Adorável Rita,
de Jessica Hausner


Lovely Rita, Áustria/Alemanha, 2001

Contar a história da adolescência difícil e opressiva na Europa contemporânea não é nenhuma novidade. Adorável Rita aposta nessa linha e acerta em diversas passagens. O modo de filmagem recheada de zooms expressivos é muito bem articulado com a temática do filme. O dia-a-dia de Rita é contado acompanhando suas dificuldades na escola, na família, em seu amor ingênuo por um menino mais novo e em seu desejo por um homem mais velho. A protagonista tem aquele charme típico das meninas meio desajeitadas, tímidas e misteriosamente imprevisíveis.

Embora não apresente nenhuma novidade em sua primeira hora de projeção, Adorável Rita encaminhava-se bem como um momento, mesmo que apenas mais um, de reflexão sobre as vicissitudes das descobertas de uma adolescente. O problema do filme, porém, é justamente naquilo que ele tem de inesperado (quem não viu o filme, não leia).

Quando Rita mata seus pais a tiros secos, grande parte dos sentidos do filme se perdem. Ao invés de conseguir mostrar como uma menina triste pode se tornar uma assassina, o filme acaba acalmando espectador: aquela estranheza toda da personagem termina por demais explicada por seu ato extremo. Fica a sensação de que o filme era mesmo sobre uma pequena psicopata e não sobre uma menina perdida. O ato extremo do final que pretendia ser o motivo de perplexidade do filme, se perde bastante quando a menina mata com extrema frieza, sem qualquer sofrimento.

Um pena que Hausner tenha tentado dar um sentido mais fechado a seu filme. A abertura angustiante de seus acontecimentos anteriores é responsável pelos momentos de maior perplexidade do espectador. Os pequenos gestos irresponsáveis de Rita são muito mais interessantes do que seu ato final, exageradamente colocado ali para chocar.

Felipe Bragança