Pusher,
de Nicolas Windign Refn


Pusher, Dinamarca, 1996

 

Refugo de Trainspotting com doses gratuitas de violência. Repetição de personagens clichês no cinema pop-marginal dos anos 90. Tentativa frustrada de criar uma atmosfera suja para os personagens: Pusher. Fuga de um certo tipo de estetização da violência que acaba caindo numa frustrada estética da sujeira-calculada em busca de um naturalismo tosco.

Uma sucessão de obviedades, permeada pela sucessão de erros que leva o personagem, Frank, a se perder numa acumulação de cenas de violência que primam pela crueza. Violência que funciona não como uma forma de observação crítica de uma realidade e de seus agentes. Pusher nada mais faz do que colorir sua narrativa medíocre com cenas de violência de espancamentos, tortura e violência sem significância... Tudo para tornar mais presente o caos da vida de Frank e suas peripécias em busca de dinheiro. Dinheiro para pagar dívidas com um traficante...Ai, ai...

Mas você acha que ele consegue isso fácil? Claro que não. E lá se vão 105 minutos de uma narrativa que alterna diálogos grosseiros e referências pop como tentativa de dar mais humanidade aos traficantes, dar mais identificação entre seus atos e a vida classe média de seu público alvo. Somado a isso, uma trilha sonora usada de forma grosseira que tenta tirar emoção de cenas totalmente inócuas... Falta sensibilidade ao diretor para trabalhar a violência urbana sem chegar apenas a uma mera mímese estupidificante.

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Algumas cenas extremamente mal aproveitadas no roteiro talvez apresentassem algo mais do que um espetáculo de pancadaria e diálogos sobre sexo: as cenas em que Frank tenta demonstrar amor por sua namorada (em meio ao caos de sua vida) e a cena em que Frank mata seu amigo de pancadas e insinua um choro contido... Cenas porém menosprezadas pela direção, montagem e roteiro que pareciam mesmo só se preocupar em continuar contando a parca historinha do traficante ferrado na vida...

Talvez com menos trama, menos objetivo clássico corrida-contra-o-tempo, o filme pudesse se deixar levar por seus personagens e suas respirações. Mas não. Prefere atropelá-los com cenas seqüenciais de gritaria e tiroteio. O personagem de Frank tem traços extremamente interessantes que são diluídos na frágil e repetitiva narrativa: o final "inesperado" é uma tentativa desesperada de , no último minuto do filme, fazer com que o espectador fique perplexo...

Mas, depois de uma hora e quarenta de traições e violências gratuitas, quem é que consegue ficar perplexo com alguma coisa?

Felipe Bragança