O
Túnel,
de Roland Suso Richter
Der tunnel, Alemanha,
2001
Este filme faz parte
daquela estirpe muito específica de "filmes históricos para
fazer com nos sintamos melhor com o heroísmo de alguns". Parece
excessivamente especializada? Pelo contrário, é uma das
mais comuns categorias, embora no geral o maior uso dela seja feito pelos
EUA (até por conta do custo das reconstituições históricas).
Pois bem, como temos visto de alguns anos para cá, os alemães
têm sido muito bem sucedidos no seu esforço de emular a produção
hollywoodiana. Sem julgar o que isso tenha de bom ou ruim, o inegável
é: eles conseguiram de novo. Ao reconstituir uma espetacular fuga
subterrânea da Alemanha Oriental em 1961, o filme possui uma estupenda
reconstituição de época, filmagem em cinemascope
e ritmo fluido. Possui, principalmente, o poder de domínio da platéia
em provocar suspense, lágrimas, sorrisos. Portanto, passa com louvor
no teste, especialmente no final com a fuga espetacular que nada deve
a nenhum dos melhores filmes do gênero.
É claro que
não é programa recomendado numa Mostra para aqueles que
buscam alguma novidade, seja de linguagem, de aproximação
ou de conteúdo. Mas, isso não é nem de perto o principal
para a maioria dos frequentadores. Portanto aos que gostem de tudo descrito
acima, fica a mais sincera recomendação: vão ao cinema,
que terão o ingresso de volta em entretenimento e emoção.
Já aos mais
exigentes, fica o aviso: além da maestria técnica e de linguagem,
o filme vem com tudo aquilo de pior do cinema hollywoodiano mais chinfrim:
final com direito a beijo na boca como se fosse mais importante que o
salvamento de vidas; créditos dizendo o que cada personagem fez
do resto de suas vidas; retrato sem meios tons dos comunistas como tremendos
filhadaputas; personagens completamente imaculados e quase sobre-humanos
no lado pelo qual devemos torcer; morte de um personagem como forma mais
fácil de solucionar um triângulo romântico; efeitos
dramáticos absolutamente "over"; e a clássica crítica
aos jornalistas pelo sensacionalismo da cobertura, enquanto as câmeras
do filme reprisam o mesmo olhar ávido pelo sofrimento. Num certo
momento um personagem até profere a frase que poderia ser chave
no filme: "Para quê fugir para o outro lado? Eles também
têm um muro lá que nos distanciará dos nossos queridos".
Claro que este personagem logo se revela um traidor, também com
essas idéias subversivas...
Então, o veredito
é este: desligado o senso crítico ou de realidade, o filme
é a maior diversão, talvez até resultando na decisão
de alguns espectadores de se sacrificarem daqui por diante para defender
o Bem (parafraseando Mr. Bush). Mantendo um olhar mais ranzinza, só
há mesmo o domínio de linguagem e alguns momentos esparsos
(como o plano do alto mostrando o muro que separa os dois amantes, uma
imagem bonita) para manter a atenção ao longo de 157 minutos.
Eduardo Valente
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