festival do Rio BR 2001. Para celebrar o aniversário da mais
importante revista de cinema de todos os tempos, Edgardo Cozarinsky, escritor
e realizador (o excelente Cidadão Langlois), realizou um
filme sobre a revista. Para apresentá-lo e representar a revista
na homenagem, o Festival trouxe Charles Tesson, crítico desde o
final dos anos 70 e atual redator-chefe da revista. Tesson foi o responsável
por dar uma nova guinada aos Cahiers du Cinéma em seu cinqüentenário
e recolocar a revista como centro forte de debates intelectuais (não
somente sobre cinema) na França. Na "nova fórmula"
da revista, algumas sessões foram criadas e algumas outras recuperadas
da história da revista. Além da sessão de críticas,
constante desde quase sempre (a única exceção é
a da época militante, que suprimiu as críticas dos lançamentos),
os Cahiers de hoje apresentam a sessão "Evénement",
onde um acontecimento importante no mês (um filme, um tema, um acontecimento
de fato) recebe forte atenção por parte da redação;
"Le Cinéma Retrouvé", para falar da história
do cinema; "Répliques", para os textos maiores e mais
analíticos; retomando uma tradição dos anos 80, eles
reeditam o "Journal des Cahiers", uma espécie de revista
dentro da revista onde inúmeros temas são tratados, de notícias
da atualidade até ensaios sobre cinemas de outros países;
além do famoso "Conseil des Dix", quadro de estrelinhas
ao fim da revista, muito famoso nos anos 50 e 60, que é reeditado
tal qual, com alguns redatores dos Cahiers e outros críticos de
outros jornais e periódicos.
* *
*
RG: Cahiers du Cinéma,
50 anos... há um peso do nome, há o peso da tradição.
Como é conjugar essa tradição da revista com o cinema
que muda diariamente, com as novas tecnologias, com o novo estatuto de
todo o audiovisual, com o digital, as imagens de síntese, os videogames?
CT: Há tudo
isso que você disse no cinema futuro, ou seja, o digital, os jogos
de videogame, mas da parte da tradição dos Cahiers, há
algumas regras e princípios que são instrumentos de pensamento
que não foram necessariamente concebidos por esses novos objetos
de que você fala, mas que são sempre válidos hoje.
A primeira coisa é que há certos princípios que fazem
com que os Cahiers sejam os Cahiers e não outra revista qualquer.
Inicialmente, os Cahiers jamais se interessaram unicamente pelo cinema,
ou pelo cinema como a especificidade técnica, econômica,
até artística. Os Cahiers se interessam em tudo que diz
respeito à imagem, diria Bazin já no começo. Logo,
podemos nos interessar pela televisão, podemos realizar uma edição
sobre os acontecimentos de Nova York, porque não é a forma
cinematográfica, o filme enquanto filme em seus termos econômicos,
etc., que nos interessa primeiramente, aprendemos isso muito cedo com
Bazin. A força de André Bazin, mesmo se não vivemos
as coisas da mesma forma elas ainda dizem respeito aos Cahiers hoje, é
que o fato que uma imagem exista como um registro da realidade faz com
que não percebamos a realidade da mesma forma. E isso é
uma coisa apontada rapidamente por Bazin, você sabe tanto quanto
eu, que faz com que a relação com o cinema é determinada
por essa verdade, o que faz com que nos interessemos por coisas que estão
"fora" do cinema. E isso é uma coisa que faz com que, depois de
Bazin e seu cinema impuro, os jogos de videogame não são
cinema, mas percebe-se que nos projetos de videogame há referências
cinematográficas, que o relato dos filmes americanos, a maneira
de avançar a história é influenciada pelos videogames.
Então, essa noção de impureza, de não-especificidade
do cinema enquanto tal é alguma coisa que nos permite imediatamente
acolher todas as formas. Outra coisa que seguimos como regra, é
que os Cahiers rapidamente, em relação à política
dos autores, ou seja, a mise-en-scène é o estilo. É
a mise-en-scène que faz a diferença, não é
o roteiro, não é a mensagem. Como dizia Chabrol: "não
há grandes ou pequenos temas, há grandes e pequenos filmes".
Ou seja, não é porque há um tema nobre que vai necessariamente
haver um grande filme. Os Cahiers desconfiaram, por exemplo, de Fellini,
mas dizer que desde que haja um universo visionário, isso é
um autor. Não. E não é porque se adapta um livro
importante que se faz uma grande obra cinematográfica. Logo, há
o gosto por uma forma trivial, popular, série "b", que faz com
que internamente os Cahiers não defenderam uma idéia "cultural"
e nobre do cinema, mas também uma idéia popular e trivial.
Isso foi algo percebido muito cedo, e que nos ajuda hoje a notar que o
cinema se renova muito pela base, pela indústria e pelos assuntos
industriais: a tecnologia digital, os videogames, e é por aí
que o cinema se mexe e muda. Porque é uma concepção
de cinema que não é fechada em torno do cinema, mas aberta
o suficiente para ver o que se passa ao lado dele.
RG: Nós observamos
não só uma abertura aos jogos de videogame e nas tecnologias
digitais, mas aos jogos de videogame especificamente no cinema,
como no caso de Lara Croft ou Final Fantasy. Vocês
dedicaram uma edição especial inteira às "fronteiras
do cinema".
CT: Eu dirigi essa
edição porque eu achava que era importante falar dessas
coisas, dos filmes feitos na internet, videogames... Eu escrevo sobre
os games porque observa-se muito a influência do cinema. No jogo
Lara Croft, não no filme, temos um mundo extremamente lento,
ela que, aparecendo sempre de costas, caminha, toma os espaços,
ataca alguém. Logo, uma experiência do espaço e do
tempo que é mais próxima do cinema clássico do que
o cinema americano hoje que, decupado demais, faz com que não haja
mais nos filmes de ação uma sensação de um
espaço com três dimensões e de um tempo. Mas Final
Fantasy é outra coisa completamente diferente, pois há
momentos em que nos esquecemos que são personagens digitais, não
em todos os momentos, mas quando eu assisti ao filme, houve momentos em
que eu pensava ver um ator e eu esquecia que eram atores feitos por computador.
Em momentos, vemos que certos movimentos são cadenciados demais,
e a imagem não funciona. Mas o que é curioso num filme como
Final Fantasy é que é quase como Tron, um
filme de quase vinte anos. Bizarramente, o que se nota no filme é
que não há olhar. Do ponto de vista digital, os olhos são
muito bonitos, a pele, os cabelos, com movimentos magníficos, mas
em compensação o olhar não é, eles não
possuem olhar. Temos um personagem aqui e um outro aqui, mas é
como se eles não se vissem. Logo, não há espaço,
não há olhar, e todo o cinema é construído
em cima do olhar, do olhar dos personagens, do olhar sobre os personagens,
e isso faz com que o filme não funcione. O que é mais esquisito
e funciona melhor é o que já se faz há muito tempo:
Nova York destruída, o dragão em superimpressão,
muito bonito, mas no plano humano, há algo que não dá
certo.
RG: Vocês vêm
se abrindo, me parece, mais do que antes, à televisão, com
o "Journal des Cahiers". Sempre houve uma preocupação, desde
os anos 60, depois com Jean-Paul Fargier. Depois, a produção
parou, restando unicamente a coluna de Joël Magny, sobre filmes na
televisão. Com a volta do "Journal", me parece que vocês
sentiram novamente a necessidade de falar da televisão, da sitcom
como a nova substituta dos filmes B americanos...
CT:... e da comédia
americana...
RG: ... e também
tratando temas que o cinema já tratou antes e abandonou.
CT: É verdade.
Sobre a televisão, os Cahiers falam desde os anos 50, de fato.
André Bazin se interessava muito pela televisão mais pelo
lado pedagógico e pela educação do público.
Ele acreditava na televisão, no início, como uma espécie
de missão, pois ele era muito assim, é preciso ser crítico,
é preciso fazer amar os filmes para elevar e formar o público.
Ele era muito educador, Bazin. E ele acreditava que a televisão
ao vivo era o acesso ao saber. Éric Rohmer trabalhou muito para
a televisão...
RG: Rosellini também...
CT: Rossellini, certo,
e Rohmer para a televisão escolar, fez muitas coisas. Isso remonta
àquela época. Sobre a televisão, nós falamos
também sobre os esportes, o que nos interessava era o fenômeno
do "ao vivo". Ou seja, no cinema nos vemos as imagens, mas é aquilo
que foi filmado antes e o tempo da imagem não é o mesmo,
é uma arte da morte... Você vê Robert Mitchum, você
vê John Wayne, você acredita que eles estão lá
quando o tempo deles já se foi. O ao vivo, a telepresença,
pelo fato de que aquilo que você vê na imagem é aquilo
que o corpo faz naquele momento muda completamente as coisas e isso é
muito importante. Sobre a televisão nos Cahiers, falamos sobre
as séries de TV americanas. É verdade que nós as
assistimos como víamos a séries "b" nos anos cinqüenta.
E depois houve Twilight Zone, Bonanza. E nós chegamos
agora a um estado mais serrado porque a televisão copiou o cinema,
e como a sitcom tornou-se um tal fenômeno, agora é o cinema
que se dispõe a copiar a série televisiva americana. O "Journal
des Cahiers", quando era feito nos anos 80 foi feito para observar como
- aí também é como eu dizia no início, os
Cahiers não se interessam pelo cinema como aquilo que "é
cinema" - o cinema é atravessado por muitas coisas, a realidade,
o mundo, pela televisão, por muitas correntes que o ultrapassam,
de modo que não podemos tratar de cinema se, por exemplo, não
vemos o futebol, ou se nos interessamos em ver hoje as sitcoms, os videogames
e ver aquilo que atravessa o cinema e ver como o cinema evolui assim.
RG: É muito
importante para nós, porque o Brasil é um país que
em termos de imagem é televisão pura...
CT: ...com as novelas?
RG: Sim, não
somente as novelas como a produção em geral da Rede Globo,
é a única difusora do Brasil inteiro. Os filmes brasileiros
só podem ser vistos nas capitais, Rio, São Paulo, Porto
Alegre, Recife, Salvador, mas nunca nas cidades menores. Aí, é
sempre a televisão. A gramática audiovisual brasileira é
a televisão.
CT: Eu não
conheço muito bem, mas é exportada quase mundialmente, não,
a forma gramática televisiva do Brasil? É exportada por
toda a América Latina, mas também em todas as televisões
do mundo. Há as séries americanas e há o Brasil,
que é um dos grandes fornecedores de audiovisual de televisão,
não?
RG: Sim.
CT: Vocês se
interessam por isso, vocês escrevem sobre essas coisas?
RG: Sim, nós
tentamos. Há mesmo uma certa forma de ser esnobe com isso, e tentamos
não sê-lo. Há grandes preconceitos, o cinema novo
elevou-se contra a chanchada... Eu entrevistei recentemente Nélson
Pereira dos Santos e ele diz lá que a novela é como a chanchada,
que se faz cinema contra isso. Progressivamente, Contracampo tenta entrar
no meio da televisão, porque achamos que não conseguimos
falar de cinema sem a televisão. Em termos econômicos, há
inclusive uma lei muito importante em debate que tenta fazer como na França,
onde 4% da receita audiovisual é revertida para o cinema nacional,
mas o "lobby" das cadeias de televisão é forte demais, e
parece que nada irá acontecer.
CT: É uma pena.
RG: Os Cahiers foram
muito criticados pela nova fórmula da revista e pela compra pelo
grupo Le Monde, por certas mudanças, como o "Conselho dos Dez",
a diminuição do tamanho das críticas, as crescentes
páginas dedicadas à publicidade...
CT: De fato, a nova
fórmula dos Cahiers foi feita há um ano. Quando o Le Monde
chegou, os Cahiers du Cinéma estavam numa grande dificuldade financeira,
e um de nossos sócios proprietários queria largar os Cahiers
e parar. Então, o Le Monde chegou num momento em que precisávamos
de um sócio, de dinheiro para relançar a revista que estava
em crise ou, em todo caso, frágil na medida que havia perdido uma
média de 30 a 40% de seus leitores, isso em coisa de dez anos,
o que é muita coisa. Quando o grupo Le Monde aceitou comprar os
Cahiers, eles tinham em mente não apenas sustentar a revista mas
relançá-la, através de uma reforma. mas essa reforma
fomos nós mesmos que a fizemos. É verdade que há
muita publicidade, mas eu acho preferível, antes de ter que vender
a revista a 50.000 pessoas, eu prefiro vendê-la a 35.000 com as
publicidades e fazer tudo que eu quero editorialmente. Antes de mudar
de cenário e ter que vender para 50.000, o que me parece difícil
na França, prefiro ter as publicidades, que trazem dinheiro. Há
mais autonomia, digamos, nesse caminho. Mas, ao mesmo tempo, as publicidades
chegam num momento onde os Cahiers se tornaram uma revista um pouco confidencial
na medida em que o debate crítico na França - há
os jornais diários, há o Libération, há outras
revistas - e os Cahiers são um pouco a revista de referência
graças ao passado prestigioso, mas não é uma revista
que estava no centro dos debates críticos e polêmicos. Nós
refletimos muito nisso, e a revista que você vê, conhece,
ela toma partidos algo radicais. Como você notou, as críticas
têm menos importância em termos de espaço, mas em compensação
falamos de todos os filmes da atualidade, eles compõem o corpo
da revista. É uma escolha, pois há cada vez mais filmes
sendo lançados, e ao invés de aumentar o número de
páginas para falar dos filmes, diminuímos. Porque temos
o sentimento que os Cahiers não devem somente submeter-se às
atualidades midiáticas - nós devemos tratá-las, porque
o leitor dos Cahiers espera isso da revista, esse papel de prescritor,
um papal de guia para o leitor, é preciso desempenhá-lo
e nós o assumimos -, mas ao mesmo tempo, nós sentimos que
os Cahiers serão melhores à medida que propormos aquilo
que são as atualidades para nós, aquilo que não se
pode encontrar em outro lugar. Na França, quando um filme sai,
temos a entrevista com o ator, com a atriz, você os vê na
televisão, nos jornais diários, nas revistas, em qualquer
lugar há sempre a mesma matéria no mesmo momento. Com a
nova fórmula, não temos tanto o sentimento que se tinha
antes, que eram os "Cahiers des films", mas os Cahiers du Cinema, que
fala também de filmes, mas que uma revista como os Cahiers deve
compreender todos os aspectos do cinema, e até além do cinema
- a política, as atualidades, a televisão. O processo Barbie
na televisão, nos o tratamos. Na nova edição procuramos
os arquivos da Guerra da Argélia, nós tentamos nos interessar
pelo cinema além de uma espécie de atualidade midiática.
E eu acho que isso vem funcionando, porque os Cahiers tinham o defeito
de ser um pouco do lado "moda intelectual parisiense", ou esnobes, como
você disse antes. E eu acho que os Cahiers deixaram de lado erradamente
algumas coisas no passado. Perderam o acontecimento na França do
cinema documentário, que foi muito importante nesses últimos
anos. Os Cahiers não deram nada porque talvez não foram
muito sensíveis ao que acontecia no mundo ao nível político.
E houve cineastas na França que se mobilizaram, acho que você
deve ter ouvido falar nisso, pelo trabalho dos imigrantes, os "sans-papier",
fizeram uma medida para mandá-los embora e os cineastas protestaram
contra ela. Logo, houve um engajamento político dos cineastas,
e todas essas coisas são efetivamente importantes, e a nova fórmula
não é perfeita, ela ainda tem muito ainda a melhorar, mas
ela permite encontrar de tudo um pouco do cinema: "Le Cinéma Retrouvé"(O
Cinema Redescoberto) para falar da história do cinema, "Evénement"(Acontecimento)
, "Répliques"(Réplicas) para os textos mais transversais.
O que não falamos antes é que em setembro e outubro há
muitos filmes muito bons saindo na França. Em três meses,
temos Straub, Oliveira, Rivette, Rohmer, todos os filmes, e temos que
fazer um número para falar de todos esses filmes. Depois, em fevereiro,
em março, em abril, antes de Cannes, não há nada.
Então, fazer de filmes médios o acontecimento do mês
porque não há nada mais é ridículo. Então,
o que é preciso fazer é: se não existem filmes importantes
saindo nesse mês, não importa, faremos alguma outra coisa
importante no Acontecimento. Ou fazer uma entrevista com um cineasta que
não faz filmes há 5 anos, como fizemos com Maurice Pialat,
porque tínhamos vontade de encontrá-lo. Nos interessa o
cinema redescoberto, Fuller e outros, e faremos uma edição
mesmo que os filmes que estréiam sejam fracos. Assim, nós
não somos tão dependentes dos lançamentos de filmes,
sem estar sobre a pressão da qualidade dos filmes.
RG: Eu queria retomar
uma coisa que você tinha dito antes, sobre a diferença dos
Cahiers para as outras revistas, a convicção que o cinema
é o mundo, e que há um laço que une os dois – que
é uma convicção baziniana, rivettiana também,
pois os textos mais importantes publicados nos Cahiers sobre essa relação
são de Rivette, "Da abjeção", "Carta sobre Rossellini".
Como essa relação com o cinema é diferente, vocês
sentem a necessidade de ir de encontro a pensadores, filósofos,
como vocês fizeram com Foucault, Deleuze, Derrida...
CT: Com Derrida nós
fizemos uma entrevista, não faz muito tempo, mas os Cahiers nunca
foram derridianos. É um filósofo muito popular nos Estados
Unidos, mas não muito na França. Através do André
Bazin, os Cahiers foram muito fenomenologistas, de fato. O pensamento
baziniano de cinema deve muito à fenomenologia, de Husserl, de
Merleau-Ponty, A Fenomenologia da percepção. Há
um próprio fundo fenomenológico próprio aos Cahiers
desse período. Mas quando você fala da relação
de Bazin do cinema com o mundo, eu diria que há mais que isso:
o que dava gargalhadas a outras revistas, é que nós defendíamos
Bresson, Dreyer, por exemplo. Enquanto revistas como a Positif, que dizia:
"nós somos surrealistas, somos anticlericais, rimos de Dreyer e
isso tudo". Eu acredito que os Cahiers defendendo-o tocaram uma verdade
do cinema, e essa verdade é da ordem da crença. Ou seja,
ver um filme é crer naquilo que se vê, e que sem a relação
à crença, a relação à ficção
o prazer do cinema não existe. E isso é uma coisa de fundamental,
a crença, não da ordem do saber mas da crença. Sobre
a questão da filosofia, ela é importante para os Cahiers,
desde Bazin. Os Cahiers sempre viveram sob contradições,
sempre se contradisseram sem encontrar a verdade, e é por isso
que eu acredito que ela é uma revista viva, são hoje e eu
espero que sejam por mais muito tempo. Reclamam dos Cahiers, "Ah, mas
eles mudam o tempo todo, eles foram pró-Hollywood, pró-cinemas
novos, cinema clássico com Rohmer, modernidade com Rivette, pela
política de extrema esquerda, pela cinefilia". Mas há acima
de tudo duas contradições nos Cahiers e que são fundamentais
à revista e jamais poderão ser resolvidas. Podemos pensar
o cinema com o cinema? Ou seja, sendo cinéfilos amamos o cinema
e sendo cinéfilos podemos falar sobre o cinema porque não
amamos nada além do cinema? Ou, para pensar o cinema, precisamos
procurá-lo na psicanálise, na história da arte, na
filosofia, em todas as ciências humanas. E quando você observa
a história dos Cahiers, há momentos efetivamente em que
nós apenas nos nutrimos de cinema, da cultura da cinefilia, e outros
em que procuramos em outro lugar, na história da arte, do maneirismo,
Deleuze, a relação para pensar o cinema. Os Cahiers não
têm uma verdade pronta, jamais pensamos que "o cinema é isso"
e não nos movimentamos mais. Nós procuramos, erramos, fazemos
marcha-a-ré, mas ao menos exploramos, é uma aventura, é
a aventura do pensamento que muda o tempo todo, aliás. Eu prefiro
as aventuras do pensamento ao terrorismo da verdade, "eu a detenho e passo
a gerá-la". Para mim, isso é o horror.
RG: ...É quase
uma morte...
CT: ...É uma
morte, certamente. É o saber universitário, de uma certa
forma, um saber já constituído. A forma dos Cahiers é
que nós sempre tivemos vontade de explorar e contradizer aquilo
que os outros tinham explorado.
RG: É um pouco
uma forma-Godard, que dão a identidade com a revista, porque Godard
é um cineasta que sempre ensaia fazer filmes e mostra esses ensaios.
CT: Sim. Ele é
um companheiro de percurso dos Cahiers du Cinéma, no sentido que
os Cahiers dialogaram com Rossellini, com Renoir. Com Rohmer também,
mas em 1968 a revista se desentendeu com ele e não falou mais dele.
Ele não gostava de 68, ele detesta o novo e o progresso. A ver
A Inglesa e o Duque, a idéia de que antes era melhor. Até
Truffaut, os Cahiers passaram sem ele por muito tempo, só retornando
à época de O Último Metrô. O único
que os Cahiers continuaram a se interessar foi Godard. E é verdade
que, quando se observa a evolução de Godard: a nouvelle
vague, o sonho de Hollywood, O Desprezo, o engajamento político
de 68, o experimento Dziga Vertov, a televisão, o retorno ao cinema,
Isabelle Huppert e Salve-se Quem Puder (A Vida). Ao mesmo tempo
em que Godard faz Salve-se Quem Puder, os Cahiers fazem o "Petit
Journal" e retornam ao cinema como ele, Godard, retorna ao cinema. É
perturbador observar como os Cahiers estiveram síncrones com a
maneira de Godard de produzir. Quando os Cahiers eram uma pequena célula
radical, Godard estava em Grenoble, fazendo a Sonimage, etc., é
de fato surpreendente.
RG: Hoje me parece
que é a primeira vez que vocês não estão totalmente
de acordo com Godard, que redatores como Burdeau e você não
têm exatamente a mesma imagem de Godard...
CT: Como você
percebe isso?
RG: Eu acho que isso
aparece nos melhores da década, quando cada redator escolheu um
filme diferente de Godard... Nouvelle Vague, For Ever Mozart,
História(s) do Cinema... Pelas recepção dada
a Éloge de l'Amour, através das estrelas, sente-se
que os Cahiers não aceitam muito bem essa forma quase religiosa
da imagem do último Godard.
CT: Sim, sim... É
verdade que isso mudou. Houve uma época em que se alguém
dissesse que não gostava de Godard, ele não escreveria mais
nos Cahiers. Era quase uma blasfêmia. (risos) Hoje, isso mudou muito.
Inclusive em relação com Straub, mesmo que gostemos muito
de seu trabalho. Sente-se que agora Godard intimida menos, que podemos
notar que ele repete seus filmes, seus filmes não têm mais
a força de antes, mesmo que eu ainda ache seus filmes muito muito
fortes. Mas não há mais essa pressão do autor independente,
pois os Cahiers foram assim uma época. Quando Renoir era atacado,
eles defendiam Renoir. Ao mesmo tempo, Godard é respeitado e reconhecido
por todos. Com Straub é diferente, ele não é visto
nas mesmas condições. É verdade que a questão
dos Cahiers é que há vinte anos lutávamos para defender
Oliveira com Francisca, e hoje Vou Para Casa, com Michel
Piccoli, é um grande sucesso. Mas foram necessários vinte
anos para impor um cineasta e defendê-lo junto à crítica
e ao público. O que nos é interessante hoje é encontrar
o novo Oliveira ou o novo cineasta que precisa dos Cahiers hoje. É
isso que é interessante numa revista, é poder prospectar.
O sentido da política dos autores é isso, pegar um primeiro
filme... o filme de Jia Zhang-ke, por exemplo, um filme chinês chamado
Xiao Wu. Depois ele fez Platform.
RG: Platform passará
na Mostra de São Paulo...
CT: Veja pois é
excelente. Nós colocamos o primeiro filme dele na capa da revista,
e o que é interessante é nos persuadir que dentro de dez
anos, será um dos cineastas que vão contar. Podemos nos
enganar, claro, mas eu acredito que os Cahiers em seu passado não
se enganaram muito nos autores que elegeram.
RG: Há uma
mudança nos Cahiers dos anos 80 que é tentar visualizar
o cinema e o cinemundo, ou seja, sair da Europa, ver todos os filmes do
mundo, os filmes do terceiro mundo, China, Irã, América
Latina...
CT: É algo
muito importante a ser dito, pois inicialmente os Cahiers foram o cinema
hollywoodiano, o neo-realismo italiano, o cinema francês, e depois
os autores, ou seja, Dreyer, Bergman, os autores redescobertos. Começou
com os novos cinemas nos anos 60, e rapidamente a redação,
que era pró-Hollywood – não tanto quanto nos anos 50, mas
mesmo assim –, passou a se interessar majoritariamente pelos novos cinemas,
Straub, Oshima, Skolimovski, Rocha. E depois, os anos 70, que foram anos
militantes. O que mudou nos anos 80 é que nós passamos a
acreditar – e tomamos Serge Daney um pouco como um guia naquilo que ele
dizia – que é preciso viajar, que há cinema no mundo todo,
e é preciso ir onde ele acontece. Ou seja, quando um país
como a Índia faz 1100 filmes por ano, é preciso ir ver,
pois é impossível que entre 1100 filmes não exista
um que seja bom. Quando um país produz 100, 200 filmes, é
preciso ver o que se passa. É preciso saber que cinema se faz,
um cinema popular, comercial, por que as pessoas gostam desses filmes,
por que elas vêem esses filmes. E é verdade que essa curiosidade
deve-se muito aos Cahiers dos anos 80 em relação ao cinema
asiático, com Assayas indo a Hong Kong e contribuindo para fazer
as pessoas se interessar por esse cinema. O Irã logo depois...
Mas, de fato, foi importante cassar a hierarquia econômica, digamos,
cinema francês-cinema americano. Em Paris, existe a possibilidade
de ver todos os filmes, mesmo que com pouca bilheteria, ou em festivais,
mas o papel de uma revista é efetivamente o de prospectar em países
onde o trabalho não nos chega.
RG: Voltando ao cinema
americano, nós da Contracampo agora estamos nos envolvendo numa
luta contra um novo cinema americano do mal-estar e de cineastas que "sabem
demais" como Paul Thomas Anderson, e não só americanos,
como também um filme como Amores Perros... São filmes
que não nos interessam, porque nos parece que eles, mesmo que sejam
muito talentosos, trabalham com uma gramática de cinema de autor
que eles como que vestem...
CT: Sim, é
como uma vestimenta...
RG: Não é
algo que nos parece que esteja na pele deles... E tentamos falar de nossos
verdadeiros autores, Todd Haynes, Wes Anderson... Gostaria de saber como
você vê essa nova geração americana de Neil
LaBute, Todd Solondz, P.T. Anderson.
CT: Neil LaBute não
me agrada, Nurse Betty é um gênero de cinema um pouco
cínico e desabusado em relação a todos os códigos
e a tudo que possamos apontar. É um filme de cinéfilo cínico,
ou seja, supõe-se a cinefilia como algo já conhecido e tendo
do que zombar. Eu não gosto muito desse espírito.
RG: Jean-Marc Lalanne
usa a palavra "derrisório" para falar desse cinema, num artigo
que eu creio ser um dos mais importantes dos Cahiers dos últimos
tempos ("Le Titanic n'a pas seulement coulé"), onde ele
fala contra um filme que eu gosto muito, Starship Troopers, e a
favor de um filme que acho correto, mas que não gosto, que é
Titanic
CT: Eu também
não..
RG: ...Mas o argumento
dele é perfeito.
CT: Sim, em relação
ao fim da era cínica e o retorno a um gosto do clássico
no cinema. Só que efetivamente eu concordo com você, Titanic
não é um grande filme, mas ele apontou no filme uma espécie
de retorno à fatura clássica de superprodução,
como Ben-Hur, Cleópatra, mas sente-se que não é a
mesma coisa. Mas no cinema americano não há muita coisa
acontecendo, há Carpenter, há Abel Ferrara...
RG: Sempre defendemos
Carpenter. 'R Xmas passou aqui e só nós gostamos...
CT: É um filme
magnífico.
RG: Nós fomos
os únicos que achamos um grande filme, como com New Rose Hotel,
que todos acreditaram que havia acabado dinheiro e Ferrara colocou flashbacks
no final para que virasse um longa-metragem. (risos)
CT: Eu não
gosto muito de New Rose Hotel, mas acho 'R Xmas realmente
formidável, muito bem interpretado, um filme muito bom.
RG: Com todas essas
modificações, com as mudanças do cinema, quando um
autor muito importante como David Lynch utiliza a televisão para
fazer séries – Mulholland Drive foi idealizado como uma
série de TV –, como seguir a política dos autores no cinema
contemporâneo com todas essas aberturas?
CT: Eu não
acho que é a abertura audiovisual que renova o questionamento da
política dos autores. O problema da política dos autores
é mais grave e mais profundo. É o estatuto de autor hoje,
tal como ele é atribuído, pois falta força de exigência.
O que faz com que Lynch seja um autor – no sentido em que Fellini, antes
– ele tem um universo. Há esses personagens insólitos, característicos,
conhecemos de primeira o universo de Lynch. Crê-se que ele é
mais autor, por exemplo, que Carpenter. Eu não estou tão
certo que ele seja um autor maior que Carpenter, mesmo que Carpenter seja
um pouco feio, não seja um realizador tão bom. O que é
digno de questão hoje na política dos autores é a
pertinência do termo, que se diluiu, que faz com que ela não
tenha mais hoje muito sentido, e o que faz com que hoje, até nos
Cahiers, sejamos menos religiosos com a política dos autores. Além
de que, antes, havia um pouco de má fé ao tentar impor essa
noção. Bazin, por exemplo, era contra a política
dos autores. Ele acreditava que o importante era a obra e não o
culto da personalidade do autor, e ele tinha razão. Porque ele
apontou uma consagração midiática do autor como rei
que o incomodava. Para ele, o que importava era a obra. E a obra é
como a catedral, é algo que é feito por muitos. Mesmo como
Renoir, onde um filme é feito por diversas pessoas mas há
alguém que direciona, como num barco, e diz o caminho a ser tomado.
Todo mundo navega esse barco, mas ele vai numa direção só,
não em outra. O autor é aquele que faz mover o barco, mas
é talvez o produtor, ou no caso de La Chambre des Officiers
(filme francês de François Dupeyron) é o maquiador
o autor do filme. Como o termo se desviou um pouco – até nos Cahiers
–, por momentos assistimos a momentos em que se gosta muito de Wenders
e não de Tim Burton. E momentos em que falamos bem de um filme
de Jean-Daniel Pollet mas não de um outro, que não gostamos.
A questão do autor é pensada demais em relação
à obra e ao autor da obra, quando a questão do autor antes,
nos anos 50, era uma idéia do cinema, uma idéia política
do cinema. Ou seja, era dizer que num autor há uma maneira de fazer
cinema que era própria a esse cineasta. Me parece que a noção
de autor hoje diminui, e que hoje autor é aquele que tem uma obra,
um estilo, um tom identificável de primeira, mas que faz com que
essa maiúscula Autor seja autárquica, fechada no próprio
cineasta e não dialoga mais com o cinema. Quando, antes, a política
dos autores era uma maneira de política inteira do cinema. Já
que a política dos autores não é mais uma política
do cinema como tal, há autores que seguem, fazem filmes bons, outros
não. Os Cahiers estão um pouco nessa crise, dessa maneira.
RG: A palavra que
todos aprenderam foi "autor"...
CT: Algo como uma
teoria do autor é um contra-senso, não?
RG: Sim, é
como diz Godard, a palavra que contra em "política dos autores"
é a política.
CT: É verdade.
Uma coisa a se dizer ainda é que não havia questão
em declarar Renoir nem Eisenstein como autores. Mas não havia motivo
nenhum para declará-los porque todos já estavam de acordo
que eram autores. Com Hitchcock e Hawks ninguém estava de acordo.
É procurar lá onde ninguém vê nada, é
esse o gesto de olhar. Hoje os autores são evidentes. Kiarostami
é um autor, é evidente, Oliveira também. O equivalente
à política dos autores é o que faz alguém
como Skorecki (Luis Skorecki, ex-redator dos Cahiers, que assina a página
de filmes do Le Monde), que fala que a política dos autores é
procurar bons artesãos dentro do sistema, dos estúdios.
Logo, o sistema são as televisões americanas e os autores
são aqueles que trabalham nas séries de TV, e aquele que
filma Friends ou Sex And The City é melhor que aquele
que filma Seinfeld ou um outro. Eu compreendo até aí
como um paradoxo, mas se permanecemos fiel ao espírito, é
nisso que devemos pesquisar. Quem é o melhor autor de videogames
hoje, coisas assim.
RG: Voltando um pouco
à filosofia hoje na revista. Vocês tem um redator que fala
disso (Thierry Jousse) e um escritor do terreno de história e de
filosofia que é Jacques Rancière, que tem uma coluna na
revista. Qual você acredita que seja o papel da filosofia e do pensamento
na reflexão sobre o cinema hoje?
CT: Bom, eu dou cursos
na universidade também, mas creio que nos Cahiers eu tenho vontade
de falar do cinema com o cinema, nesse momento ao menos, já era
a minha posição pessoal e ela não mudou. Jacques
Rancière tem uma filosofia particular, porque ele se formou com
Althusser, com o marxismo, e ele tem uma visão estética
e política muito demarcada, que lhe é própria, que
confirma muito seu grau de análise do cinema. São caminhos
analíticos, não são caminhos de prospecção
ou de intuição. Ele tem um texto que analisa a idéia
de política dos autores através da idéia romântica
de obra, do autor. A partir de 1968, não há mais autor,
então é o texto, a obra. Ele analisa muito bem como essas
coisas se fundem. Outra coisa que foi muito importante nos Cahiers. Inicialmente,
os Cahiers não eram muito deleuzianos, só fomos nos influenciar
por Deleuze tarde. Porque os Cahiers eram antes de tudo lacanianos. Se
há um pensador que marcou os Cahiers, foi Lacan. Um pouco Althusser,
mas não por muito tempo, e Lacan por muito tempo. E como Deleuze,
junto com Guattari, detestava Lacan, e todo o pensamento deleuziano, o
Anti-Édipo era contra a reinterpretação lacaniana
da obra de Freud. Logo, os Cahiers não dialogavam com Deleuze,
porque o rizomático e todas essas noções deleuzianas
iam de encontro ao gosto lacaniano dos Cahiers. Hoje, é na universidade
francesa de cinema que o debate em torno de Deleuze é mais vivo,
na filosofia também, bastante, vê-se pelos trabalhos dos
alunos nos cursos sobre Deleuze, em Estética também, cada
vez mais... O curso de Estética hoje é a cadeira mais procurada
de filosofia na universidade de cinema.
RG: Uma última
pergunta: o livro de Antoine de Baecque sobre os Cahiers (Histoire d'une
Revue) termina em 1981. Na sua opinião, quais são as principais
mudanças desse período para cá?
CT: No fim do livro,
ele já aponta para coisas que já se insinuavam e se confirmaram.
Sobretudo pelo que diz respeito à conciliação com
o cinema americano, o que faz com que os anos 80 se pareçam muito
com os anos 50 da revista. Uma dupla que pautou a revista e que reconhecemos
atrasados, Coppola-Scorsese, depois Joe Dante, Carpenter, Cronenberg,
depois Burton. A América faz parte integrante da revista. Nós
encontramos novamente o espírito dos anos 50 nos anos 80. Outra
coisa importante é que a revista passou a se construir num duplo
centro de gravidade, como havíamos dito, cinema francês-Hollywood.
Agora, há o cinema asiático que desempenha um terceiro papel
essencial no pensamento do cinema, que é novo e que não
existia à época. A Ásia, em relação
às hipóteses de cinema que não víamos em outro
lugar, mudou muito a paisagem do cinema. Mas eu não penso que em
vinte anos a revista tenha mudado enormemente. Houve modificações
sensíveis – o "Journal", o cinema americano, a nova fórmula,
e continuamos mudando –, mas não são revoluções
tão radicais quanto os Cahiers sofreram no passado. Quando Rivette
tornou-se redator-chefe logo depois de Rohmer, com os Cahiers comandados
por Filipacchi, colocou-se em questão a política dos autores,
Hollywood, diziam que não era aquele cinema que os interessava,
que era o cinema moderno, os cinemas novos. Depois, a extrema esquerda,
a política. Aqui, eu creio que estamos num pensamento mais homogêneo
nos últimos anos. O mundo mudou mais que os Cahiers (risos).
RG: Eu tenho mais
uma questão que esqueci de perguntar antes. E os cahiersducinema.com?
O que vocês tentam fazer na edição on-line? Me parece
que o volume de textos diminuiu nos últimos tempos. Antes havia
mais material especialmente feito para o ".com", hoje vocês reutilizam
muito os textos da edição em papel.
CT: Nós não
queríamos fazer uma edição on-line dos Cahiers impressos,
mas uma coisa diferente. Quanto às críticas, fazemos porque
são os lançamentos. O material inédito é acima
de tudo sobre coisas como televisão, DVD, alguns assuntos originais,
entrevistas filmadas, sobre a história do cinema sempre tem alguma
coisa também... O site também prolonga debates sobre os
filmes, como fizemos no caso de In The Mood For Love, a favor e
contra. Mas os redatores são um pouco diferentes dos Cahiers, são
mais radicais em suas escolhas. Os Cahiersducinema.com são uma
revista de cinema mais no sentido literário do termo, ou seja,
eles escrevem sobre cinema, de forma exigente, mais radical. Enquanto
nos Cahiers escreve-se também, mas há um lado mais jornalista,
há mais enquetes, é uma forma de jornalismo cinematográfico
que me parece essencial.
(entrevista realizada
por Ruy Gardnier no cinema Odeon, no dia 7 de outubro de 2001)
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