Uma
Noite Com Sabrina Love,
de Alejandro Agresti
Una noche com Sabrina Love,
Argentina, 2000
Um jovem que mora
numa cidade longínqua de Buenos Aires sonha com o dia em que finalmente
terá sua primeira relação sexual. Ele trabalha numa
fábrica, mora com a avó depois da morte dos pais e vive
uma moderada vida de adolescente provinciano, sem grandes festas ou fortes
abalos emocionais. Seu imaginário sexual fica restrito a um programa
de televisão, de caráter excessivo e cores aberrantes, interpretado
pela bela Sabrina Love, uma atriz pornô. Uma promoção
é motivo para Daniel Montero escrever uma carta muito emocionada
e ser sorteado para passar uma noite em companhia de seu objeto sexual,
em Buenos Aires. Uma Noite com Sabrina Love é, então,
um relato de iniciação sexual e, como sempre nesse tipo
de filme, um convite à vida adulta, onde o personagem sai amadurecido
de todos os seus novos enfrentamentos e aparece ao fim pronto para a vida.
Só que Alejandro
Agresti é incapaz de lançar alguma novidade ou luz na vida
dos personagens que criou. Mesmo que haja um certo charme na busca do
jovem por sua deusa sexual ele tem pouquíssimo dinheiro,
e para ir para Buenos Aires precisa tomar um carro, um navio, mergulhar
num rio e nadar um bocado, etc. , o filme parece muito desconjuntado
em seu roteiro e em várias ocasiões o filme parece não
querer chegar a lugar algum. Exemplo: há uma subtrama que envolve
o irmão de Daniel, um homossexual que fugiu do convívio
com os pais com medo de enfrentá-los. Só que Daniel carrega
a notícia da morte dos pais, mas não consegue contá-la
ao irmão. Outra subtrama, que desenvolve o relacionamento amoroso
entre Daniel e uma apresentadora de televisão, mesmo que faça
menção à história principal (é o contraponto
de amor "real" ao amor fictício, sorteado de Sabrina
Love), é levada de forma tão esquemática e brutal
que não consegue seduzir o espectador em momento algum.
Resta a história
principal, a do encontro com a atriz pornô. No início, tudo
vai bem, eles têm uma noite adorável, e Daniel fica impressionado
com o mundo do sexo onde ele acaba de entrar. Depois, o desastre: ele
se embriaga e passa mal, o que ocasiona uma briga entre Sabrina e o irmão
atencioso, e finalmente o discurso óbvio da pureza quando Daniel
assiste a uma das filmagens de Sabrina Love. Ao final, a fabula de descoberta
do sexo acaba transformando-se num melodrama moralizante sobre o amor,
e toda a graça que o filme poderia ter é reduzida à
mão pesada de Agresti, que parece incapaz de compreender a força
do encontro que está filmando e reduz tudo à lei do óbvio,
dos clichês narrativos, fazendo um filme formalmente descuidado
e, o que é pior, sem vida.
Ruy Gardnier
|
|