A Linha da Vida,
de Hsiao Ya-Chuan


Ming dai ahu zhu, Taiwan, 2001

Hsiao Ya-Chuan, assistente de Hou Hsiao-hsien no elogiado Flores de Xangai, faz sua estréia em longas metragem de maneira, no mínimo, decepcionante.

Ao contar a história de um jovem que perde as linhas da vida de sua mão, Hsiao acaba por cair em diversos estereótipos de seu cinema. Cacoetes de um cinema dito "oriental", principalmente de um cinema taiwanes em ascensão no mercado mundial. A narrativa lenta, calcada em não acontecimentos parece extremamente forçada e diluída em todo o filme. Ferramentas cinematográficas como os planos sequência, marca fortíssima do cinema de Hou Hsiao-hsien, são usados de forma gasta, sem vida diante da narrativa apresentada. Os planos do filme não falam pelas palavras, são incapazes.

Hsiao parece querer repetir os efeitos de um certo cinema, apenas repetindo-o como uma fórmula. Fica claro porém que, apesar de circular em torno de formatos e códigos de imagem recorrentes, o cinema de Hou Hsiao-hsien, ou de um Tsai Min-liang está muito além da repetição de uma fórmula ou método de filmagem. O encanto e a força desse cinema parte justamente da forma como seus autores se colocam diante de seus objetos – e cada filme trabalha de forma muito precisa para estabelecer com o espectador a atmosfera de sensações necessárias. Em A linha da vida, o que temos é um cinema automatizado, mesclado a algumas tentativas de modernização da narrativa que caem num vazio absoluto.

Um filme canastrão...

Canastrão por tentar se fazer passar (de forma autômata) por um cinema que ele não é. Seja por falta de experiência, seja por falta de uma postura consciente diante de suas imagens – A linha da Vida é um fraco retrato da juventude de Taipei. Repetitivo no tema das impressões digitais e palmares, o filme não consegue extrair das mesmas, nenhum sentido além dos, obviamente enumerados, signos do zodíaco (que aparecem como letreiros...)

Junte-se a isso as narrações off extremamente explicativas e superficialmente "profundas", e temos um belo exemplar de um cinema que quer ter aparência antes mesmo de buscar para si uma consciência. Um cinema tristemente estereotipado na tentativa de repetir questões, de repetir fórmulas... Um sinal de que é preciso saber separar o joio do trigo nessa massa de "cinema oriental" que o mercado ocidental vem absorvendo de forma esfomeada nos últimos anos. Tarefa ingrata para qualquer crítico, público ou cineasta, mas uma tarefa essencial para o fortalecimento de certas questões chaves do cinema contemporâneo. A Linha da Vida é um exercício pobre de cinema, em que o aprendiz, afobado, mal consegue plagiar seu o mestre.

Felipe Bragança